sexta-feira, 5 de novembro de 2010

REGIME MILITAR NO BRASIL

Gostaria de postar um pouco de nossa história que nesse caso é bem doloroso. Vou postar alguns escritos sobre o período do Regime Militar vivenciado pela população brasileira, nos anos de 1964-1985. Esses foram os anos da vergonha de nosso país dos quais as pessoas de bom senso devem repudiar com todas as forças. Essa é uma mancha que ficará para sempre em nossa história. 
Primeiro o período em que cada governo do regime ficou no poder e as ações tomadas por eles de acordo com a necessidade de repressão exigida para por fim as liberdades democráticas. Em seguida, colocarei a explicação do que era esse regime e o que esse regime impunha como castigo para com aqueles que se posicionassem contra o sistema. Vou colocar aqui no blog um pouco da história de Frei Beto e Frei Tito. Esses dois sofreram a repressão do regime, sendo que Frei Tito foi barbaramente torturado a ponto de não voltar mais a ser quem ele era, chegando a tirar sua própria vida por não suportar os traumas psíquicos deixados pelos torturadores.

Ditadura Militar no Brasil 

Regime Militar de 1964, O golpe militar de 64, Governos Militares , Governo Castello Branco, Governo Costa e Silva, Governo da Junta Militar, Governo Médici, AI-5, Governo Geisel, Governo Figueiredo, Redemocratização, Lei da Anistia, Campanha das Diretas Já, Constituição de 1988.
Introdução 

Podemos definir a Ditadura Militar como sendo o período da política brasileira em que os militares governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a 1985. Caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o regime militar.

O golpe militar de 1964

A crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice de Jânio era João Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações sociais. Estudantes, organização populares e trabalhadores ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras como, por exemplo, os empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média. Todos temiam uma guinada do Brasil para o lado socialista. Vale lembrar, que neste período, o mundo vivia o auge da Guerra Fria.
Este estilo populista e de esquerda, chegou a gerar até mesmo preocupação nos EUA, que junto com as classes conservadoras brasileiras, temiam um golpe comunista.

Os partidos de oposição, como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD), acusavam Jango de estar planejando um golpe de esquerda e de ser o responsável pela carestia e pelo desabastecimento que o Brasil enfrentava.
No dia 13 de março de 1964, João Goulart realiza um grande comício na Central do Brasil ( Rio de Janeiro ), onde defende as Reformas de Base. Neste plano, Jango prometia mudanças radicais na estrutura agrária, econômica e educacional do país.

Seis dias depois, em 19 de março, os conservadores organizam uma manifestação contra as intenções de João Goulart. Foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo.

O clima de crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Paulo saem às ruas. Para evitar uma guerra civil, Jango deixa o país refugiando-se no Uruguai. Os militares tomam o poder. Em 9 de abril, é decretado o Ato Institucional Número 1 (AI-1). Este, cassa mandatos políticos de opositores ao regime militar e tira a estabilidade de funcionários públicos.

GOVERNO CASTELLO BRANCO (1964-1967)

Castello Branco, general militar, foi eleito pelo Congresso Nacional presidente da República em 15 de abril de 1964. Em seu pronunciamento, declarou defender a democracia, porém ao começar seu governo, assume uma posição autoritária. 
Estabeleceu eleições indiretas para presidente, além de dissolver os partidos políticos. Vários parlamentares federais e estaduais tiveram seus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus direitos políticos e constitucionais cancelados e os sindicatos receberam intervenção do governo militar.
Em seu governo, foi instituído o bipartidarismo. Só estavam autorizados o funcionamento de dois partidos: Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Enquanto o primeiro era de oposição, de certa forma controlada, o segundo representava os militares.
O governo militar impõe, em janeiro de 1967, uma nova Constituição para o país. Aprovada neste mesmo ano, a Constituição de 1967 confirma e institucionaliza o regime militar e suas formas de atuação.

GOVERNO COSTA E SILVA (1967-1969)

Em 1967, assume a presidência o general Arthur da Costa e Silva, após ser eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Seu governo é marcado por protestos e manifestações sociais. A oposição ao regime militar cresce no país. A UNE (União Nacional dos Estudantes) organiza, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil. 
Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operários paralisam fábricas em protesto ao regime militar.
A guerrilha urbana começa a se organizar. Formada por jovens idealistas de esquerda, assaltam bancos e seqüestram embaixadores para obterem fundos para o movimento de oposição armada.
No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decreta o Ato Institucional Número 5 ( AI-5 ). Este foi o mais duro do governo militar, pois aposentou juízes, cassou mandatos, acabou com as garantias do habeas-corpus e aumentou a repressão militar e policial.
história do brasil - ditadura militar Passeata contra a ditadura militar no Brasil 
  
GOVERNO DA JUNTA MILITAR (31/8/1969-30/10/1969)

Doente, Costa e Silva foi substituído por uma junta militar formada pelos ministros Aurélio de Lira Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Sousa e Melo (Aeronáutica). 
Dois grupos de esquerda, O MR-8 e a ALN seqüestram o embaixador dos EUA Charles Elbrick. Os guerrilheiros exigem a libertação de 15 presos políticos, exigência conseguida com sucesso. Porém, em 18 de setembro, o governo decreta a Lei de Segurança Nacional. Esta lei decretava o exílio e a pena de morte em casos de "guerra psicológica adversa, ou revolucionária, ou subversiva".
No final de 1969, o líder da ALN, Carlos Mariguella, foi morto pelas forças de repressão em São Paulo.

