Ao todo, 1.206 prédios compõem a rede pública de ensino. Nas escolas estaduais, são atendidos 400 mil alunos
00:00 · 18.10.2015
Para sindicato, quantidade de profissionais que se forma não é suficiente ( Foto: Érika Fonseca ) |
Da precariedade na infraestrutura até a desvalorização salarial. A vida
de quem opta por lecionar é repleta de desafios sentidos no cotidiano, o que,
muitas vezes, motiva a evasão de professores das salas de aula. No Ceará, de
janeiro de 2013 a agosto deste ano, 2.631 professores saíram da rede pública de
ensino, incluindo escolas da Prefeitura de Fortaleza e do Governo do Estado do
Ceará.
O número assusta, mas pode ser compreendido por englobar pedidos de
exoneração e aposentadorias. Apenas nas escolas municipais de Fortaleza,
segundo dados da Secretaria Municipal de Educação (SME), durante o período
mencionado, 192 professores foram desligados. Já para outros 1.296 chegou a
hora de se aposentar. As estatísticas ganham força em 2014, ano em que dos
1.296, um total de 941 se aposentou e 76 se desvincularam das escolas
municipais, por diversas razões.
Nos colégios de nível médio, sob a responsabilidade da Secretaria da
Educação do Ceará (Seduc), a situação não é diferente. Com uma rede composta
por 705 escolas com o atendimento de mais de 400 mil alunos, 243 professores
pediram para sair da rede e, em média, 270 profissionais se aposentaram a cada
ano, afirma a assessoria da Pasta.
O presidente do sindicato da Associação dos Professores de
Estabelecimentos Oficiais do Ceará (Apeoc), Anízio Melo, ressalta que os números
alarmantes se repetem em todo o Brasil. Segundo dados divulgados pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), no País, há uma carência de 250 mil
professores para atuar nas salas de aulas, principalmente, na área de ciências.
"A quantidade de profissionais que se forma não é suficiente para
atender a demanda. Pelo fator salarial, há muitos abandonos. Houve uma evolução
na estrutura das escolas, mas ela não é universalizada. Em Fortaleza,
encontramos situações muito complexas", garante o presidente, que
acrescenta a dificuldade de relacionamento com os estudantes em uma sala
lotada.
Para muitos, a estabilidade de um concurso público junto ao sonho de uma
renda mensal garantida já não são atrativos suficientes para atuar dentro das
salas de aula.
Hoje, o professor que ingressa na rede municipal e está no início de
carreira, recebe R$ 14,11 por hora/aula ministrada. Nas escolas governamentais,
o docente nas mesmas condições ganha R$ 2.840,17, mais auxílio transporte e
vale alimentação.
Relato
A professora de química Kelly Araújo Leite, aprovada, pela primeira vez,
em um concurso público promovido em 2003 pela Seduc não chegou a assumir o
cargo que, na época, somava 200 horas mensais, equivalente a dois turnos de
trabalho, de segunda-feira a sexta-feira.
Kelly conta que em 2010 resolveu prestar novamente o concurso, desta
vez, chegando a assumir. Três meses foi tempo para abandonar o cargo. Lotada em
uma escola no bairro Siqueira, o perigo e as condições inapropriadas
determinaram que a mais nova concursada fosse à Pasta pedir exoneração.
"Tudo no entorno da escola era extremamente perigoso. Eu trabalhava de 13h
às 22h. Não tinha condições de dar aula, não tinha livro, nem pincel. Eu decidi
sair quando um aluno quebrou a cadeira nas costas de um professor e outro
entrou armado para assistir aula. A Seduc não queria aceitar minha exoneração e
alegaram que tinha pouco professor de Química, mas eu não aguentava mais",
conta. Em 2013, a professora decidiu tentar mais uma vez pela oferta de um
melhor salário. Pela terceira vez, foi aprovada. "Agora, trabalho em uma
escola no Montese. Lá tem seus problemas, como a falta constante de pincel e
folha de papel ofício, mas a equipe é boa e faz de tudo para dar certo",
ressaltou.
