Os problemas na voz geram em média cinco faltas por ano entre os professores da educação básica no país, de acordo com um estudo realizado pelo Centro de Estudos da Voz (CEV) em parceria com o Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP) e a Universidade de Utah, nos Estados Unidos.Segundo a pesquisa, 35% dos professores entrevistados relataram a presença de cinco ou mais problemas vocais, e 63% disseram já ter tido algum problema durante a vida. Os dados indicam que 16,7% dos professores consideram que terão de mudar de profissão no futuro por conta dos problemas vocais.
O questionário com 35 perguntas foi aplicado para 3.265 pessoas, das quais 1.651 eram docentes. Entre os professores, 63,1% afirmaram ter alterações vocais. Entre os não professores, 35,1% afirmaram a mesma coisa.
Os principais problemas relatados são: cansaço vocal (92%), desconforto para falar (90,4%), esforço para falar (89,2%), garganta seca (83,4%), rouquidão (82,2%), dificuldade para projetar a voz (82,8%), instabilidade ou tremor na voz (79,3%), dor na garganta (72,7%).
Segundo a diretora do Centro de Estudos da Voz (CEV), Mara Behlau, o professor é objeto de estudo dos fonoaudiólogos há pelo menos 20 anos e, em todo esse período, a situação continua a mesma. “O professor tem na sua voz um recurso essencial em sala de aula e nosso professor está doente, com problemas de voz que o colocam em uma situação de risco muito grande e comprometem a efetividade de aprendizagem, e sua permanência com modelo de comunicação em relação aos seus alunos”, afirmou a coordenadora do estudo.
Mara ressaltou que os problemas fazem com que os docentes mudem a forma de trabalho, diminuindo o tempo que falam e substituindo as explicações por vídeos e seminários. Além disso, as dificuldades também acarretam prejuízos graves na qualidade de vida. “A pessoa que resolve ser professor evidentemente faz porque gosta. Então, pegar um professor e tirar de sala de aula também não ajuda. Colocá-lo em uma biblioteca, em uma secretaria não é a resposta que o professor quer.”
De acordo com uma das autoras da pesquisa, a fonoaudióloga do Sinpro-SP, Fabiana Zambon, os professores lecionam em condições desfavoráveis para o uso da voz: competem com ruídos externos à sala de aula ou mesmo internos, trabalham com número alto de alunos, dificilmente usam microfone para dar aula e lecionam dois ou três períodos o que faz com que falem muito durante o dia.
“Somado a tudo isso e talvez o mais importante é que ele não tem informação. Ele entra em um mercado de trabalho que usa muito a voz podendo ter uma alteração vocal sem saber como cuidar, porque não tem na formação uma disciplina que ensine isso e então ele só procura ajuda quando já tem alguma alteração.”
Para prevenir os problemas de voz, a fonoaudióloga indica que o professor siga algumas recomendações como beber água em pequenos goles constantemente durante a aula, articular bem as palavras, evitar o contato direto com o pó de giz, manter alimentação saudável e regular, evitar o café e bebidas gasosas, não fumar e comer uma maçã, que limpa a boca e ajuda a movimentar a musculatura responsável pela articulação das palavras.
Outras recomendações são se espreguiçar ao acordar para relaxar os músculos e, ao tomar banho, deixar a água cair nos ombros fazendo movimentos circulares com a cabeça também para diminuir as tensões diárias. É importante também fazer intervalos para descansar a voz, utilizar recursos que aumentem a participação dos alunos na sala de aula e fazer exercícios de aquecimento e desaquecimento com a orientação de um fonoaudiólogo.
Fabiana recomendou ainda que o professor faça uma avalização vocal e evite gritar, sussurrar, pigarrear, falar de costas ou de lado para os alunos. Para evitar que o pó de giz entre na garganta, o ideal é que não se fale ao escrever na lousa. Outra dica é chupar bala forte quando a garganta estiver irritada.
“A maior parte dos professores procura ajuda quando já tem alteração de voz. Vemos que eles têm múltiplos sintomas, que relatam ter muitas alterações, mas eles não têm informação. Quando não temos muita informação, só procuramos o auxílio quando sentimos alguma coisa. Queremos levar a prevenção para que o professor tenha mais condições de trabalho e tenha a informação”, afirmou Fabiana.
[ + ] Fonte: Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário