Tudo isso deve ser lembrado quando se começa a discussão sobre a reforma política no Brasil. O Senado tem sido, tradicionalmente, um reduto de oligarcas, embora com exceções, havendo regras de composição e funcionamento que ocultam seus aspectos negativos. Assim, por exemplo, junto com cada senador é eleito um suplente vinculado a ele, e, no entanto, os eleitores, na sua ampla maioria, não têm a mínima ideia de quem seja o suplente para o qual estão dando o seu voto. E este, como já tem sido revelado pela imprensa, é, com muita frequência, um financiador da campanha eleitoral do candidato a senador ou um familiar deste. E já se tem noticiado a existência de acordos para que o senador se licencie por algum tempo para dar ao suplente a oportunidade de assumir e exercer o mandato, além de que a simples condição de suplente de senador já abre a possibilidade de influência sobre as decisões do Executivo que são de interesse pessoal do suplente ou de suas empresas.
As notícias e os comentários enfocando a recente decisão do Senado sobre o novo salário mínimo deixaram patentes alguns vícios. A começar do fato de que a votação de uma proposta que poderia ter influência no resultado final não foi nominal, não sendo do conhecimento da imprensa nem do povo a posição de cada senador na votação da matéria. E isso já aconteceu muitas vezes, ocultando-se do povo um dado de grande importância, que é a posição do senador em relação a determinada matéria de interesse público. Isso é de importância fundamental para que seja avaliada a fidelidade do representante a suas promessas eleitorais e ao programa do partido a que está filiado, estando também aí um indicador da verdadeira motivação da posição por ele adotada.
Embora teoricamente se diga que os senadores são representantes dos estados enquanto os deputados representam o povo, na realidade é o povo quem elege os senadores e seus suplentes, e eles, no exercício do mandato, tomam decisões de grande importância em nome do povo e sempre implicando consequências sobre direitos, que são sempre de interesse público, ou seja, de interesse de todo o povo. Por tudo isso, tomando como exemplo as imperfeições do Senado, que é uma peça importante do sistema político, e tendo em conta que já foi iniciada a discussão sobre a reforma política, é oportuno, e mesmo necessário, que a imprensa esteja atenta ao que ocorre no Senado e nas demais instituições, transmitindo ao povo as informações básicas, com imparcialidade e objetividade, para que o povo tenha a possibilidade de ser um participante ativo da construção de um sistema institucional verdadeiramente democrático.
* Jurista
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