quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Padre Joãozinho, scj on novembro 11th, 2010

Conheci um padre descendente de italianos. Fala com as mãos e praticamente grita quando expressa suas idéias. Tem os sentimentos à flor da pele. Quem o conhece bem sabe que é uma pessoa de grandes valores e rara sensibilidade. Jamais deixou de atender ao chamado dos doentes, pobres e aflitos. Mas alguns que o conhecem pouco se assustam com seu jeito italiano de ser. O normal é pensarmos que todos estes defeitos e qualidades são exclisvamente responsabilidade da pessoa. Não é verdade. Há algo em nós que faz parte do ambiente onde fomos criados. Isto parece óbvio. Mas normalmente esquecemos este detalhe no momento em que nos relacionamos com as pessoas.
Chego mais uma vez na Itália e percebo que neste país todos falam alto, gesticulam, brigam escandalosamente no trânsito, falam palavras duras sem o menor problema e esquecem muito rápido tudo isso. Lembro do meu amigo padre e penso que é necessário refletir sobre a “personalidade corporativa”.
Tive um colega de seminário que tinha suas características pessoais. Coisas da vida. Passaram-se anos antes que eu tivesse a oportunidade de conhecer seus pais e irmãos. Quando vi aquela gente… entendi o meu colega com o qual a esta altura havia convivido quase 15 anos. Expressões típicas de seu vocabulário, o jeito de olhar, o ritmo dos passos, alguns valores típicos, tudo era fruto da sua cultura familiar. É claro que ele tinha suas características pessoais. Mas comecei a identificá-las melhor depois que consegui identificar sua personalidade corporativa.
O namoro é um tempo para conhecer estas origens da pessoa amada. A personalidade corporativa está em nós e nem a percebemos. É preciso namorar também com a família, com a cultura, com a religião, com a pátria daquela pessoa. Conheci um casal que ignorou este fato. Ele catarinense. Ela do nordeste. Casaram em um lugar neutro. Os dois eram migrantes. Casal feliz. Filhos. Netos. Começam os problemas. A personalidade corporativa não diminue de intensidade. Ao contrário, aumenta sua expressão com a idade. Cada vez ele se tornava mais catarinense e ela mais nordestina. A tragédia da incompatibilidade de gênios estava às portas.
Atendi um casal recém-casado que estava prestes a se separar. Namoraram alguns anos. Mas quando casaram começaram a ter cnflitos por coisas banais. Por exemplo, ele não entendia o fato de ela fechar a porta do banheiro. Ela simplesmente ficava bloqueada se a porta estivesse aberta. Para ele isto era quase uma traição. Para ela era falta de educação. De onde vieram estas duas percepções tão opostas? Da família. Cultura familiar. Eles nunca namoraram a família.
Meu pai contava que certa vez, após o casamento a esposa resolveu fazer uma feijoada. Ao final do almoço perguntou ao marido se ele havia gostado. Ele respondeu: - “Muito bom, só não está como a da minha mãe”. Ela ficou com muita raiva e caprichou ainda mais na próxima. Repetiu a pergunta e ele repetiu a mesma resposta. Depois de alguns anos ela com muita raiva, acabou queimando a feijoada. Naquele dia ele se adiantou: - “Hoje sim. Está como a da minha mãe!” Personalidade corporativa. Não esqueça.

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