No
Sindicato é comum entre um atendimento e outro ouvir queixas de empregados que
são perseguidos ou humilhados por seus patrões, gerentes ou encarregados. São
narrativas que vão desde xingamentos e menosprezo na frente de clientes e
colegas de trabalho, até o controle do tempo no banheiro. Verbos como
inferiorizar, amedrontar, constranger, difamar, ridicularizar, ignorar e
humilhar são os que mais aparecem para descrever uma mesma prática cada vez
mais frequente nos ambientes de trabalho: o assédio moral.
Em
entrevista à Rádio Brasil Atual, o juiz do trabalho e professor da Faculdade de
Direito da USP, Jorge Luiz Souto Maior, considerou uma tarefa difícil definir
em poucas palavras o assédio moral. Para ele, essa prática pode ser
identificada pela simples desconsideração humana do trabalhador. Ou seja, o
funcionário é transformado em uma mercadoria, é visto como um mero instrumento
da unidade produtiva. Essa desconsideração acontece de várias formas como
brincadeiras, pressões, olhares, gestos. É um tratamento que agride o íntimo da
pessoa, fazendo-a sentir-se incapaz ou incompetente, e que acontece de forma
repetitiva, porém encoberta.
Consequências
A
repetição contínua dessas situações de humilhação causam dor, tristeza e
sofrimento, interferindo diretamente na identidade, nas relações afetivas e
sociais do trabalhador. Por causa do assédio moral, a vítima acaba
desenvolvendo doenças físicas e mentais, que podem afastá-la do trabalho e até
causar a morte.
Danos do Assédio Moral
|
||
No local de trabalho
|
Problemas físicos
|
Problemas psíquicos
|
Reproduzir as práticas
agressivas nas relações com os colegas;
|
Cansaço exagerado, estresse,
dificuldade de concentração, tonturas;
|
Irritabilidade, baixa estima;
|
Ser indiferente ao sofrimento
do outro e ter dificuldades para se relacionar e trabalhar em equipe
(individualismo);
|
Problemas de pressão arterial,
tremores, aumento das chances de desenvolvimento de LER/DORT;
|
Dificuldades nos
relacionamentos com a família e os amigos (isolamento);
|
Consentir aos desmandos dos
chefes e reforçar um pacto de silêncio coletivo;
|
Favorecimento ao alcoolismo e
envolvimento com drogas;
|
Diminuição da libido e
esfriamento da vida afetiva;
|
Sentir-se inútil ou como se
fosse um objeto;
|
Distúrbios digestivos, mudanças
de apetite;
|
Sentimento de culpa,
pessimismo;
|
Diminuir a produtividade e
aumentar o absenteísmo;
|
Agravamento de doenças
pré-existentes, dores generalizadas;
|
Depressão, variação de humor,
crises de choro;
|
Descontentamento e falta de
prazer no trabalho.
|
Insônia e outros problemas do
sono.
|
Medo geral e depressão, podendo
levar ao suicídio.
|
As
principais situações de assédio moral envolvem hierarquia, como são os casos de
um superior para com seus subordinados. Dentro dessa prática também há grupos
que estão entre as vítimas mais frequentes, como as mulheres, os negros, os
homossexuais, trabalhadores doentes ou acidentados e pessoas questionadoras.
Raiz
do problema
De
acordo com o professor, a intensificação do sistema capitalista, dentro da sua
necessidade de multiplicar os lucros a todo custo, tem relação direta com o
aumento das práticas de assédio moral nas empresas. Uma das características
próprias dessa intensificação é a flexibilização, que na verdade significa a
desregulamentação dos direitos trabalhistas. Isso envolve a precarização do
trabalho, com a imposição de baixos salários, longas jornadas, a
polifuncionalidade (desvio de função), a competitividade extrema entre colegas
de trabalho e a responsabilização do trabalhador pela capacidade de se manter
empregado. São essas condições que sustentam um ambiente onde há abuso de poder
e manipulação do medo.
Desse
modo, o assédio moral não pode ser interpretado apenas como um “capricho” de
algum patrão. Essa prática “é reflexo de um capitalismo desajustado, que não
encontra muitos freios a partir dos efeitos jurídicos e sociais que foram
abalados por essa convicção de que o sistema não deve limites a ninguém”,
afirma o juiz. Nesse sentido, a busca do lucro justifica tudo, até passar por
cima da saúde física e mental do trabalhador, fazendo dele uma simples peça da
engrenagem.
Quem
é o responsável?
Pelo
fato do assédio moral ser propiciado por uma estrutura capitalista, não é só o
agressor direto que pode ser responsabilizado por essa prática. Conforme
explica o professor, pode ser que o empregador não participe dessas situações e
que essa pressão não seja orientação sua, mas como faz parte do ambiente de
trabalho ele pode ser responsabilizado. Esse é o caso de empresas que estimulam
a concorrência entre os trabalhadores com o estabelecimento de metas, por
exemplo. “Juridicamente ele não poderá falar que não sabia de metas,
xingamentos, pois ele precisa verificar como as relações hierárquicas se
desenvolvem no ambiente de trabalho”. Assim, a situação econômica da empresa
pode até se complicar devido às indenizações.
Quanto
ao trabalhador que é vítima de assédio, a primeira dificuldade é perceber que
ele ocorre. Diante disso, o Sindicato é o local apropriado para buscar
orientação, denunciar e pedir intervenção antes que o problema se agrave. Mas
só isso não é suficiente. A principal arma do trabalhador no combate ao assédio
moral é a luta pela melhoria das condições gerais de trabalho e, sobretudo,
pela construção de uma sociedade com outros valores. Onde as necessidades
humanas estejam bem acima dos resultados materiais.
Fonte:
CONTRACS
http://www.assediados.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário