Não somos absolutamente de perder o ânimo para nossa ruína; somos de manter a fé para nossa salvação!” (Hb 10, 36-39).
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
NOSSA JUVENTUDE
O QUE PENSAM OS JOVENS?
Professor Valdeni Cruz
Quer saber o que os jovens pensam? Então vá procurá-los. Eles dizem o que sentem de perto pra nós professores. Eu escuto todos os dias seus anseios, seus medos, suas dúvidas.... Como educador tento o tempo todo animá-los a irem adiante e enfrentarem os desafios da vida. Eles se empolgam mas a vida é cruel com muitos deles. Alguns destes meninos tem no olhar o ar da tristeza e do abandono da vida para com eles. É nestas horas que eu, mesmo não concordando, entendo suas atitudes diante da tentação de alguns reais oferecidos pelos candidatos para que estes votem pelo dinheiro. Falo com veemência sobre o assunto, mas a realidade e muita dura. Você pode imaginar um jovem com 15, 16...25 anos sem ter uma roupa digna, um sapato digno, uma certa quantia de dinheiro para ir uma festa, tomar um sorvete, presentear o(a) namorado (a) ir a um ambiente de lazer? Pois é são estes jovens que nós professores temos em nossas humildes salas de aula. Eles dizem pra gente: será mesmo professor que tem alguém que pense com sinceridade num futuro pra nós? Muitas vezes temos que engolir a seco porque não temos respostas para lhes dar. E não temos porque já estamos um pouco mais experientes do que eles. O que digo é que a vida realmente não é fácil, mas muitos conseguiram vencer os desafios e estão indo em frente. É preciso crer e fazer alguma coisa. Só não podemos é ficar parado vendo o trem passar...
Muitos de nós já sofremos o pão que o diabo amassou para chegarmos aonde chegamos. E em nosso tempo também ouvíamos promessas de pessoas dizendo que o nosso futuro seria brilhante mas era tudo ilusão. Será que poderíamos esperar por dias melhores desta vez.
Nossa juventude tem sonhos e elas acreditam, mas se estes sonhos não se realizam ai vem as frustrações e é neste momento que muitos pensam em entrar noutros caminhos.
Portanto, é hora de investir nos sonhos da juventude. São eles que construirão o nosso futuro, mas eles tem que ver este começar a acontecer agora
Professor Valdeni Cruz
CONHECENDO UM POUCO DE ALGUNS FILÓSOFOS
David Hume (1711 -1776)
Baruch Spinoza (Benedito Espinosa) (1632 -1677)
John Locke (1632 - 1704)
René Descartes (1596 -1650)
Isaac Newton (1642 -1727)
João Kepler (1571 - 1630)
Galileu Galilei (1564 - 1642)
Nicolau Copérnico (1473 - 1543)
Guilherme de Ockham (1285-1347/1349?)
João Duns Scoto (c. 1266-1308)
Raimundo Lúlio (1232-1316)
Roger Bacon (1214-1294)
Tomás de Aquino (1224-1274)
Alberto Magno (1193-1280)
Roberto de Grosseteste (1175-1253)
Bernardo de Claraval (1090-1153)
Pedro Abelardo e Heloísa (seg. met. do século XI e primeira met. do séc. XII)
Anselmo (1033 a 1109)
Moisés ben Maiônides (1135-1204)
Ibn Gabirol (1021-1058)
Avicena (980-1037)
Al-Kindi (801-873)
Iluminura Medieval contendo o zodíaco.
Iluminura medieval
Boécio (c.480-524).
Aurélio Agostinho (354-430)
Jerônimo (345-419)
Tertuliano (160-220)
Clemente de Alexandria (c.150-215)
Irineu (140?-202)
Justino Mártir (c.100-165)
Paulo de Tarso (séc. I)
Jesus e João Batista (séc. I)
Zenão de Cício (final do séc.IV-início do séc. III a.C.)
Epicuro (341-270 a.C.)
Pirro (c.360-c.272 a.C.)
