quarta-feira, 8 de junho de 2011

Dilma, a primeira baixa


Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL

A saída do ministro Antonio Palocci é um alívio. Tanto para o governo quanto para ele próprio que, sem ônus nem bônus da função pública, poderá, como cidadão, defender-se das acusações e, dando a volta por cima, ter o direito de cobrar reparação de seus acusadores e, até, voltar fortalecido ao governo. A volta desagravadora não é novidade na administração pública brasileira. Em novembro de 1993, Henrique Hargreaves, também ministro da Casa Civil, no governo Itamar Franco, deixou o cargo sob a acusação de ter desviado verbas do governo federal. Em fevereiro do ano seguinte, depois de inocentado, voltou ao posto com mais força que antes e hoje faz parte da equipe de Itamar no Senado. Mais recentemente a pasta vivenciou o mensalão, que derrubou e cassou o mandato de deputado de José Dirceu, e o tráfico de influência, determinante da queda de Erenice Guerra, sucessora de Dilma no ministério.
            A Casa Civil, que tantos problemas sofreu, deu ao PT a presidente Dilma Rousseff que, na queda de José Dirceu, foi pinçada no Ministério das Minas e Energia. Tornou-se a mulher forte do governo Lula e foi feita sucessora do presidente. Agora, a exemplo do que fez Itamar em relação a Hargreaves, Dilma aceitou a demissão de Palocci, até então importante colaborador tanto de sua campanha quanto do governo. É o cortar da própria carne, que Lula titubeou fazer em relação a Dirceu e Erenice.
            Saindo, Palocci evita constrangimento ao governo. Evita ser o “quisto”, em que Itamar temeu transformar-se Hargreaves se não o afastasse na época das acusações. Dilma poderá continuar o governo com absoluta tranqüilidade a partir de agora e, se o ex-ministro safar-se dos problemas, reconduzi-lo oportunamente ao mesmo posto ou a outra posição de governo, podendo desfrutar integralmente de sua capacidade e força de trabalho, hoje combalidas pelas denúncias. Ficará aberto, inclusive, o caminho político para ele pleitear o governo de São Paulo, conforme já se especulava antes da crise.
            Caímos invariavelmente na figura da mulher do imperador romano que, além de honesta, tem de parecer honesta. Palocci, até o momento, não tem contra si uma prova de desonestidade – tanto que o procurador-geral da República não o denunciou -, mas a sua evolução patrimonial dificulta a aparência honesta, tão necessária desde a antiguidade. Muito provavelmente, será capaz de demonstrar lisura e legalidade em suas ações. Já tomou antecipadamente uma medida concreta que é declarar à Receita Federal e pagar impostos sobre sua elevada renda de consultor.
            O governo e a nação são maiores do que qualquer agente público ou ação que possa desaboná-lo. A saída de Palocci dá uma importante indicação e sugestão para o bom andamento dos governos, tanto o federal quando os estaduais e os municipais. Assim como a presidente, governadores e prefeitos têm o dever de afastar seus auxiliares sob suspeita. Quem apresentar problemas tem de sair, mesmo que seja para voltar depois de resolvidas as dúvidas. O governo jamais poderá conviver e muito menos compactuar com a dúvida e a falta de transparência. Importante: para voltar não deve bastar a absolvição do acusado por falta de provas. Tem de haver a certeza do não cometimento do ilícito...

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