GOVERNO MEDICI (1969-1974)

Em 1969, a Junta Militar escolhe o novo presidente: o general Emílio Garrastazu Medici. Seu governo é considerado o mais duro e repressivo do período, conhecido como " anos de chumbo ". A repressão à luta armada cresce e uma severa política de censura é colocada em execução. Jornais, revistas, livros, peças de teatro, filmes, músicas e outras formas de expressão artística são censuradas. Muitos professores, políticos, músicos, artistas e escritores são investigados, presos, torturados ou exilados do país. O DOI-Codi (Destacamento de Operações e Informações e ao Centro de Operações de Defesa Interna ) atua como centro de investigação e repressão do governo militar.
Ganha força no campo a guerrilha rural, principalmente no Araguaia. A guerrilha do Araguaia é fortemente reprimida pelas forças militares.

O Milagre Econômico

Na área econômica o país crescia rapidamente. Este período que vai de 1969 a 1973 ficou conhecido com a época do Milagre Econômico. O PIB brasileiro crescia a uma taxa de quase 12% ao ano, enquanto a inflação beirava os 18%. Com investimentos internos e empréstimos do exterior, o país avançou e estruturou uma base de infra-estrutura. Todos estes investimentos geraram milhões de empregos pelo país. Algumas obras, consideradas faraônicas, foram executadas, como a Rodovia Transamazônica e a Ponte Rio-Niteroi.
Porém, todo esse crescimento teve um custo altíssimo e a conta deveria ser paga no futuro. Os empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os padrões econômicos doBrasil.

GOVERNO GEISEL (1974-1979)

Em 1974 assume a presidência o general Ernesto Geisel que começa um lento processo de transição rumo à democracia. Seu governo coincide com o fim do milagre econômico e com a insatisfação popular em altas taxas. A crise do petróleo e a recessão mundial interferem na economia brasileira, no momento em que os créditos e empréstimos internacionais diminuem.

Geisel anuncia a abertura política lenta, gradual e segura. A oposição política começa a ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o MDB conquista 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganha a prefeitura da maioria das grandes cidades.
Os militares de linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel, começam a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog á assassinado nas dependências do DOI-Codi em São Paulo. Em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filho aparece morto em situação semelhante.
Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho para a volta da democracia no Brasil.

GOVERNO FIGUEIREDO (1979-1985)

A vitória do MDB nas eleições em 1978 começa a acelerar o processo de redemocratização. O general João Baptista Figueiredo decreta a Lei da Anistia, concedendo o direito de retorno ao Brasil para os políticos, artistas e demais brasileiros exilados e condenados por crimes políticos. Os militares de linha dura continuam com a repressão clandestina. Cartas-bomba são colocadas em órgãos da imprensa e da OAB (Ordem dos advogados do Brasil). No dia 30 de Abril de 1981, uma bomba explode durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O atentado fora provavelmente promovido por militares de linha dura, embora até hoje nada tenha sido provado.
Em 1979, o governo aprova lei que restabelece o pluripartidarismo no país. Os partidos voltam a funcionar dentro da normalidade. A ARENA muda o nome e passa a ser PDS, enquanto o MDB passa a ser PMDB. Outros partidos são criados, como: Partido dos Trabalhadores ( PT ) e o Partido Democrático Trabalhista ( PDT ).

A Redemocratização e a Campanha pelas Diretas Já

Nos últimos anos do governo militar, o Brasil apresenta vários problemas. A inflação é alta e a recessão também. Enquanto isso a oposição ganha terreno com o surgimento de novos partidos e com o fortalecimento dos sindicatos.
Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participam do movimento das Diretas Já. O movimento era favorável à aprovação da Emenda Dante de Oliveira que garantiria eleições diretas para presidente naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi aprovada pela Câmara dos Deputados.
No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheria o deputado Tancredo Neves, que concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Ele fazia parte da Aliança Democrática – o grupo de oposição formado pelo PMDB e pela Frente Liberal.
Era o fim do regime militar. Porém Tancredo Neves fica doente antes de assumir e acaba falecendo. Assume o vice-presidente José Sarney. Em 1988 é aprovada uma nova constituição para o Brasil. A Constituição de 1988 apagou os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no país.  

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Quais foram as torturas utilizadas na época da ditadura militar no Brasil?

por Roberto Navaro



Uma pesquisa coordenada pela Igreja Católica com documentos produzidos pelos próprios militares identificou mais de cem torturas usadas nos "anos de chumbo" (1964-1985). Esse baú de crueldades, que incluía choques elétricos, afogamentos e muita pancadaria, foi aberto de vez em 1968, o início do período mais duro do regime militar. A partir dessa época, a tortura passou a ser amplamente empregada, especialmente para obter informações de pessoas envolvidas com a luta armada. Contando com a "assessoria técnica" de militares americanos que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares começavam a agredir no momento da prisão, invadindo casas ou locais de trabalho. A coisa piorava nas delegacias de polícia e em quartéis, onde muitas vezes havia salas de interrogatório revestidas com material isolante para evitar que os gritos dos presos fossem ouvidos. "Os relatos indicam que os suplícios eram duradouros. Prolongavam-se por horas, eram praticados por diversas pessoas e se repetiam por dias", afirma a juíza Kenarik Boujikain Felippe, da Associação Juízes para a Democracia, em São Paulo. O pau comeu solto até 1974, quando o presidente Ernesto Geisel tomou medidas para diminuir a tortura, afastando vários militares da "linha dura" do Exército. Durante o governo militar, mais de 280 pessoas foram mortas - muitas sob tortura. Mais de cem desapareceram, segundo números reconhecidos oficialmente. Mas ninguém acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar chegou a ser punido. Em 1979, o Congresso aprovou a Lei da Anistia, que determinou que todos os envolvidos em crimes políticos - incluindo os torturadores - fossem perdoados pela Justiça. :-(

