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Sou professor há 10
anos. Descobri a vocação de educador no ano de 2000 quando fiz um curso de
Pedagogia. Antes porem, há uma longa a historia a ser contada. Sou de família
humilde, onde meu pai é agricultor e analfabeto. Este, teve que cuidar de uma
família de 9 irmãos, o qual eu tive a sorte de ser o primeiro. Nasci numa
localidade muito pobre, onde tivemos muitas dificuldades, mas que meu pai,
mesmo em meio às dificuldades, tentou fazer o melhor por nós.
De nosso pai e nossa
mãe, herdamos tudo o que somos hoje como pessoa: o caráter, a honestidade e a
coragem de trabalhar e o respeito a quem quer que seja. Esse legado nos
acompanha por onde passamos.
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Esc. do Estado/estrutura |
Quanto a nossa
educação, esta foi deficiente, principalmente para mim. Quando pequeno, estudei
numa escola que funcionava na casa de uma pessoa da localidade. Casa esta de
taipa. O banco onde nos sentávamos era uma linha de carnaúba colocada entre
duas forquilhas que seguravam o mesmo. A professora, mesmo que tivesse toda boa
vontade, pouco sabia para nos dar aprendizagem digna e que de fato nos desse
uma educação que viesse a mudar a historia de alguém. Entretanto, mesmo dentro
dessa realidade, aprendi a ler e a escrever a partir da 2ª série. Foram tempos
difíceis, para mim. Meu pai, por ser analfabeto, pouco lhe interessava o
estudo. Desde muito cedo tivemos que trabalhar na roça, visto que para meu pai,
como para a maioria das pessoas que moram no campo, estudo é para quem não tem
o que fazer. E o que fazer? Assim foi minha infância e pré-adolescência.
Cresci em meio a esta
dualidade entre estudo precário e trabalho. Outro fator marcante era que
tínhamos necessidades de quase tudo. Vivíamos como que sem muitas expectativas
de um futuro melhor. Mesmo assim continuei estudando pelo esforço de minha mãe,
que tinha apenas a 4ª série. Foi ela a responsável por tudo e pelo qual escrevo
este artigo.
Estudei até a 6ª serie
em minha localidade e depois fiquei fora da escola por dois anos, pois em minha
localidade não havia as séries seguintes. Nessa época não havia um carro
disponível para que pudéssemos nos deslocar para a sede do município para assim
poder continuar os estudos.
Depois de dois anos,
passei a morar e a trabalhar no comércio de um tio meu, isso em outro
município. Trabalhava das 6 da manhã às 18 horas e depois era que eu ia para a
escola. Depois de um dia inteiro de trabalho não é difícil você imaginar o que
poderia acontecer. Muitas vezes eu dormia na sala de aula de tão cansado.
Outras vezes tirava notas baixas por não ter tempo para o estudo. Alem do mais,
não tínhamos livros, qualquer meio pedagógico que não fosse um caderno e um
lápis para escrever tudo. Foram tempos
difíceis. Muitas vezes me perguntava: meu Deus, tenho que passar por tudo
isso? Mas continuava, pois algo me dizia
que era por meio daquele sofrimento que eu iria vencer e mudar minha visão de
mundo.
Depois de terminar o
ensino médio, continuei trabalhando nesse comercio, mas sem muitas
expectativas. Somente em 2002, depois de fazer um curso pedagógico, tomei
consciência de minha missão. De imediato senti que tinha a vocação para o
magistério. Finalizando o curso, logo passei a exercer a profissão.
Inicialmente lecionando para jovens e adultos e também a fazer o curso de
pedagogia. Lembro que fiz esse curso de Pedagogia com muitas dificuldades,
visto que era pago e o salário do professor na época era baixíssimo. Depois
disso tive que fazer vários outros cursos de formação para decentes e
aperfeiçoamento. De lá pra cá nuca mais parei de estudar. Hoje estou terminando
o curso de Bacharelado em Teologia e habilitação em História.
10 anos depois,
exercendo a profissão, já tenho certo conhecimento da realidade da educação, se
não do Brasil, mas da nossa realidade, posso dizer que conheço um pouco. Hoje
leciono as séries finais do Ensino Fundamental e três anos seguintes do Ensino Médio
e posso dizer que conheço de perto a realidade na qual nos encontramos.
Os governos ultimamente
tem tentado melhorar nossa educação, embora esteja muito a quem do que de fato
precisa melhorar, para que o Brasil saia dos patamares baixíssimos em relação a
outros países do mundo.
Poderia continuar
dissertando longamente sobre esse fato, mas vou ser breve e ao mesmo tempo
claro.
Em minha cidade
trabalho em escolas municipais e estaduais. Só na sede, em uma das escolas do
Estado, temos em tornos de 900 alunos distribuídos em salas de primeiro ao
terceiro ano do Ensino Médio. Estas
formadas em media por 35 a 40 alunos. A realidade dessas salas é quente,
escuras e a infraestrutura da escola deixa desejar em todos os sentidos.
Estamos no século XXI e a escola continua como se estivéssemos na metade do
século passado.
Outro fator que pesa é
que trabalhamos com a massa carente e desprovida do mínimo necessário. Falta
quase tudo a esses jovens. São alunos em sua maioria da classe mais baixa da
sociedade. Ainda há toda a problemática da família, das drogas, do desemprego.
Todas essas mazelas estão presentes dentro das nossas escolas. É realmente um
desafio para nossos tempos.