Diógenes de Sínope (c.412-323 a.C.)
Antístenes (c.444-c.371 a.C.)
O fogo.
O UNIVERSO – TRÊS PERSPECTIVAS HISTÓRICAS
(Prof. José Antônio Brazão.)
NO MUNDO EUROPEU
MEDIEVAL
(aprox. séc. IV/V – XV
d.C.)
1) Geocêntrico e fechado (finito). Para além
dele, a habitação de Deus.
2) Movimento circular uniforme dos astros.
Órbitas circulares. Círculo: símbolo da perfeição, pois é a única figura
(forma) geométrica que começa e termina em si mesma.
3) Criado por Deus, conforme Gênesis 1 – 3.
4) Regido por Deus, segundo a perspectiva
religiosa então predominante (cristã).
5) Universo macroscópico: Terra (parada no
centro), Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e esfera das
estrelas. O movimento das esferas celestiais ocorre de fora para dentro, reduzindo-se
gradativamente, até parar no centro (Terra estática).
6) Hierarquizado: mundo sublunar (Terra) e
mundo supralunar (Lua e demais astros).
7) O poder de Deus dirige o universo e o põe
em movimento.
8) Universo heterogêneo: há dois diferentes
níveis (sublunar e supralunar), com leis diferentes [o mundo supralunar não
está sujeito ao devir e seu movimento é regular; o mundo sublunar está sujeito
ao devir (mudança) e seus movimentos são irregulares].
9) Criado em seis dias, de acordo com a
Bíblia (Gênesis 1).
10) Composições diferentes: a) Mundo sublunar
(Terra): composto pelos 4 elementos (raízes) de Empédocles (água, ar, terra e
fogo); b) Mundo Supralunar (Lua e demais astros): composto por éter, substância
pura e cristalina, não havendo vácuo. O mundo supralunar não tem defeitos, é
harmônico e bem ordenado.
11) A vida na Terra foi criada por Deus e
definida como aí está (criacionismo bíblico): Gênesis 1 – 3. Homem e mulher são
imagem e semelhança de Deus (Gn. 1): “Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa
imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do ar, as
aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que
rastejam sobre a terra.’ Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o
criou, homem e mulher ele os criou.” (Gênesis 1, 26 -27).
12) Destaques em seu estudo (princípio de
autoridade): Bíblia, Cláudio Ptolomeu (séc. II d.C.), Aristóteles (séc. IV a.
C.), dogmas e ensinamentos da Igreja Católica eram as autoridades que davam bases
a essa perspectiva. Cláudio Ptolomeu, tentando corrigir distorções, acrescentou
epiciclos às órbitas circulares.
NO MUNDO OCIDENTAL
MODERNO
(aprox.. séc.XVI -
XVIII)
1) Entre o finito (heliocentrismo
copernicano) e o infinito (p. ex.: Giordano Bruno e Blaise Pascal).
2) Com Kepler: descoberta do movimento
elíptico dos planetas. Kepler descobriu, inclusive, leis que regem o movimento
planetário. Newton comprovou o movimento elíptico planetário, ao descobrir a
lei da gravidade, e Halley estudou detidamente o dos cometas, tendo descoberto
um que leva seu nome.
3) De acordo com os religiosos, criado por
Deus. De acordo com ateus, tudo é explicado pela matéria e pelas reações e
movimentos que nela ocorrem. Vale lembrar que o geocentrismo conviveu, por
algum tempo, ainda, com o heliocentrismo. O sistema astronômico geocêntrico é
citado, inclusive, em Os Lusíadas, do escritor português, renascentista,
Camões.
4) Abertura para uma perspectiva mais
científica, com novas descobertas acerca do universo e do mundo natural
(Revolução Científica Moderna). Leis naturais regem o universo (ex.: gravidade
e leis descobertas por Newton, Kepler e outros).
5) Universo macroscópico [Sol (no centro),
Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, esfera das estrelas (sistema de Nicolau
Copérnico)] e microscópico (invenção do microscópio e, com ele, a descoberta de
células e seres unicelulares).