Arquitetura da dor

Torturadores abusavam de choques, porradas e drogas para conseguir informações
Cadeira do dragão
Nessa espécie de cadeira elétrica, os presos sentavam pelados numa cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos. Quando o aparelho era ligado na eletricidade, o zinco transmitia choques a todo o corpo. Muitas vezes, os torturadores enfiavam na cabeça da vítima um balde de metal, onde também eram aplicados choques
Pau-de-arara
É uma das mais antigas formas de tortura usadas no Brasil - já existia nos tempos da escravidão. Com uma barra de ferro atravessada entre os punhos e os joelhos, o preso ficava pelado, amarrado e pendurado a cerca de 20 centímetros do chão. Nessa posição que causa dores atrozes no corpo, o preso sofria com choques, pancadas e queimaduras com cigarros
Choques elétricos
As máquinas usadas nessa tortura eram chamadas de "pimentinha" ou "maricota". Elas geravam choques que aumentavam quando a manivela era girada rapidamente pelo torturador. A descarga elétrica causava queimaduras e convulsões - muitas vezes, seu efeito fazia o preso morder violentamente a própria língua
Espancamentos
Vários tipos de agressões físicas eram combinados às outras formas de tortura. Um dos mais cruéis era o popular "telefone". Com as duas mãos em forma de concha, o torturador dava tapas ao mesmo tempo contra os dois ouvidos do preso. A técnica era tão brutal que podia romper os tímpanos do acusado e provocar surdez permanente
Soro da verdade
O tal soro é o pentotal sódico, uma droga injetável que provoca na vítima um estado de sonolência e reduz as barreiras inibitórias. Sob seu efeito, a pessoa poderia falar coisas que normalmente não contaria - daí o nome "soro da verdade" e seu uso na busca de informações dos presos. Mas seu efeito é pouco confiável e a droga pode até matar
Afogamentos
Os torturadores fechavam as narinas do preso e colocavam uma mangueira ou um tubo de borracha dentro da boca do acusado para obrigá-lo a engolir água. Outro método era mergulhar a cabeça do torturado num balde, tanque ou tambor cheio de água, forçando sua nuca para baixo até o limite do afogamento
Geladeira
Os presos ficavam pelados numa cela baixa e pequena, que os impedia de ficar de pé. Depois, os torturadores alternavam um sistema de refrigeração superfrio e um sistema de aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. Os presos ficavam na "geladeira" por vários dias, sem água ou comida

Colaboração de amigos

DEPOIMENTOSFrei BettoFrei Betto, frade dominicano e escritor. Viveu junto com Tito no convento dos frades dominicanos em São Paulo. A luta política e o sofrimento vivido por Frei Tito nos porões da ditadura são relatados no livro ‘Batismo de Sangue’.
Conheci Frei Tito em 1962, quando me tornei dirigente nacional da JEC (Juventude Estudantil Católica) e ele, dirigente regional do Nordeste. Tinha se deslocado de Fortaleza, onde nasceu, para o Recife, sede dos movimentos de Ação Católica daquela região do país. Tito me chamou a atenção pela simplicidade e obstinação. A timidez não dificultava sua determinação de caráter. E era um jovem, aos 16 ou 17 anos, especialmente alegre, afeito à música.
A fé cristã, o idealismo apostólico, a sede de justiça que a JEC imprimia a seus militantes fez com que se criasse entre nós certa empatia. Estreitada por nossa decisão comum de ingressar na Ordem dos Dominicanos, eu em 1965, ele no ano seguinte.
Em 1967, Frei Tito e eu passamos a conviver no mesmo convento de São Paulo, no bairro das Perdizes, onde cursávamos Filosofia. Fazíamos parte de um grupo de seminaristas politizados e identificados com o agitado movimento estudantil da época, principal trincheira de resistência frente à ditadura militar. Tito e eu, como outros, fazíamos cursos complementares na USP, o que nos aproximou das lideranças estudantis. Como o demonstram o livro e o filme “Batismo de Sangue”, foi Frei Tito quem conseguiu o sítio no qual se realizou o célebre congresso clandestino da UNE, em Ibiúna, 1968, no qual foram presos mais de 700 estudantes.
Tito tinha o dom de fazer amigos, especialmente com pessoas mais velhas. O doutor Samuel Pessoa, o mais renomado parasitologista do Brasil, e sua mulher, dona Jovina, o tratavam como filho. O fato de eles serem um casal comunista e ateu não dificultava o diálogo. E na medida em que vários militantes comunistas se afastaram do Partido Comunista Brasileiro, que repudiava a luta armada, e se aproximaram de Carlos Marighella, fundador da ALN (Ação Libertadora Nacional), que a apoiava, isso fez com que Tito e o grupo de estudantes dominicanos atuassem como base de apoio aos guerrilheiros urbanos.
Tito tinha alma de poeta, sensibilidade de artista, vocação de monge recluso e um irradiante amor à vida. Esse engajamento na luta contra a ditadura nos levou, em 1969, à prisão. Frei Tito passou pelas torturas em novembro daquele ano e, de modo especial, em fevereiro de 1970, por ocasião da prisão do proprietário do sítio de Ibiúna. Queriam que Tito assinasse comprovando que, nós dominicanos, havíamos pegado em armas. Tito não cedeu. Porém, próximo ao limite de suas forças, preferiu morrer que prejudicar seus irmãos. Com uma gilete, cortou a artéria do braço esquerdo. Socorrido no Hospital Militar, ficou com sérias seqüelas psíquicas.
No Presídio Tiradentes, tomei-lhe o depoimento. Divulgado no exterior, mereceu o prêmio de Reportagem do Ano (1970) da revista Look, dos EUA. Seqüestrado o embaixador suíço, Tito foi incluído na lista dos presos que deveriam ser soltos em troca da vida do diplomata. A última vez que nos vimos foi em janeiro de 1971, quando deixou o Tiradentes a caminho do exílio, condenado pela ditadura ao banimento do país. Ele estava triste. Teria preferido não viajar, mas não havia alternativa, pois se não saísse os militares certamente explorariam a sua recusa a favor do regime.
Depois, recebi notícias freqüentes e esparsas de Tito: sua chegada em Santiago do Chile, a viagem para Roma, a rejeição sofrida num seminário que funciona à sombra do Vaticano, a transferência para Paris, os fantasmas que o assaltavam, a onipresença dos torturadores em sua mente... Por recomendação médica, Tito mudou-se para nosso convento próximo a Lyon, cujas cercanias rurais lhe fariam bem, supunham os médicos. Foi ali, a 10 de agosto de 1974, que Frei Tito, aos 28 anos, preferiu – como escreveu em sua Bíblia – “morrer do que perder a vida”. Para buscar a unidade que havia perdido deste lado da vida, enforcou-se sob a copa de um álamo.
Hoje, o túmulo de Frei Tito é o mais visitado no cemitério de Fortaleza. E inúmeras obras de arte já foram inspiradas por sua trajetória, por seu testemunho, por seu exemplo.
Natal de 2007


Frases de Frei Tito

«Assim suspendido, despido, eu recebi descargas elétricas de corrente contínua nos tendões dos pés e na cabeça. Os torturadores eram seis. Eles me aplicaram o "telefone" (bater as duas orelhas com a palma da mão ao mesmo tempo para fazer explodir os tímpanos) e eles me gritavam injúrias.»

«Eles lançaram algumas descargas elétricas em minhas mãos, em meus pés, em minhas orelhas e em minha cabeça. A cada descarga todo meu corpo passava a tremer como se fosse despedaçar»

«Era eu impossível saber que parte do corpo era mais doída. Eu tinha a impressão de ser esmagado por toda parte. Minha mente não era mais coordenada, eu só tinha o desejo de perder os sentidos”.

«Quando eu venho na Operação-Bandeirante, eu deixo o coração em casa. Eu tenho horror dos curas... Você conhece Fulano e Beltrano? (menciona os nomes de dois presos políticos torturados, com muita selvageria por ele), você vai ter direito ao mesmo tratamento: descargas elétricas o dia todo. Para cada um de seus NÃO, você receberá uma descarga mais importante. Havia três militares na sala. Um deles gritou: "Eu quero nomes de homens e de organizações clandestinas ".
Quando eu respondi: "Eu não sei, eu recebi uma descarga elétrica tão forte, daquelas diretamente plugadas na tomada, que eu perdi o controle de minhas funções fisiológicas .»
«Ele (o torturador) entrou nos ataques morais: Quais os padres que têm amantes? Por que a Igreja não expulsou vocês todos? Quem são os padres terroristas? Disse que a Igreja é corrupta, que pratica malversações financeiras, que o Vaticano é o proprietário das maiores empresas. A todas minhas respostas negativas, eles me davam descargas, socos, pontapés, e golpes de vara no tórax. Num determinado momento, o capitão Albernaz ordenou que eu abrisse a boca para receber "a hóstia sagrada ". Ele introduziu um fio elétrico. Eu permaneci de boca inchada, sem poder falar adequadamente. Eles gritavam contra a Igreja. Eles gritavam que os padres são uns homossexuais porque eles não são casados... Eles só pararam às quatorze horas» (nota-se que tinham começado de manhã às oito horas).

"Em minha cela eu não conseguia dormir. A dor aumentava cada vez mais. Eu tinha a impressão que minha cabeça era três vezes mais grossa que meu corpo. Era preciso acabar com isso uma vez por todas. Eu sentia que não poderia agüentar tamanho sofrimento por muito tempo. Eu estava angustiado à idéia que meus Irmãos Dominicanos pudessem sofrer a mesma coisa".

"Quando secar o rio da minha infância / secará toda dor. / Quando os regatos límpidos de meu ser secarem / minh'alma perderá sua força. / Buscarei, então, pastagens distantes / lá onde o ódio não tem teto para repousar. / Ali erguerei uma tenda junto aos bosques. / Todas as tardes me deitarei na relva / e nos dias silenciosos farei minha oração. / Meu eterno canto de amor: / expressão pura de minha mais profunda angústia. / Nos dias primaveris, colherei flores / para meu jardim da saudade. / Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio.


