Geração do tudo pode!
Esther Cristina Pereira
Observando os adolescentes de 12 a 14 anos, percebemos uma geração de jovens adolescentes desestruturados, sem sentido do coletivo, sem percepção do outro, sem respeito aos mais velhos. Por um lado, pensam que o mundo está a seu serviço, por outro, acreditam que nada precisam fazer, coisas simples, como estudar para uma prova, fazer uma pesquisa, fazer uma redação.
Se não estou enganada, parece que impera a visão de que é possível ser o que quiser sem precisar esforço, sem estudar. A meritocracia foi jogada no lixo, pois se o aluno estudar ou não, é aprovado. Se for reprovado, a culpa é da escola e do professor. É a cultura do mais, enquanto deveria ser a cultura do melhor.
Penso que à medida que o mundo político proporciona a impunidade e os desmandos com o dinheiro público, estas atitudes levam a um “salve-se quem puder”, ou melhor, “ganhe quanto puder”, e sem esforço.
Observando o comportamento dos nossos jovens - aqueles em quem depositamos nossas esperanças, investimos nosso tempo, dinheiro, esperança de futuro - fica um sentimento de vazio, um sentimento de falta, mas o que falta? Falta saber por que e para quê estudar ... Isto é, se realmente estudam.
Observe quantos bares existem em frente às universidades públicas e privadas, e veja que sempre estão cheios. E os pais desses estudantes estão sendo enganados, ou estão se enganando? Os professores têm imensas dificuldades para cobrar resultados de seus alunos, pois os trabalhos acabam sendo copiados da internet, o desempenho não passa do razoável, e quando se formam, se formam para quê? A distância é grande até o mercado de trabalho.
Uma pesquisa recente demonstrou que nossos jovens não têm opinião. Os debates dos principais assuntos, como, por exemplo, efeito estufa, crise mundial e desemprego, não atingem os jovens.
O adolescente não tem espaço na atual sociedade, o mundo do trabalho está limitado aos jovens pelas diversas restrições do Estatuto da Criança e do Adolescente. Por outro lado, as empresas não oferecem oportunidades para que possa iniciar nesse mundo, bem como ocupar o tempo produtivamente. O mundo social o discrimina pelas suas roupas, cabelo e outros modismos próprios da idade. No mundo da família ele não é criança para obedecer e submeter-se incondicionalmente às normas da casa, tampouco adulto para participar das discussões e decisões da família.
São jovens educados pela pedagogia anestésica, onde não é permitido à criança o sofrimento normal da vida. Os pais não deixam a criança chorar, nada pode faltar, não deve ser contrariada, e, com isso, criamos adultos que pensam que tudo é possível na hora que querem. Pessoas que não desenvolvem a resistência natural para dificuldades da vida adulta.
Juntando-se a isto o fato de nossas crianças e jovens terem acesso irrestrito aos “desejos do mundo”, como roupas e tênis de marca, modernos equipamentos eletrônicos, carros e a um padrão de beleza difícil de ser acompanhado, e criados com tudo do bom e do melhor.
Nesse momento, em que definiremos os políticos que comandarão o País, fico com uma sensação esquisita. Como educadora, fico meio decepcionada, pois tudo o que acreditei e lutei, por mais liberdade, democracia, oportunidades, parece que nunca chega, que é só promessa.
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