6) Progressivamente foi-se perdendo a noção
de hierarquia no universo. (Ver no. 10 a seguir.)
7) Leis naturais regem o universo (ex.:
inércia, gravidade...).
8) Homogêneo. As mesmas leis governam o
universo e a Terra. P. ex., a lei da gravidade explica tanto o movimento dos
astros como a queda de uma maçã. No campo da física, ainda, a lei da inércia, a
lei da ação e reação, dentre outras.
9) Durante bom tempo, permanência da
contagem de tempo bíblica.
10) Galileu Galilei descobriu buracos, montes e
vales na Lua, manchas no Sol, luas em Júpiter, com o telescópio (luneta aperfeiçoada), pondo
abaixo a distinção entre sublunar e supralunar. Antes dele, Copérnico já havia
descoberto que a Terra é nada mais que um planeta que, como os outros, gira ao
redor do Sol (translação anual) e de si mesma (rotação diária).
11) Início de descobertas dos seres unicelulares.
O microscópio foi inventado. Porém, o criacionismo bíblico manteve-se entre os
religiosos e em boa parte do campo das ciências. Michelangelo Buonarroti (1475
– 1564), o pintor italiano renascentista, na Capela Sistina do Vaticano,
inclusive, havia pintado o momento da criação do homem por Deus. Outros
pintores renascentistas e posteriores também fizeram pinturas da criação. O
divino e o humano juntos.
12) Destaques em seu estudo: Nicolau Copérnico,
Galileu Galilei, Johannes Kepler e Isaac Newton, dentre outros. No campo da
Filosofia, vale a pena citar a aplicação comparativa da precisão da máquina ao
corpo humano em René Descartes e o materialismo de Thomas Hobbes, o ateísmo de
certos iluministas(ex.: Diderot).
NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
(aprox. séc. XIX – XXI)
1) Sem limites visíveis. Dispõe de galáxias
que estão em movimento contínuo, desde o BIG BANG (a Grande Explosão
originária).
2) Movimento elíptico dos planetas e outros
astros (ex.: cometas). Outros movimentos na natureza: retilíneo, curvilíneo,
uniforme, variado, uniformemente variado, acelerado, etc.
3) Perspectiva explicativa predominante no
campo do saber: científica. A ciência busca objetividade e universalidade, mas
NÃO é neutra. As religiões continuam existindo e dão também suas explicações
teológicas para o mundo. Porém, a ciência busca uma universalidade que não se
encontra nas explicações de diferentes religiões e no senso comum.
4) A ciência não apela para o divino. Leis
naturais. O universo originou-se a partir do Big Bang (a grande explosão), há
mais ou menos uns 13,5 bilhões de anos.
5) Entre o imenso (macro) universo, composto
por bilhões de galáxias, muitos sistemas solares (ou melhor, estelares),
buracos negros, etc., e o minúsculo (micro) universo de átomos, subpartículas,
microrganismos. Partículas e subpartículas atômicas (exemplos): elétrons,
nêutrons, prótons, quarks, bósons, etc.
6) Não
hierarquizado. Nele, aliás, existem muitos objetos celestiais, para além dos
que já eram conhecidos, como as galáxias e os buracos negros.
7) Leis naturais regem o universo. Ex.:
relatividade, leis quânticas, além da gravidade e outras.
8) Os
elementos químicos estão espalhados em todo o universo. Além das leis já
descobertas pela física clássica, as leis da relatividade (de Einstein) e
outras referentes ao mundo das partículas e subpartículas.
9) Universo com cerca de 13,5 bilhões de
anos. Nascido do BIG BANG. A Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos.
10) Composto por átomos (mais de cem elementos
químicos) e conduzido por leis universais. O vácuo existe. Os átomos, por sua
vez, são compostos de partículas ainda menores, chamadas subpartículas
atômicas. Não se descobriu, ainda, uma lei unificada para todos os fenômenos
físicos e universais, apesar de tentativas como as de Einstein.