“É preferível morrer do que perder a vida”



quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Formações

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O dia em que a internet parou

A falta de conexão com o mundo nos traz a sensação de isolamento
Nossos filhos estão crescendo num mundo em que os pendrives, mouses, notebooks e outros equipamentos fazem parte do material escolar. Através da rede de computadores, eles estudam, pesquisam, se comunicam, fazem compras, estabelecem vínculos e muito mais. De maneira geral, as pessoas estão tão acostumadas com a internet permeando as mais simples tarefas do seu dia a dia que, por menor que seja uma falha de conexão, já se sentem perdidas e desamparadas no mundo. Hoje, os computadores – cada vez mais portáteis – são tão importantes quanto a geladeira para as famílias desse novo tempo.

São tantas as novidades tecnológicas que as ferramentas projetadas somente para os computadores, agora são facilmente encontradas nos telefones celulares. Em razão da tecnologia aplicada a esses aparelhos, e por suas diversas funcionalidades, muitos celulares são conhecidos como “smartphones”. Através desses pequenos aparelhos, mesmo durante o horário de almoço é possível disparar uma mensagem no Twitter, saber o que está acontecendo no seu Facebook, atualizar seu blog ou gravar um vídeo para disponibilizá-lo em um dos serviços disponíveis pelas mídias sociais.

Com todos esses atrativos tecnológicos, qualquer pessoa poderá iniciar uma dependência e ser capaz de ficar conectada ao mundo virtual de suas redes sociais 24 horas por dia, 7 dias por semana, se assim desejarem.

Há alguns dias, participei de um evento, que durou 4 dias, em que não podíamos utilizar a internet. Naquela ocasião, sem condições de verificar e-mails, atualizar o blog, postar uma mensagem no Twitter, o notebook sem uma conexão com a WEB não tinha grande utilidade. A sensação era como se eu não estivesse sendo produtivo. Outros colegas, mesmo podendo usar seus “smartphones” simplesmente como telefone celular, sentiam a mesma crise de “abstinência” por estar fora da internet.

A falta de conexão com o mundo virtual nos trouxe a sensação de isolamento total, do mundo e das pessoas, como se estivéssemos no espaço sideral. A partir dessa experiência, imaginei o dia em que, ao ligarmos o computador ou um dispositivo móvel, a mensagem recebida fosse algo semelhante a: “Você está sem conexão com a internet por tempo indeterminado”.

Diante de uma “greve cibernética”, ainda que possamos nos sentir inconformados com a situação, precisamos buscar alternativas para ocupar aquele tempo que foi sequestrado pelos computadores. Uma opção é redescobrir a simplicidade de costumes interessantes - não tão antigos -, que eram sinônimo de interatividade no tempo de nossos pais. Por exemplo: passar o tempo proseando com os amigos sentados na varanda; ler aquele livro que se iniciou, por várias vezes, mas parou no primeiro capítulo, ou fazer uma sessão de cinema em casa, entre amigos, com direito a pipoca e guaraná. Essas são atitudes simples que favorecem oportunidades de estreitar os laços de amizade através de uma conversa ou comentários sobre as suas impressões a respeito do filme assistido ou do livro que finalmente conseguiu concluir.

Atualmente, é muito comum comentarmos sobre aquilo que fazemos ou que pensamos, mas quase sempre, através de um monólogo dirigido aos nossos “seguidores” que estão espalhados em nossas redes sociais.
Não precisamos esperar um “blackout” na internet para intensificarmos nossos laços fraternos e retomarmos também aquelas coisas que têm sido raptadas pelos novos hábitos, gerados por nossa dependência adquirida num mundo virtual.

(Tema elaborado a partir de uma conversa com Paulo Moraes – Cachoeira Paulista-SP)

Um abraço


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Dado Moura
contato@dadomoura.com
Dado Moura é membro aliança da Comunidade Canção Nova e trabalha atualmente na Fundação João Paulo II para o Portal Canção Nova como articulista.
Outros temas do autor: www.dadomoura.com
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03/11/2010 - 08h10
Tags: internet tecnologia mídia amizade convivio formação cancaonova dado moura

terça-feira, 2 de novembro de 2010

COMO SE DÁ A TAXA DE CRESCIMENTO DE UM PAÍS?

