quarta-feira, 6 de julho de 2011

CARTA ESCRITA EM RESPOSTA AO PREFEITO DO MUNICÍPIO QUANDO ME CHAMOU DE DOENTE EM DETERMINADA REUNIÃO



Essa matéria foi publicada no dia 6 de maio. Porém, muitas pessoas que ainda não tem facilidade com Mídia, me pediu para postá-la novamente. Portanto, ai está
Saibam os leitores que isso aconteceu comigo e resolvi escrever essa carta.
Todos poderão perceber que ela está desprovida de qualquer sentimento de raiva, mas que vem relatar qual tem sido a minha postura diante dos fatos que ocorrem todos os dias a nossa volta.  
Professor VALDENI CRUZ



Na manhã dessa sexta-feira, fui dar aula normalmente na Escola Vicente Feijó de Melo, onde trabalho como professor concursado do município desde o ano de 2002. Durante todos esses anos sou professor e exerço minha profissão em sala de aula. Até hoje não tenho em lembrança de que alguém tenha me chamado de irresponsável, mentiroso, desonesto, traidor, mal pagador, preguiçoso e muito menos de doente, pelo menos diante das pessoas e nem que eu tenha sabido até hoje, dito por ai para eu soubesse da boca de alguém. Na realidade ainda não fiz um checape total cabeça e nem do corpo todo, para saber se realmente tenho alguma doença séria, por isso não posso dizer pra ninguém se tenho alguma doença grave, ou algum problema de ordem psicológica.
Acontece que nessa manhã, estávamos eu e os membros do CAE (Conselho de Alimentação Escolar), reunidos na Secretaria de Educação, para conferir a prestação de contas dos meses de março e abril, quando fomos convocados pela Secretária de Educação, Lucilene Meneses, para participar de uma reunião convocada pelo prefeito para dar informações sobre um recurso extra do FUNDEB que entrou na conta do município no dia 29 de abril, quinta-feira passada no valor de 486.786,35C.

Nessa reunião, foi chamado para dar esclarecimentos o Senhor Arnold, assessor da educação, para dar informações sobre os recursos e dar justificativas pra os que estavam presentes na reunião. Na oportunidade estavam presentes diversos coordenadores pedagógicos, professores entre outros, pois estava acontecendo um curso com essas pessoas e se aproveitou a oportunidade para dar esses esclarecimentos.

Enquanto o Arnold ia dando suas informações eu ia fazendo observações da assembléia presente e todos pareciam atônitos, admirados e esperando uma reposta favorável ao rateio do dinheiro pra os professores. O Senhor Arnold, como sempre, munido de uma tabela de dados, começou a fazer comparações de dados, de números de alunos, de estimativa de recursos, das dificuldades e etc. Ao Finalizar as suas explicações, perguntou-se se haveria alguém que quisesse fazer alguma pergunta ou comentário a respeito do que havia sido exposto. Eu, portanto, fui o primeiro a fazer minhas considerações. Como não tenho receio de dizer o que penso, pois não devo nada a ninguém, para que possa ter medo de dizer qualquer coisa. Comecei dizendo o seguinte: Olhe primeiro de tudo, quando a Claudia Melo entrou aqui, nesse recinto, parece que havia entrado um bicho. Os olhares de reprovação tomaram conta de alguns. O senhor Prefeito imediatamente ficou de pé para tomar as dores. Disse que isso era uma coisa absurda, pois ninguém havia achado que era um bicho que tinha entrado ali e que ela era bem vinda, embora não tivesse sido convidada. Saiba os leitores que ela não sabia da reunião, veio por que ligamos pra ela.

Como continuei insistindo, dizendo que há pessoas que realmente agem dessa maneira e que nos ambiente de trabalho, quando ela chaga para dar alguma informação, alguns até se escondem.

Nessa hora o Prefeito ficou um pouco irritado e acabou dizendo: “ESSE RAPAZ É DOENTE”, confesso que fiquei surpreso, pelas razões que já mencionei anteriormente, mas tudo bem. Passando a reunião e refletindo sobre o acontecido, preciso dar aqui minha opinião sobre o tema.

Quero dizer para quem quer seja que quero continuar com essa doença que o Senhor Prefeito não citou qual era. Mas essa doença do qual o prefeito não citou é a doença de trabalhar honestamente desde pequeno; é a doença de respeitar as pessoas, a doença de saber que os outros têm o direito de me criticar, é a doença de saber que o que é público é bem de todos, é a doença de não me submeter aos caprichos de quem que seja porque recebi algum  favor e por isso eu tenho que enfiar a padiola num saco e concordar com tudo; sou doente sim, porque luto pra ser coerente com a verdade e comigo mesmo; sou doente porque não traí meus princípios até hoje; sou doente porque tudo que consegui foi trabalhando sol a sol; desejo que Deus me conceda mais uma porção dessa doença pra mim continuar fazendo o que tenho feito e agir como tenho agido.

Desse modo quero claramente dizer que não invejo a “SAÚDE” da qual algumas pessoas estejam acometidas. A saúde da desonestidade, da falta de caráter, da mentira, da fofoca, do apadrinhamento infame, este tipo de saúde eu rejeito e prefiro morrer do mal que minha doença me causa.

O que mais me deixa entristecido nessa história toda é ver inúmeros educadores, pessoas que deveriam se dar ao luxo de serem formadores de opiniões sendo manipulados. Deixarem-se sucumbir diante dos discursos fajutos de tais administradores. Isso é algo que dói. Daí se tira as conclusões para não vermos o mundo mudar. Como é que muda? Se quem tem a capacidade de mudar estão amarrado os pés e as mãos. Amarrados quando sendo educadores pedem pra sair da sala de aula, porque recebem uma gratificação, por isso por aquilo. Preferem calar a verdade em nome do pessoal. É por essas e tantas outras coisas que prefiro ter o título de doente pelo prefeito, pois desse modo não estou incluído entre os que estão dotados de saúde.

Às vezes vemos pessoas que até outro dia estava na sala de aula e de vez em quando estavam nos meus ouvidos buzinando: será que vai ter aumento, será vai ter isso, vai ter aquilo... E depois que virou a casaca, como diz o ditado, como saiu do lado dos que estão doentes, foram para uma coordenação ou pra uma diretoria, que é o lugar dos saudáveis, jogam pedras, fazem caras e bocas quando nos encontram. Pobres criaturas. Quanto tempo isso irá durará? Conte ai, um, dois, três anos... E ai o que aconteceu? Ora está de volta ao lugar onde detestava estar. Tudo nessa vida passa. O que não passa é o valor que damos a nós mesmos. A honra de um homem de verdade não passa, nem que pra isso ele passe fome, tenha que morar na rua, comer farinha com açúcar. Essa é a virtude que peço a Deus todo dia. O resto é resto e passa como o vento que sopra pela manhã. Sei das minhas limitações e defeitos, mas sei acima de tudo da capacidade que tenho de ser gente e fazer-me gente. Ando de cabeça erguida e de fato não tenho medo de nada. Porque comigo está aquele que é Deus. Ainda que eu ande pelo vale escuro, nada temerei...

Gente! Quero ser doente e até morrer do mal de não me submeter aos caprichos de quem quer que seja, nem muito menos enterrar os meus princípios.

Prefiro o câncer da honestidade, a lepra dos valores que tornam o homem honrado do que a saúde que leva ao desprezo universal.

PROFESSOR VALDENI CRUZ

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