11) Evolucionismo: as espécies existentes
surgiram, segundo Darwin, por um processo de evolução por meio da seleção
natural, ao longo de milhões (hoje se sabe que bilhões) de anos. Comprovação
fóssil, geológica e genética. Choque com o criacionismo e a semelhança com
relação a Deus. No evolucionismo, com efeito, os seres humanos evoluíram a
partir de outras formas vivas, primitivas, e têm grande semelhança com relação
a outros animais e proximidades até mesmo com as plantas. Curiosamente, no
Gênesis 1, apenas eles se assemelham a Deus, como imagem e semelhança.
Criacionistas britânicos e de outros lugares atacaram duramente as teses
evolucionistas de Darwin. (Ver o número 11 relativo ao mundo medieval.)
12) Destaques em seu estudo: Albert Einstein, Max
Plank, Marie Curie e seu esposo Pierre Curie, Edwin Hubble e outros, inclusive
bem próximos, como Stephen Hawking e Carl Sagan. Quanto à vida: Charles Darwin,
Gregor Mendel, geneticistas, biólogos e outros. No campo da filosofia: as
descobertas da Física, p. ex., de Einstein, tiveram forte influência sobre o
POSITIVISMO LÓGICO. As descobertas científicas apontadas, além de outras,
exerceram, sem dúvida, influências fortes em várias outras correntes da
filosofia contemporânea.
Referências simples:
livros (1) CONVITE À FILOSOFIA (Ed. Ática).
(2) FILOSOFANDO: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA (Ed. Moderna). (3) FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA (Ed. Saraiva).
Todos atualizados. (4) BÍBLIA DE JERUSALÉM (Ed. Paulus). SITE:
www.wikipedia.org .
Para debater em sala de
aula, acerca do embate entre criacionismo e evolucionismo:
Sendo parentes dos
símios e de outros animais, em termos evolutivos, como ficam a imagem e a
semelhança entre os seres humanos e Deus? (Por esta pergunta pode-se ter uma
ideia da dificuldade encontrada por Darwin em publicar logo suas ideias, no
século XIX, o que vale a pena também ser debatido em sala de aula.)
ATIVIDADE: Em uma ou
mais folhas brancas ou do caderno, faça um DESENHO para cada uma das
perspectivas apresentadas. Pode usar lápis e/ou caneta(s). No caso das duas
primeiras perspectivas, caso disponha de um compasso, utilize-o, a fim de dar
precisão à circularidade das órbitas dos astros celestiais. Professor(a) de
Filosofia, lembre-se: O desenho ajuda a fixar e a entender melhor o conteúdo
apresentado em cada uma das perspectivas. Pode ainda ser feito um debate, a fim
de perceber como a filosofia se põe, ao longo do tempo, diante das discussões
acerca do mundo, da realidade e como estas tinham e têm repercussões a nível de
poder, seja ele político, religioso, cultural, científico e até mesmo
econômico. Podem ser feitos cartazes, em pequenos grupos de estudantes, em
todas as turmas. Outras atividades: use a criatividade, invente. A proposta é
enriquecer o aprendizado e reforça-lo, ajudando o desenvolvimento da capacidade
de reflexão filosófica e da postura dos e das estudantes diante da realidade e
do pensamento científico, geral e do conhecimento.
Vale lembrar o cuidado
necessário com a datação: sem rigidez! A história é fluida e não se prende a
datas fixas. Estas, porém, nos dão uma ideia de regularidade e de apresentação
didática, mantendo-se importantes para o aprendizado.
Postado por José
Antônio Brazão
UM TESTEMUNHO DIGNO DE UM BISPO - LEIAM
DOM EDMÍLSON 30/12/2013
Confissões de um bispo
Como ser humano, o sacerdote Edmílson da Cruz confessa ser um homem vibrante e profundamente afetivo. Mas a inabalável opção pela vida de padre o ensinou a atravessar as tentações e amar o feminino pelos olhos do Evangelho
O título de bispo emérito (de Limoeiro do Norte) não traduz a potência que ainda reina em dom Edmílson da Cruz. Aos 89 anos, ele não encarna a imagem do “padre velho” aposentado. O contrário. Apesar da escoliose que desenha seu corpo em “S”, a disposição é tamanha, que a casa simples onde mora, na Visconde do Rio Branco, se transformou em “praça” de receber naipes de gente que carecem de sua experiência de vida.