A QUESTÃO DO CRESCIMENTO ECONÔMICO



Uma nação estruturada é uma base geográfica com uma população economicamente ativa ou não, delimitada com as outras partes institucionais, que formam outros países, com organizações diferentes, e com problemas semelhantes, mas, com maneiras distintas de resolução. Dentro deste contexto de delimitação, os territórios crescem, tanto em termos de população, como em termos de produção; pois, o contingente populacional crescendo, deve existir uma contra partida de produção, para suprir a esse povo que necessita de alimentação. Da mesma forma que a população cresce, e a produção deve aumentar, também elas podem decrescer de maneira igual, ou desigual; ou até mesmo só um cresce, ou decresce e o outro fica parado, ou como se diz normalmente, estável. Esse processo de crescer e/ou decrescer é o que constitui a teoria do crescimento econômico e social, muito polemizado na atualidade.
Assim, ao estudar as teorias do crescimento econômico, deve-se levar em consideração algumas teorias correlatas, ou mesmo complementares ao entendimento do termo individualizado, ou até mesmo no contexto mais geral, como é o caso de se buscar compreender os ciclos econômicos, e do que se entende por desenvolvimento econômico e social. Está claro, que esses três termos significam coisas distintas, todavia, complementam-se, proporcionando uma estrutura de prazer, ou desprazer aos habitantes do país, como é o caso de se ter um bem-estar, ou mal-estar para a população como um todo. O crescimento econômico diz respeito às mudanças na produção física nacional quantitativamente medida. Já os ciclos, versam sobre os momentos de boom e de recessão que a economia passa. E o desenvolvimento econômico é o estado de conforto em que a economia vive.
O crescimento econômico de determinado país acontece em uma política de dinamização no processo produtivo, isto no que diz respeito ao setor primário, ou agricultura; ao setor secundário, ou de transformação e beneficiamento; e, ao setor terciário, ou de serviços. O processo de crescimento deve acontecer nesta taxonomia econômica, de tal maneira, que ninguém saia sacrificado dentro do contexto nacional; pois, ao avanço de qualquer um isoladamente, implicará num desequilíbrio no vizinho, que desajustará a economia com prejuízos catastróficos, e, muitas vezes, sem controle, pelas autoridades econômicas. Por isto, é preciso que os três setores da economia cresçam harmonicamente, melhorando o bem-estar de toda a população, e isto não acontecendo, ocorre o que se presencia no dia-a-dia dos países periféricos, que são as constantes migrações campo/cidade, cidade/campo, e agora, interpaíses.
O processo de crescimento de um país depende muito da ideologia que tal nação se encontra estruturada, como por exemplo: um país capitalista tem um ponto de vista, quanto a sua política de crescimento econômico; entretanto, as nações socialistas já vêem as coisas de maneira totalmente diferentes. O crescimento capitalista versa sobre o acúmulo de capital privado, demanda em sua maioria, os famigerados lucros máximos possíveis, e isto faz gerar distinções, entre as classes sociais e, por conseguinte, as injustiças sociais, mesmo levando-se em consideração que o crescimento está sendo colocado de maneira quantitativa. De outra forma, o crescimento visto pelo lado dos países socialistas, diz respeito ao crescimento com desenvolvimento, quer dizer, o capital não se acumula de maneira privada, mas, coletiva, ou socializada igualitariamente falando, por hipótese.
Contudo, tem-se observado nos países capitalistas, que o crescimento econômico transcorreu de maneira desigual ao longo da história, e isto faz com que alguns sobressaiam no processo de acumulação, bem mais rapidamente do que outros, juntando poder e dificultando a equidade entre todos os que participam da atividade econômica. O capitalismo tem dificultado as igualdades sociais, a tal ponto de o estigma entre as classes, ser cada vez mais elastecida, isto porque o poderio privado põe em prática a exploração sobre os mais fracos; e, desta forma, conseguem acumular acima da média, criando o seu império, onde muitas vezes estão caracterizados de corrupções, desmandos e, sobretudo, de usurpação ao homem trabalhador, que nada pode fazer ao seu favor, a não ser caminhar junto com a corrente dominante, porque lhe falta a consciência para a luta da independência.
Por outro lado, o sistema socialista tem uma posição sobre o crescimento econômico, tal que, o importante, não é a acumulação privada, individualizada, na demanda incessante pelo lucro máximo que gera as concentrações e centralizações de poder; contudo, o processo de crescimento econômico, dá-se no sentido da acumulação social, onde o lucro, não é o objetivo de cada agente econômico privado, mas, da sociedade como um todo. O crescimento econômico nos países socialistas, a princípio, deve coincidir com o conceito de desenvolvimento econômico, tendo em vista que, o fundamental é o bem-estar de todos os agentes econômicos, participantes da distribuição da renda nacional e nunca grupos oligopolizados, que buscam a espoliação, a formação de estruturas que visam demolir a sociedade igualitária, para empossar os reis da corrupção, da deslealdade, e da exploração humana.
Dentro deste pensamento, surge uma pergunta de fundamental importância para a teoria do crescimento econômico, qual seja, como se processo o crescimento econômico de uma nação? A este respeito, HARBERLER (1976)[1] mostra com clareza que
as políticas governamentais podem e de fato promovem - ou retardam - o crescimento econômico de diversas maneiras. Por exemplo, as políticas objetivando a manutenção, ou restauração das condições básicas para uma atividade empresarial vigorosa, poderiam fazer muito pela moção do crescimento econômico. Na verdade, uma maneira muito efetiva, e do ponto de vista econômico e administrativo, comparativamente simples (embora, politicamente, não seja de nenhum modo fácil), de aumentar a taxa de crescimento, seria remover os obstáculos colocados pelo homem, ao crescimento, alterando radicalmente as políticas que se acaba de descrever.
Ao se ter um caso contrário, o Estado só participa quando o setor produtivo não tem condições de suprir estas dificuldades, onde o investimento só consegue retornos de longo prazo, e a economia tem pressa para conseguir uma eqüidade entre os diversos tipos de empresários, para uma dinamização conjunta.
Ainda mais, com respeito às políticas de crescimento econômico propriamente ditas, e para responder a esta proposição colocada, as palavras de HARBERLER (1976)[2] são profícuas ao indicar que
são políticas e medidas que estimulam a poupança e o investimento às expensas do consumo corrente. Um exemplo imediato é um esquema de poupança compulsória. O consumo pode ser reduzido através de impostos apropriados e a receita resultante canalizada através do mercado de capitais para investimento privado (ou público), resultando em maior produção no futuro. O investimento neste sentido, deve ser definido amplamente, de modo a incluir investimento em seres humanos, por exemplo em educação, através do prolongamento do ensino obrigatório e do estímulo aos jovens para que freqüentem os cursos secundários e superior.
A este respeito, um dos impulsionadores do crescimento de uma economia, industrial, ou geral é o investimento, que alimentado pela educação, e outras variáveis, fomentam a formação bruta de capital, em seu parque industrial.
É fácil ver no mundo atual, a preocupação com o crescimento econômico, tanto no que diz respeito aos países centrais, como Estados Unidos, Japão, Alemanha e muitos outros participantes do grupo dos desenvolvidos; ou mesmo os países terceiro-mundistas como o Brasil, Argentina, Paraguai e alguns outros que integram a parcela dos subdesenvolvidos. O crescimento econômico envolve uma polêmica muito forte, no que versa as variáveis que envolvem, na realidade, o processo de crescimento, quer seja de maneira individualizada, ou até mesmo dentro do princípio macroeconômico. Uma das variáveis que dinamizam os incrementos na produção nacional, assim como fazem evoluir a empresa é a tecnologia; pois, com o progresso tecnológico neutral, ou induzido, faz-se com que a acumulação seja mais rápida, e o crescimento econômico mais evidente.
As políticas de crescimento econômico em cada país, dependem da proposta que exista na execução das atividades que promovem tal crescimento; pois, um estudo minucioso de cada parte nacional, é que vai deliberar sobre o processo de crescimento, se é intensivo em capital, ou intensivo em trabalho, e isto vai estar em função direta das disponibilidades de mão-de-obra, em primeira instância. O que norteia a viabilidade do crescimento econômico é a tecnologia; todavia, uma nação ser intensiva em capital, significa uma disponibilidade de poupança suficiente para suprir a atividade econômica de capital que envolve inovação tecnológica, e, sobretudo, um desprendimento maior em investimento no capital humano por excelência, tendo em conta que avanço tecnológico privilegiando o capital, exige uma formação profissional adequada a tal progresso.
Por outro lado, se a economia dispõe de mão-de-obra abundante, deve-se procurar uma maneira de adaptar os avanços tecnológicos a esta mão-de-obra que necessita de uma ocupação no mercado de trabalho, como é o caso dos países do terceiro-mundo que, obedecendo ao princípio do efeito demonstração importam tecnologias altamente desenvolvidas; e, como resultado, tem-se capital ocioso, sem pessoal capacitado ao desempenho de uma atividade intensiva deste fator. Foi neste sentido, que surgiu a figura do empresário, muito bem trabalhado por Joseph SHUMPETER (1959), quando mostrou a importância daquele que gerencia, administra, e aloca eficientemente os recursos materiais e humanos, dentro da empresa moderna e foi, desta forma, que se viabilizou a estrutura empresarial capitalista, que começava a sofrer os seus primeiros ataques de fim de vida, isto é, as crises.
Pois, é o empresário quem viabiliza o crescimento dos setores produtivos da economia, quer seja rural, industrial, ou de serviços, ao considerar que o seu papel é de inovador, empreendedor, e, sobretudo, de dinamizador da atividade econômica de uma forma geral. Desta maneira, o processo de crescimento econômico deve atuar de maneira harmônica entre os setores; e, especialmente, levando-se em consideração a atividade econômica, e o nível populacional do país. Não se pode ter uma população com uma taxa de crescimento maior, ou menor do que a taxa de atividade produtiva da economia. Finalmente, o importante, é que a taxa de crescimento da economia tem que estar em consonância com toda a estrutura do país, para não ocorrer desigualdades, e, como conseqüência, um desajuste maior do que possa gerar crises, e chegar talvez à recessão de maneira incontrolável e sem perspectivas.


