Ambientalistas dizem que a lista de jurados de morte tem muitos nomes.
31/05/2011 - 10:03
Chicos, Dorothys, Josés e Marias são nomes escritos numa lista de gente marcada para morrer. São homens e mulheres defensores da floresta, mortos em crimes anunciados. Ambientalistas dizem que a lista de jurados de morte ainda tem muitos outros nomes. Quem está inscrito nela pede socorro e proteção. Por que eles continuam morrendo?
Há uma semana, no sudeste do Pará, o líder extrativista José Claudio Ribeiro e sua mulher, Maria do Espírito Santo, perderam a vida numa ação covarde de pistoleiros. O mesmo fim teve o líder camponês Adelino Ramos, em Porto Velho, Rondônia, na última sexta-feira (27).
Trata-se de crimes que entram na lista dos mais de 400 trabalhadores rurais assassinados nos últimos dez anos. Esses crimes fazem lembrar o destino trágico de outras lideranças, como Chico Mendes e Dorothy Stang.
As ameaças que várias lideranças sofreram até serem mortas eram do conhecimento das autoridades, segundo movimentos ligados ao campo. O nome de José Claudio Ribeiro, por exemplo, aparece desde 2006 em listas de pessoas marcadas para morrer e que teriam sido encaminhadas a órgãos federais e estaduais. O extrativista paraense, assassinado por defender a floresta, nunca recebeu proteção policial.
“Essa lista existe e não é de hoje. O Estado sabe. Seja uma secretaria ou outra recebeu o documento, que foi protocolado no dia 19 de abril em várias secretarias federais e ministérios, e também não foi dada”, afirmou Jane Silva, representante da Comissão Pastoral da Terra.
A Defensoria Pública do Pará coordena no estado o programa de proteção a defensores dos direitos humanos. Na lista de 24 ameaçados de morte, apenas um terço conta com escolta de policiais.
“A dificuldade da escolta, por si só, é um agravante no funcionamento do programa, mas a falta de resolução do problema que gera ameaça também é uma situação muito grave. Você ter terras griladas e áreas indígenas não demarcadas faz com que a situação se agrave ainda mais”, alerta o defensor público Márcio da Silva Cruz.
O agricultor Ulisses Manaças lidera um grupo de trabalhadores rurais no nordeste do Pará e há nove meses aguarda pela proteção do estado. Depois que um amigo de militância foi assassinado na região, o agricultor passou a receber as ameaças.
“Recebi uma ligação de chamada não identificada que dizia que sabia que eu estava chegando de viagem, que sabia onde eu morava e que eu era o próximo, que eu ia morrer”, relata Ulisses.
O drama da violência no campo foi um dos temas da série “Terra do meio”, exibida pelo Bom Dia Brasil em 2007. Na época da reportagem de Marcelo Canellas, 207 pessoas estavam ameaçadas de morte no Brasil em conflitos de terra. Hoje o número caiu para 125. Mas as últimas mortes no Pará e em Rondônia deram o alerta de que as tensões no campo ainda persistem.
“Se houvesse um gerenciamento por parte dos órgãos federais, principalmente o Incra em relação à reforma agrária, nós teríamos uma diminuição drástica dos números de morte de trabalhadores de lideranças no campo”, apontou o procurador da República Felício Pontes Jr.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, a maioria dos assassinatos no campo não tem sido investigada. “São casos que estão localizados em municípios identificados, tem a pista de onde identificar. Falta uma ação concreta do Estado federal e do estado local”, disse Jane Silva, representante da Comissão Pastoral da Terra
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