Conforme Giovanna França, coordenadora de Gestão de Pessoas, da Seduc,
as condições de trabalho nas escolas mudaram. "Houve uma melhoria das
condições de trabalho nas escolas em ambientes adequados e equipados para as
atividades de estudos, planejamento e reuniões de trabalho", ressalta.
Consequências
O diretor do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do Ceará
(Sindiute) Wellington Monteiro ressalta que uma das consequências no
afastamento dos professores das salas de aula é o acúmulo de funções para
outros funcionários. "O prazo de 15 dias para sair um professor e entrar
outro nunca foi cumprido. Tem turma que fica sem professor de matemática o ano
todo. Mesmo sem ter aula, os alunos não podem voltar para casa. Essa
determinação é correta, mas acaba sobrando para o coordenador pedagógico ter
que ficar com a turma. Estamos alertando a Prefeitura para que esse coordenador
não se torne um professor substituto de luxo".
Reconhecendo o déficit de professores em Matemática, Português e Inglês,
a gerente da Célula de Política de Formação de Pessoas da SME, Roberta Batista,
afirma que a contratação de professores temporários supre o problema,
parcialmente, já que, de segunda à sexta-feira, há professores tirando licença.
"A gestão escolar se organiza para não deixar o aluno voltar para casa. A
situação dos coordenadores ficarem em sala diminui substancialmente com a
presença dos professores substitutos, mas não conseguimos zerar essa carência.
São problemas que dependem da saúde do professor naquele dia", conta a
gestora.
Dados
Atualmente, conforme dados da SME, há 8.254 professores efetivos e 2.824
substitutos nas salas de aulas dos 501 prédios da rede de ensino pública
municipal - inclusas escolas patrimoniais, escolas especiais, creches
conveniadas e anexos - com 195.443 alunos regularmente matriculados. Até agosto
de 2015, 342 docentes estavam afastados por licença. Em maioria, o número se
deve à disfonia (alteração ou enfraquecimento na voz), problemas psicológicos,
psiquiátricos ou ortopédicos.
Para o presidente da Apeoc, a necessidade do afastamento se deve à
ausência de política pública de saúde preventiva para os docentes. "Quando
o professor vai para a sala de aula, ele vai desconectado das condições de
trabalho e sem habilidade para utilização da voz. Eles também acabam se
deparando com a violência. São muitos os problemas sociais e não há um suporte
nas escolas", garante o presidente.
A gerente da Célula de Política de Formação de Pessoas da SME assegura
que existe um treinamento prático disponibilizado para os professores que
ingressarão na rede. Roberta Batista afirma que antes de assumirem, há uma
semana de formação intensiva. "É realizada uma vivência sobre a vida
docente, perfil do aluno da rede municipal, sala de aula e planejamento. Já em
atividade, os docentes passam por formações mensais", conta a responsável
pela célula.
FIQUE POR DENTRO
Governo Federal garante verbas para a Educação
Em setembro de 2013, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei nº
12.858, que destina 75% dos royalties do petróleo para a Educação e 25% para a
Saúde. O texto ainda prevê que 50% do excedente em óleo do pré-sal também seja
voltado para o setor educacional.
A ser
cumprido nos próximos dez anos, o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece
um conjunto de metas para o setor. Nestes dez anos, 10% do Produto Interno
Bruto (PIB) deverão ser destinados à Educação. Atualmente, o setor recebe o equivalente
a 5,3% do PIB.
Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/ce-perde-2-6-mil-professores-da-rede-publica-em-tres-anos-1.1412140
Um comentário:
Dava para fazer um levantamento desses em Pentecoste? Por que todo ano é a mesma coisa, tira professor, troca professor, fecha escola, tira diretor, coloca gente sem concurso em dois turnos, enquanto o salário de concursados está sendo diminuído. Estão fazendo de tudo para acabar com a educação em Pentecoste, e exigindo resultados mil, sem dar nenhum subsídio aos professores. Em alguns casos a gente tem de tirar do mísero salário para fazer acontecer alguma coisa. Tem mês que a gente gasta até 100 e até mais com xerox de avaliações e atividades, enquanto não se tem acesso aos materiais vindo para a escola.
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