Para além dos conselhos pessoais, é para lá que correm os que precisam de um respeitável mediador de conflitos sociais. No mês passado, por exemplo, estavam na sala de visitas do bispo: professores, estudantes, senadores, deputados e vereadores. Articulavam uma solução para a greve na Universidade Estadual do Ceará
Foi da morada de dom Edmílson, também, de onde partiram os homens que foram tentar com o governador do Ceará, Cid Gomes, um desfecho sem sangue para a “perigosa” paralisação da Polícia Militar.
Fora a atuação sócio-política-pastoral, dom Edmílson é generoso ao revelar faces menos conhecidas de personagens como dom José Antônio Tosi, arcebispo de Fortaleza. Criticado pela atuação omissa frente às pautas sociais da Cidade, dom Edmílson o desenha como “inspirador” e um “gestor” eficiente. Atributo técnico que também reconhece em Cid Gomes. “Competente”, porém desconhecedor da “alma humana”.
Na penúltima semana de 2013, dom Edmílson nos recebeu para um encontro que nem havia sido marcado. Foram mais de duas horas de conversa. E entre os diálogos, a curiosidade sobre as tentações de um bispo e de como, um homem perto de completar 90 anos, se prepara para o futuro que está à porta. E é ele quem dá o pontapé. Confira.
Dom Edmílson – Você sabe que eu estou na idade mais feliz da minha vida?
O POVO – Aos 89 anos?
Dom Edmílson – Sim senhor. A mais gostosa, a mais diferente. Preste atenção: isso aqui (pega na pele) já deixou de ser couro, agora é película. Isso é um processo inexorável e quase imperceptível. Passa para os músculos, para o braço. Cadê o braço? Está se acabando. Isso é visível. Passa para os ossos, eu sou praiano, bem alimentado, mas quando eu tinha 40 anos tinha condição de arrancar um percevejo (tipo de alfinete) com a unha. Hoje se fizer isso, ela se quebra. Dentro desse contexto, o que pode acontecer de melhor, humanamente falando, é que digam que eu faleci por falência múltipla dos órgãos. Isso em latim chama-se “defungir”, defuntar, desfuncionar. Bom, de 80 anos em diante, tudo é saldo. Quando se chega na idade que eu cheguei, o que vier - saúde ou doença, tristeza ou alegria - não deve ser considerado como a subida de uma montanha. Um sacrifício, um sofrer. Deve ser como um elevador que vai levando você à plenitude. Isso é a felicidade. Eu me sinto mais feliz em relação a qualquer idade de minha vida. Mas Santa Teresinha chegou à plenitude aos 24 anos. É possível também.
OP – Estou com 47 anos, penso que ainda tenho pelo menos mais 40 anos de vida...
Dom Edmílson – Ninguém pode saber disso, não. Quero te dar um conselho, velho bom é velho magro. Facilita até na hora de levarem (risos).
OP – Em 2014 o senhor completará 90 anos. Como uma pessoa nessa altura do tempo programa a vida para o ano novo?
Dom Edmílson – Não programo, o programa chega. Eu tenho coisa marcada como padre, como bispo, como cristão.
OP – Mas falo de projetos individuais?
Dom Edmílson – As irmãs josefinas estão querendo que eu vá à França no próximo ano (dom Edmilson mora numa casa da arquidiocese de Fortaleza com três religiosas). Há coisas programadas por causa da função pastoral. Outras não estão programadas e eu faço com a alma, como participar dos trabalhos da Comissão de Justiça e Paz da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Os bispos do Ceará me confiaram acompanhar a Comissão. Uma Comissão que é atuante e não é omissa. Há um pensamento bíblico que diz: “O homem se agita e Deus o conduz”.