Dentro desse contexto,
os governos tem tentado melhorar essas instituições de ensino e haja vista que
já melhorou bastante. Temos quase todas as crianças e jovens dentro das
escolas. Sendo assim, o governo passou a cobrar resultados e a fazer
determinadas provas externas para averiguar como anda o desempenho da educação
no país.
Essas avaliações são válidas
e sabemos que quando se cobra há certa preocupação em melhorar os resultados. O
que não se entende é que, para que sejam feitas estas cobranças é necessário
oferecer também todas as condições para que assim se obtenha os resultados
esperados.
Quando estou em sala
ministrando minhas aulas, tento motivar, levantar o astral dos alunos, o que
tenho conseguido depois de muito esforço, arrancar um sorriso, uma prosa etc.
Graças a Deus durante todo esse tempo, não me arrependo de ter escolhido esta
profissão, mas a cada dia vou me frustrando diante da realidade com a qual me
deparo. Onde funciona a demagogia do governo em querer mostrar uma realidade
que não existe. Em determinadas circunstâncias fico chocado.
Nossos alunos entram
numa sala de aula as 13h00min e vão sair mais de 5 horas da tarde. Muitos
desses nossos meninos saem de suas casas ao meio dia e só retornarão depois das
6 da tarde. Muitos com uma refeição deficiente. Daí a importância de uma
refeição saudável nas escolas. Isso graças a Deus tem melhorado.
Diante de tudo isso,
ficamos cientes dos problemas que acontecem. Não são problemas pequenos, mas
reais e de difícil resolução, entretanto possível. Toda esta problemática citada
gera defasagem na aprendizagem. Sem falar do problema da evasão. Isso se dá
pela falta de horizonte, de perspectiva e estrutura que permita que estes
alunos possam sonhar, mas alem de sonhar começar a apalpar este sonho agora. E
a escola deveria ser o local onde se pudesse sentir esta possibilidade de
mudança.
Pensando em situações
como estas, voltei para minha historia. Eu também não tinha estas perspectivas
tão claras e nem poderia ter. Somente depois de muito tempo foi que esta luz se
ascendeu. Isso tudo porque me sentia abandonado pelo estado, aquele que poderia
me oferecer e me mostrar o caminho da oportunidade. Eu, entretanto, tive uma
base onde me apoiar e por isso no tempo certo despertei para vida. Agora
imagine que vivemos diante de inúmeros desafios, problemas de toda ordem. A
pergunta é: como resolvê-los? Muitas
vezes o que nós dizemos para nossos alunos na sala de aula, pouco ou nenhum
interesse tem para eles. Parece que estamos falando grego. Não veem no que
dizemos nada de interessante e não conseguem entender que essa realidade só
mudará por meio da educação.
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E.E.P/estrutura |
Aqui no Ceará o governo
tem tentado melhorar os índices educacionais. Para isso tem se esforçado e tem
desenvolvidos alguns projetos que tem como objetivo a melhoria na qualidade do
ensino. Um dos pontos importante tem sido construção de Escolas
Profissionalizantes. São em torno de 100 nestes últimos anos do Governo atual.
São escolas de alto nível, tanto em estrutura quanto na forma de funcionamento
pedagógico, ou seja, voltada para dar condições de aprendizagem para o
educando. É mais do que justo, mas, não se deve deixar de ver com bons olhos as
outras realidades, pois no mesmo lugar onde foi construída uma Escola de
Primeiro Mundo, digamos assim, tem outra escola do mesmo estado em situação de
precariedade.
Concordo que tenhamos
escolas de alto nível para aqueles que se destacam como os melhores, mas também
se faz necessário dar o que tem de melhor para os demais para que estes também sintam-se
valorizados alcancem melhores resultados.
Outro ponto a ser
pensado para os nossos dias e para os nossos desafios são as políticas de
inclusão social. Nossos jovens sentem-se abandonados à própria sorte. E, não
tendo em que se apegar e não vendo progresso a sua frente, acaba indo para outros
caminhos acabando de vez com seus sonhos.
Mas gostaria de
destacar outro ponto crucial. Todos os anos acontecem às avaliações externas. É
claro que numa escola militar, escola profissionalizante, onde são oferecidas
todas as condições para os alunos, podem-se exigir resultados, mas em outros
casos, não se pode exigir o mesmo. Porém, as cobranças são cada vez maiores.
Quem recebe a culpa é sempre o pobre professor, aquele que está na ponta do
iceberg. Não se leva em consideração tudo o que eu disse atrás.
Não se pode deixar de
analisar que esses profissionais recebem um salário miserável e as condições de
trabalho nem sempre são as melhores. É realmente de causar revolta. Esses
profissionais são desrespeitados tanto pelo governo quanto pela sociedade que
ainda não entendeu que sem eles a sociedade vira uma aldeia talvez pior do que
no tempo do homem das cavernas, rebelde e sem controle. Diante desta realidade
o profissional se desmotiva e vai levando do jeito que dá, como tem feito os
governos de todos os tempos. Sem falar que a profissão do professor tem se
tornado uma profissão de risco.
Gostaria de dedicar
este artigo a todos os meus colegas do Magistério que amam o que fazem, mas que
algumas vezes sentem-se frustrados pelo
descaso que fazem conosco e, acima de tudo, com o país, pois um país que não preza pela
educação estará sujeito ao fracasso.
Artigo escrito pelo Professor Valdeni cruz