PSDB vai pedir explicação de Lula sobre encontro com ministro
O líder do partido na Câmara dos Deputados, Bruno Araújo (PE), disse estar estarrecido com a notícia
DA FOLHA
O PSDB vai decidir na segunda-feira (28) qual medida judicial tomará para que o ex-presidente Lula se explique sobre a informação de que procurou o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes para tentar adiar o julgamento do mensalão.
O líder do partido na Câmara dos Deputados, Bruno Araújo (PE), disse estar estarrecido com a notícia.
Segundo reportagem da revista "Veja", Lula ofereceu ao ministro blindagem na CPI que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários.
"Não é admissível que qualquer autoridade, especialmente um ex-presidente, tenha em seu poder informações fundamentais para as investigações e que, ao contrário de partilhá-las, faça uso político das mesmas", afirma o deputado.
CONVERSA
Mendes confirmou à Folha o encontro e o teor da conversa, revelada ontem, mas não quis dar detalhes. "Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente."
O encontro aconteceu em 26 de abril no escritório de Nelson Jobim, ex-ministro de Lula e ex-integrante do STF.
O petista disse ao ministro, segundo a revista, que é "inconveniente" julgar o processo agora e chegou a fazer referências a uma viagem a Berlim em que Mendes se encontrou com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), hoje investigado por suas ligações com Cachoeira.
Membro do Ministério Público, Demóstenes era na época um dos interlocutores do Judiciário e de seus integrantes no Congresso.
Procurada pela Folha, a assessoria de Lula negou o conteúdo da conversa e afirmou que nunca interferiu em processo judicial. À "Veja", Jobim disse não ter escutado a conversa.
No encontro com Lula, Gilmar teria se irritado e dito que o ex-presidente poderia "ir fundo na CPI". Em abril, a Folha revelou que Lula havia organizado uma ofensiva, com a participação de integrantes do PT que possuem interlocução no Judiciário, para aumentar a pressão sobre o STF.
O petista disse a aliados temer que a análise do mensalão se transforme num julgamento de seu governo.
Segundo a "Veja", o próximo passo de Lula seria procurar o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, também para adiar o julgamento. Em recente almoço no Alvorada, Lula convidou Britto para tomar um vinho com ele e Celso Bandeira de Mello, um dos responsáveis pela indicação do atual presidente do STF.
À Folha Britto também confirmou o convite, mas disse que não percebeu malícia e que não houve encontro.
"Tive com Lula umas quatro vezes nos últimos nove anos e ele sempre fala de Bandeirinha [Celso Bandeira]. Nunca me pediu nada." Britto diz que a "luz amarela" acendeu quando ouviu o relato de Mendes. "Mas de imediato apaguei. Lula sabe que eu não faria algo do tipo."
A revista também diz que Lula contou a Mendes que delegaria ao ex-ministro do STF e presidente da Comissão de Ética da Presidência Sepúlveda Pertence a tarefa de falar sobre o julgamento com a ministra Cármen Lúcia.
Sepúlveda negou ontem que Lula tenha feito o pedido e disse lamentar que Mendes tenha dado "declaração sobre conversas, reais ou não, que tenha tido com um ex-presidente da República".
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