 
[1] HARBERLER, G. Crescimento Econômico e Estabilidade. Rio de Janeiro, ZAHAR, 1976, p. 52.
[2] HARBERLER, G. Crescimento Econômico e Estabilidade. Rio de Janeiro, ZAHAR, 1976, p. 54.

02/11/2010 07h53 - Atualizado em 02/11/2010 07h53

Brasil pode superar estigma do voo de


galinha, avaliam economistas

País tem condições de manter crescimento acima de 4% nos próximos anos.
Para isso, no entanto, ainda é preciso 'destravar' algumas limitações.

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília
Depois de ter o crescimento econômico abortado no ano passado pelos efeitos da crise financeira internacional, o Brasil deve retomar um ritmo mais intenso de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, com uma taxa de crescimento acima de 7%, e tem condições, segundo economistas ouvidos pelo G1, de finalmente se libertar do chamado "estigma do voo de galinha" - que se caracteriza por um ano de forte crescimento seguido por outro de queda, ou de fraca expansão.

A opinião de analistas econômicos é de que o país reúne condições de manter uma taxa de crescimento sustentado da economia acima de 4% nos próximos anos, mas, para isso, ainda tem de fazer o dever de casa para destravar alguns fatores que limitam a expansão econômica. São eles: investimentos ainda baixos, falta de infraestrutura, como estradas, portos, aeroportos e ferrovias, necessidade de melhorias na educação e controle da inflação, entre outros.
PIB anualPIB anual (Foto: Editoria de Arte/G1)


Por outro lado, a alta do emprego, da renda e do crédito são fatores que impulsionam o consumo e o PIB para cima; e podem fazer com que a economia brasileira possa voar, se não como um condor, que atinge altitudes maiores por longo tempo, como uma andorinha - que voa mais baixo, mas se mantém por mais tempo no ar do que a galinha.
Histórico
A história econômica dos últimos 15 anos mostra que, em meio a crises externas e internas, a economia brasileira não conseguiu apresentar o almejado crescimento sustentado do PIB. Em 1995, um ano após a edição do Plano Real, que colocou fim a era da hiperinflação, a economia cresceu 4,2%.
Em 1996, avançou 2,15%. No ano seguinte, apesar de o crescimento ter acelerado para 3,38%, houve a eclosão da crise asiática que teve consequências para todos os países emergentes, e, em 1998, com a moratória russa, o país apresentou estabilidade - com expansão de somente 0,04%. Em 1999, a crise internacional chegou ao Brasil - que foi obrigado a desvalorizar o real. Naquele ano, o PIB avançou timidamente (0,25%).