OP – Por que é tão difícil perdoar no caminho da vida?
Dom Edmílson – Porque as coisas devem ser entendidas na pessoa como ela é, não como acho que ela deve ser. Você encontra pessoa que não perdoa uma palavra, mas encontra outras que perdoam uma punhalada no coração. Há o exemplo do papa João Paulo II (que perdoou o homem que atirou nele) e outros. A realidade humana é tão profunda. Deus fez tão bem feito, que é inconcebível uma pessoa agir a não ser motivada pelo bem. Mesmo que o bem para ela seja o mal para os outros. Até um mal abominável. Mesmo a pessoa por pior que ela seja ou se diga a pior, ela faz “só de mal” aquilo que ela julga ser o bem pra ela. Isso é uma base muito séria, humanamente falando, para saber perdoar. Há também a graça de Deus que nos dá a condição de participante da natureza de Deus.
OP – O senhor alguma vez duvidou da existência de Deus?
Dom Edmílson – Nunca. Duas coisas que nunca duvidei: uma é da existência de Deus. A segunda é a vocação para ser padre. Bispo não, nunca pensei em ser bispo. Nunca tive nenhuma dúvida, em nenhum instante na vida, que eu iria ser padre.
OP – Quando o senhor foi tocado?
Dom Edmílson – Não sei dizer.
OP – O senhor alguma vez, nesses 89 anos, se apegou a algum cargo ou bem material?
Dom Edmílson – Estava eu Sobral, padre novo, e tinha um sapato especial de fivela de prata que eu só usava na Ordenação (cerimônia de “formatura” de padres). Os sapatos eram uma coisa de estimação. Então, houve férias e começaram uma reforma, uma pintura, no prédio da igreja. Quando eu cheguei, tinha desaparecido. Nunca pensei que alguém fosse pegar aquilo. Passei um tempinho sofrendo com aquilo, uns três dias, depois passou.
OP – O senhor disse que nunca teve dúvida sobre o sacerdócio. Mas nunca desejou uma mulher, casar-se, amá-la, ter filhos?
Dom Edmílson – Nunca, nunca. E não é porque não goste, não. Eu tenho muita dedicação a muitas mulheres, como filhas espirituais. Amo muito mesmo, isso é outro nível de amor.
OP – Como homem, como o senhor fez para conter os desejos sexuais?
Dom Edmílson – Não é fácil não. Sou uma pessoa extremamente afetiva, que ama muito. Também nessa área a tendência é muito forte. E só pode ser muito forte porque se eu fosse frustrado, seria um doido, um homem esquisito. Vou responder mais completamente. Agora, nessa idade, concluo, que todo homem e toda mulher têm como primeira vocação ser pai e mãe. Se não realiza isso, pode ser um santo, mas será um santo truncado. O homem em mim é um homem vibrante, profundamente erótico, mas graças a Deus sem afobação. E nunca houve imposição pra mim, se alguém disser que fui padre por imposição não é verdade. Minha mãe queria muito que eu fosse padre, mas quando chegou o tempo do diaconato, hora de decidir pelo sacerdócio, ela me chamou e disse que não entraria a palavra dela. Oh mulher extraordinária! Era minha a decisão. Foi opção de vida, sou livre da graça de Deus. Agora, por que é assim (o desejo)? Porque somos pessoas humanas. Uma pessoa como eu é cercada de saias. E saia é saia! (E me conta um segredo, “absoluto segredo”, para usar o exemplo de um padre do Interior do Ceará que passou por uma situação de sedução).
OP – Muitos e padres e freiras chegam para o senhor, em confissão, para dizer que estão no limite desse dilema?
