segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Jesus, o amor de uma vida




Estava lendo, hoje, um trecho da Epístola de Santo Inácio de Antioquia aos Romanos. Recorde, meu Leitor, que este santo bispo, que chegou a conhecer São Paulo, foi discípulo de São João Evangelista e segundo ou terceiro sucessor de São Pedro na sede episcopal de Antioquia da Síria, pelo fim do século I ou início do II foi levado a Roma prisioneiro no tempo do Imperador Trajano.

No trecho que li o bispo pede aos cristãos de Roma que não deem um jeitinho, de modo que ele fique livre de morrer por Cristo. Vejam só suas palavras, sempre comoventes para quem as lê: “Temo que a vossa caridade me venha a prejudicar, porque a vós é fácil obter o que quiserdes, mas a mim ser-me-ia difícil alcançar a Deus, se não tendes piedade de mim. Não quero que agradeis aos homens, mas a Deus... Se não falardes em meu favor, eu tornar-me-ei palavra de Deus; mas se amais esta minha vida segundo a carne, voltarei a ser apenas uma simples voz. O melhor favor que podereis fazer-me é deixar que eu seja imolado para a glória de Deus... Deus concedeu ao bispo da Síria a graça de alcançá-lo, fazendo-o vir do Oriente ao Ocidente. É bom que se ponha o sol da minha vida neste mundo, para que volte a nascer na aurora de Deus”.

Eis! Palavras realmente impressionantes: para Inácio de Antioquia morrer nos dentes das feras do Coliseu é alcançar a Deus. Ele previne aos romanos que procurar livrá-lo do martírio é agradar aos homens, é pensar e agir segundo a lógica meramente humana e não segundo Deus. Depois, veja só que imagem, que ideia: se os cristãos de Roma guardarem silêncio e não evitarem que seu processo corra, ele, então será uma palavra viva de Deus; se salvarem sua vida do martírio, ele será apenas uma voz, voz humana! E por isso, afirma claramente aos romanos: “O melhor favor que podereis fazer-me é deixar que eu seja imolado para a glória de Deus!” Finalmente, pensando no curso do sol, que nasce no leste e se põe ao oeste, ele diz que vem de Antioquia na Síria, parte oriental do Império, para Roma, no ocidente, para aí morrer, como o sol. Mas, se o sol da sua vida neste mundo se puser, nascerá na aurora de Deus, no Dia sem fim!

Caro Leitor meu, pensemos na fé de um homem assim, um irmão nosso que, como nós, amava a vida, amava o que fazia, amava os que com ele conviviam... Ele, Inácio, não brincava de crer! Jesus, para ele, não era uma ideia, uma teoria, uma moral... Inácio não falava em “valores do Reino” nem era fissurado numa pauta politicamente correta, não tinha um projeto de sociedade melhor nem vivia denunciando isso e aquilo: ele conhecia Jesus, cria em Jesus, amava Jesus! Em Jesus ele sabia ter a vida e por Jesus estava disposto a tudo: “Nenhuma coisa, visível ou invisível, me impeça de ir ter com Jesus Cristo. Venham sobre mim o fogo, a cruz, as manadas de feras, a dilaceração da carne, a desarticulação dos membros, o desconjuntamento dos ossos, a trituração de todo o corpo e os cruéis tormentos do Demônio; venha tudo isso sobre mim, contanto que sirvam para alcançar Jesus Cristo!” Nos lábios desse santo cristão, desse que honra o episcopado, o nome de Jesus não é frio, não é indiferente... Nos seus lábios, o santo nome de Jesus nos comove, nos emociona: “Prefiro morrer em Cristo Jesus a reinar sobre todos os confins da terra. Procuro Aquele que morreu por nós; quero Aquele que ressuscitou por causa de nós!... O meu amor está crucificado!” - Que sonho, um testemunho deste! Que vergonha para mim! Que saudade de ser assim, de ter um amor assim, uma certeza dessas, uma fé tão viva, um amor tão fervente, que tudo queira em Jesus e nada deseje fora dele; que faça dele o meu viver e o meu morrer!

Penso em nós, cristãos de agora – penso em mim, sucessor de Inácio na ordem episcopal... Quantos cálculos humanos, quanta frieza, quanta busca de comodidade, de escapar, de salvar a pele! Quanto discurso ensebado, politicamente correto...

Nunca esqueçamos nós: a nossa fé é uma Pessoa: é Jesus Nosso Senhor! Nossa adesão é a ele, nossa paixão é por ele, o que nos traz à Igreja é ele, o que nos faz nela permanecer é o amor a ele, o que nos dará a coragem de ser decentes, de viver o Evangelho, de levá-lo aos outros é ele, ele, Jesus Nosso Senhor!

Não adianta falar que devemos ser virtuosos se não nos apaixonarem por Jesus. Não venham com a conversa mole e chata que devemos participar da vida da paróquia quando não nos mostram Jesus, quando não nos falam dele com paixão, quando não nos deixam ouvir sua palavra, contemplar sua face bendita, sentir o calor do seu Coração. Não nos venham falar em castidade, em justiça social, em ecologia, em valores do Reino (eles novamente!) sem primeiro nos apaixonarem por Jesus – aquele das Escrituras, da Liturgia celebrada de modo digno e ungido, aquele da fé da sua santa Igreja católica, fé apresentada sem mutilações, sem adaptações à tal de pós-modernidade, sem concessões ao politicamente correto, sem maquiagem para que pareça mais palatável ao gosto do mundo. Queremos Jesus: puro, autêntico; só Jesus! Queremo-lo porque ele é tudo: é o tesouro escondido, a pérola de grande valor, o poço de onde jorra a água da vida, o alimento da nossa existência, o pastor que nos faz atravessar sem medo o vale da morte, a nossa vida, a nossa ressurreição, a nossa esperança, a nossa certeza nesta existência tão incerta!

Meu Leitor, irmão de caminho, cristão de agora, deste atribulado mundo do século XXI: nada menos que Jesus o contente, nada diferente de Jesus o satisfaça; o Jesus de Inácio de Antioquia e de todos aqueles santos e santas que dele, do Salvador, fizeram seu tudo! Que Nosso Senhor nos dê esta graça pelas intercessão do nosso irmão Inácio de Antioquia, bispo da Igreja e mártir de Cristo!

Escrito por Dom Henrique

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