Quando começou a crescer com mais intensidade em 2000, com 4,3% de expansão, a economia foi atingida, no ano seguinte, pela crise energética, e o PIB teve elevação de somente 1,31%. Em 2002, o ritmo de crescimento subiu um pouco, para 2,66%. Entretanto, o ano eleitoral, marcado pela forte disputa entre o Partido dos Trabalhadores e o PSDB, deixou sequelas, como a disparada do câmbio e a falta de confiança dos investidores. Com isso, o Brasil teve crescimento menor em 2003 (1,15%).

Com a ausência de crises externas entre 2004 e 2008, o país pôde imprimir um ritmo mais forte de crescimento para sua economia, ainda assim marcado por altos e baixos. Nestes cinco anos, o PIB avançou, respectivamente, 5,71%, 3,16%, 3,97%, 6,08% e 5,14%. Até que, em 2009, sofreu os efeitos da crise financeira internacional que teve origem nos Estados Unidos, e o PIB recuou 0,2%.

Expectativas
Para 2010, o cenário é de forte recuperação da economia com o fim da crise financeira internacional. A expectativa dos economistas é de que o PIB terá uma expansão de 7,55% neste ano. E a previsão de mais de 90 economistas consultados semanalmente pelo Banco Central é de que o processo de expansão será menor, mas constante, nos próximos anos - com a economia crescendo por volta de 4,5% entre 2011 e 2014.

Em conferência realizada em setembro em São Paulo, o prêmio Nobel de Economia, Paulo Krugman, disse ser viável que o Brasil cresça 5% ao ano nos próximos cinco anos. "Os três demônios estão sob controle: a inflação, o câmbio e a questão fiscal", afirmou ele na ocasião. Em sua visão, o Brasil está em posição mais confortável que as economias ditas desenvolvidas, que ainda se ressentem dos efeitos da crise internacional.
Para o diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz, a ocupação continuará tendo um dinamismo importante nos próximos anos. "Inflação baixa e ocupação em alta tendem a gerar aumentos de salários, que devem vir acompanhados de aumento de produtividade. Dar mais musculatura para o mercado interno, com crescimento do emprego e da renda, gera oportunidade de superar a síndrome do voo de galinha", disse ele.
Crédito, investimentos e infraestrutura
O presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Adalberto Saviolli, estima que o crédito, um dos fatores que impulsionam para cima a economia brasileira, continuará avançando nos próximos anos. Para ele, a relação do crédito com o PIB, que fechou o mês de agosto em 46,2%, deve avançar para 60% do PIB em 2012 - atingindo um patamar mais próximo de padrões internacionais.
De acordo com avaliação do gerente da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, o PIB pode crescer de forma sustentada nos próximos anos, mas é preciso, segundo sua análise, elevar a taxa de investimento e de poupança da economia brasileira.
"Precisamos elevar a nossa taxa de investimento, assim como precisamos de poupança externa, mas não podemos contar só com isso. Para não pressionar por um déficit em conta corrente [das contas externas] elevado, esse é o principal ponto. Esse é o grande desafio. Criar as condições para que a poupança aumente", disse ele. Acrescentou que também é preciso reduzir o déficit das contas públicas.
O presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, avaliou que há necessidade de investimentos em infraestrutura em alguns setores para que o país tenha condições de crescer de forma sustentada. Segundo ele, é possível notar avanços no setor de transportes, mas acrescenta que o ritmo ainda é insuficiente.
"No setor de transportes é possível notar os avanços. Dados preliminares de 2009 apontam investimentos em transporte e logística de R$ 19,6 bilhões. Os valores são pouco maiores que no ano anterior, mas continuam aquém da necessidade real de investimentos. Os portos e aeroportos são grandes gargalos, e a tendência é que o quadro se agrave com o crescimento da demanda para os próximos anos", declarou ele.
Inflação
Para o economista da Tendências Consultoria, Gian Barbosa, o crescimento da inflação, resultado, entre outros fatores dos investimentos baixos e da infraestrutura precária, pode ser um fator limitador do crescimento da economia brasileira nos próximos anos.

Isso ocorre porque o Banco Central pode ser obrigado a subir os juros no futuro para conter as pressões inflacionárias e, com isso, impedir voos mais altos da economia - caso ele julgue que não possam gerar inflação e não se sustentar no futuro. O BC calibra a taxa de juros com base na meta central de inflação, definida em 4,5% para 2011 e 2012, com um intervalor de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

"Quando a economia passa de uma certa taxa de crescimento, o BC reage e impede que o crescimento seja além do potencial. Se os investimentos fossem maiores, permitiriam um crescimento mais robusto da economia. A gente enxerga que o custo Brasil, relativo a essa parte de infraestrutura, é bem carente. A gente não viu ainda um grande 'boom' de investimentos em infraestrutura, que é é um dos grandes limitadores do crescimento maior. Se o Brasil tivesse mais cuidado com estes fatores, o país poderia ter crescimentos maiores", avaliou Barbosa.
 

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