Dom Edmílson – Já encontrei, uma vez ou outra. Vou contar outro caso, esse mais espantoso. Um padre jovem, brilhante, inteligentíssimo, poeta, generoso... chegou em uma determinada paróquia e foi um encanto para a cidade. Uma vez chegou lá uma senhora atabalhoada. “Padre, eu vim pedir um apoio do senhor como meu pastor. Pelo amor de Deus, me salve. Eu estou apaixonado por um homem”, ela disse. “Não minha filha, se acalme, confie em Deus e Nossa Senhora. Leve essa noveninha, fique rezando, vai passar”, ele falou. Alguns dias depois, lá vem ela de novo. “Seu padre, fez foi aumentar”. Ela foi embora e numa noite bateu à porta. Quando o padre abriu a porta, ela foi se abrecando com ele. Uma fúria danada. Mais abrecada mesmo, corpo a corpo. Ele tentava se desligar dela e ela nada. Então o padre disse: “Eu vou matar você agora. Se você não sair já-já, vou matar você. Não é você, é o demônio e eu não vou permitir que o demônio faça isso”, o padre disse. O resto da noite ele passou, você pode imaginar como. No dia seguinte, ele foi para a diocese, o bispo ficou encantado com ele e mandou ele para outra paróquia. Mas veja como são as coisas, um tempo depois, ele renunciou ao sacerdócio e se casou. Jovens, tempo do Vaticano II... Ele e um colega dele, brincando, diziam que “se pensamento gerasse, já tinha sido gerado muitos meninos” (risos). Rapaz, não há segurança a não ser a segurança da pessoa mesmo.
OP – É parte do humano.
Dom Edmílson – Agora, tem uma coisa, isso importante: nunca, jamais, engula sapo nem lesma podre. Se você tem de enfrentar isso aí, transforme uma lesma podre em escargot, gostoso. Comida francesa. Se não transformar ela vai estourar e apodrecer você por dentro. Não tem jeito. Se é pra ser, haja do modo correto.
OP – O senhor transformou muito sapo em escargot?
Dom Edmílson – Posso lhe dizer assim, não. Graças a Deus, Nosso Senhor tem sido muito bom comigo. Não foi que faltasse, não. Houve um caso então, perigoso mesmo. Não sei se foi milagre, mas graças a Deus cheguei ao outro lado em paz.
OP – Se o senhor voltasse a ser padre, lá nos começos, o que o senhor faria diferente?
Dom Edmílson – Eu não tinha plano, meus planos eram o que me pedissem. Aí fui formatando o meu viver. Método, para certas coisas como para os estudos, eu tinha. Mas ainda hoje é assim, a minha primeira prioridade é ouvir as pessoas. Aqui nessa casa, onde estou desde 1998, entra de drogado a cardeal. No mês passado teve uma reunião, que durou três horas e meia aqui com os trabalhadores da Uece, eles vieram me pedir para mediar um diálogo com o governador Cid Gomes. Estavam aqui os senadores José Pimentel (PT), Inácio Arruda (PCdoB), deputados, vereadores, juízes e estudantes. Por aqui também passou a mediação da greve da Polícia Militar. Nunca Fortaleza passou por dias tão aflitos, tão perigosos. Graças ao bom Deus mandaram pra cá o coronel Monteiro Filho, do Exército. Daqui, depois de muitas discussões, liguei para dom José Antonio (arcebispo de Fortaleza) e fomos para uma reunião lá que durou duas horas. No dia seguinte, fomos nos encontrar com o governador. Lá, ele disse que era governador do Ceará, dos cearenses, que não podia ser governador de uma causa só. Disse, ao lado do Mauro Filho (secretário da Fazenda), que a situação dos Bombeiros e da Polícia Militar do Ceará era a melhor do País. Botina especial, colete a prova de bala, carga horária reduzida de 48 para 40 horas, viaturas... “Então, só tenho uma coisa a fazer: punir”, o governador disse sem perder a calma. A palavra passou para o arcebispo que falou pouco, mas foi inspirado: “Governador, nós estamos diante de uma situação que é preciso dobrar sem quebrar”.
OP – E o senhor?
