Grupo é condenado por matar jovem durante exorcismo na Bélgica
Latifa Hachmi morreu em agosto de 2004, depois de ser submetida durante
um mês a uma violenta prática de exorcismo na esperança de conseguir
engravidar.
O processo, admitido entre alguns grupos islâmicos - religião de todos
os envolvidos no caso - é conhecido como Roqya, uma mistura de magia e
religião.
Segundo a juíza Karin Gérard, a vítima foi golpeada "uma centena de
vezes" com sandálias e bastões cobertos com versos do Corão, o livro
sagrado dos muçulmanos, depois de ter sido obrigada a beber enormes quantidades
de água suja e a passar dias sem comer.
Hachmi também foi forçada a permanecer com fones de ouvido durante o
processo para escutar incessantemente versos do Corão.
Mas, segundo o laudo dos médicos, o momento fatal teria ocorrido quando
Hachmi, com os pulsos e os joelhos atados, foi submersa em uma banheira com
água "extremamente" quente e quase se afogou.
"Eu quis pedir ajuda, mas os outros (dois exorcistas e três
"curandeiras" responsáveis pela sessão) disseram que Latifa não
sofria, era os Djinns (demônios) que estavam sofrendo", afirmou ao
tribunal Mourad Mazouj, marido da vítima e um dos condenados.
Desespero
Durante o processo, Mazouj assegurou que o exorcismo foi realizado a
pedido de sua própria esposa, para conseguir engravidar.
"Ela queria esse tratamento e concordava com ele. Hachmi tinha
decidido abandonar a medicina tradicional (para aumento da fertilidade) e tinha
escolhido a Roqya", afirmou a advogada de Mazouj, Carine Couquelet.
De acordo com Antoine Chomé, advogado de Xavier Meert, um dos exorcistas
condenados, seu cliente queria apenas ajudar a vítima, que estava desesperada
com sua incapacidade de engravidar.
"Ele quis ajudar, ainda que de uma maneira catastrófica. Não se
deve classificar o quase afogamento como uma tortura, mas, sim, como uma falta
de discernimento", argumentou.
O tribunal belga, por outro lado, entendeu que os atos cometidos contra
Hachmi se qualificam penalmente como tortura.
A pena para este caso varia de 20 a 30 anos de prisão e será anunciada
na próxima segunda-feira.
BBC
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