Dom Edmílson – Comecei dizendo que as experiências da vida tinham de ser aproveitadas. Isso para que problemas, dados como resolvidos, fossem (realmente) resolvidos. Usei o exemplo da greve dos professores (da rede pública de ensino), um caso que ainda não estava resolvido. A prova é tanto que as paredes da Assembleia Legislativa estavam manchadas de sangue. A história foi longe. O que quero dizer é que o homem (o governador) é um técnico, competente, mas acontece que lhe falta a percepção mais profunda da alma humana.
OP – O senhor disse que dom José Antônio foi inspirador no episódio da greve. Ele é um homem que não participa da vida de Fortaleza ou é um personagem de bastidores?
Dom Edmílson – Participa. Agora, do jeito dele. Ele é um homem profundo. Não diria que ele é de bastidores, pois seria limitá-lo. Mas ele é muito reservado. Embora eu não concorde com ele em muitas coisas,ele é muito sensato. Dom José Antônio tem uma alma de artista, ele toca muito bem. Dom José Antônio passa duas horas na cozinha. É um exímio cozinheiro. No aniversário dele, ele passou horas fazendo o churrasco e ele mesmo serviu aos convidados. Foi o último a se servir. Vi ali um gesto duplamente evangélico. Com mais dez anos, ele vai deixar a igreja daqui com uma organização eclesiástica no máximo.
OP – Ele é mais gestor do que pastor?
Dom Edmílson – Bom, a pergunta é sua e não sei se posso responder porque não posso julgar. Éle é um homem distinto. Uma vez o vi chorar diante de uma situação de um problema com um padre. Ele não é omisso. Se você visse, como eu vi mais de uma vez, dom José, ao servir aquilo que ele preparou, o amor com que ele faz, a alegria que ele tem, você fica edificado. Quer dizer, não posso falar de um homem desses. Você se encanta ao ver aquele homem humilhado. Bem simplezinho, entregando aquele prato. Ele sente uma felicidade tão grande, só pode ser um gesto evangélico!
OP – O problema é que a gente julga muito.
Dom Edmílson – É. E sem compreender que cada qual tem sua história.
OP – O papa Francisco é sincero ou há no discurso dele uma estratégia política para recuperar a imagem da Igreja Católica ?
Dom Edmílson – Aquilo ali é mensagem evangélica legítima. Isso para mim não tem nenhuma dúvida.
OP – O senhor sabe quem é Deus depois de 89 anos de vida?
Dom Edmílson – Acho que sim. O importante não é saber se você adora Deus, é qual Deus você adora. Por quê? Deus foi inspirando ao homem, desde o início, a sua própria pessoa e natureza. A começar pela imagem dele que é a de um homem. A imagem mais perfeita de Deus é a do homem e da mulher. Os anjos são muito mais perfeitos na ordem espiritual, mas o homem e a mulher são em todas as ordens. E basta você olhar para a natureza que você perceberá. O oceano, por exemplo, é uma indagação que não tem resposta. É difícil imaginar um oceano nascido e criado do jeito que é, sem uma explicação prévia. Então, Deus vai inspirando o homem por meio da consciência livre e eles vão fazendo suas imagens de Deus. No Egito, uma batata foi considerada Deus. Era alimento, vida, havia uma lógica. O Boi Ápice era outra forma, por exemplo. Qual é o Deus que eu aceitei mesmo? Não estou com dúvida sobre Deus, não. Estou com dúvida de mim.
OP - Qual Deus o senhor construiu até aqui?
Dom Edmílson - Acho que foi mais ele que contruiu em mim. O Deus que está em mim e que está em você é um Deus ilimitado.
FONTE: O POVO
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Piso salarial do professor: saiba quem tem direito ao reajuste nacional
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Um velho carpinteiro estava para se aponsentar. Ele contou a seu chefe os seus planos de largar o serviço de carpintaria e de construção ...
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Aristóteles começou a escrever suas teorias políticas quando foi preceptor de Alexandre, “O Grande”. Para Aristóteles a Política é a c...