sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Sem definições sobre Europa, G20 frustra mercados


Propostas apresentadas em Cannes empacam e não definem nova ajuda para zona do euro. FMI, contudo, é destaque no encontro.
Líderes mundiais durante fotografia oficial no encontro do G20

Líderes mundiais durante fotografia oficial no encontro do G20, em Cannes (Roberto Stuckert Filho/PR) 


O G20 deste ano, encerrado nesta sexta-feira em Cannes, no sul da França, foi marcado por dois momentos: primeiro pela deriva grega, depois pelo pedido de ajuda da Itália. Em nenhum dos casos houve qualquer definição, e a grande frustração dos mercados é a de que nenhum tipo de medida relacionada ao fundo de resgate europeu foi tomada durante o encontro. O destaque na atuação e tomada de decisão ficou para o Fundo Monetário Internacional (FMI), na figura de sua diretora-gerente estreante, Christine Lagarde. O Fundo não só participou ativamente da elaboração do plano de salvamento grego, mas também será o avalista das contas públicas italianas, além de ser o cerne da única definição alcançada no encontro: o aumento das cotas de seus fundos. “Temos a promessa do G20 de que teremos mais dinheiro “, disse ela ao site de VEJA, ainda que maiores detalhes sobre a ampliação das cotas serão dados apenas em fevereiro de 2012.

Segundo Christine Lagarde, os países que tiverem as finanças públicas sólidas, como China, Alemanha, Coreia, Canadá, Austrália, Indonésia e Brasil, poderão tomar medidas para sustentar a demanda interna, no caso de a situação econômica se deteriorar. Em resumo, podem pisar no acelerador do crescimento, como fez o Brasil durante a crise de 2008. Tal incentivo, apesar de deteriorar o desempenho fiscal das nações, é visto como artifício para manter a demanda mundial aquecida, beneficiando as nações que estão em dificuldades. O líder chinês Hu Jintao até assinou um documento que menciona maior flexibilidade do yuan, permitindo que a moeda se valorize um pouco. Só não disse quando e nem o quanto irá se apreciar.

Imposto sobre Transações Financeiras Internacionais - Uma das propostas favoritas do presidente francês e anfitrião, Nicolas Sarkozy, a nova taxa recebeu apoio das presidentes Dilma Roussef, do Brasil, e Cristina Kirchner, da Argentina, e da primeira-ministra alemã, Angela Merkel, atualmente uma das melhores amigas do francês. "Nós vamos apoiar se todos os países estiverem de acordo", ressaltou Dilma, durante a coletiva ocorrida após o encerramento do evento. Barack Obama e o premiê inglês, David Cameron, não apoiaram a ideia. Junto a essa ideia, Sarkozy também defendeu com afinco maior controle sobre paraísos fiscais. “Não queremos saber de paraísos fiscais e quem insistir na dissimulação financeira será banido da comunidade financeira internacional”, disse o presidente durante a coletiva final do evento.

Risco sistêmico - A quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em 2008, foi o estopim da crise econômica mundial e acabou arrastando inúmeras instituições que não conseguiram sobreviver a um cenário de risco sistêmico. Para impedir que tal situação se repita, o G20 publicou uma lista com 29 instituições “de importância sistêmica”, que deverão cumprir normas para ficarem mais sólidas (pelo menos 10,5% de fundos próprios, ante os 9% previstos inicialmente em Bruxelas, na última semana). Alguns deles já foram revelados: os alemães Deutsche Bank e Commerzbank; os franceses BPC, BNP Paribas, Crédit Agricole e Société Générale; e o norte-americano Goldman Sachs. Segundo Sarkozy, tais instituições serão controladas com critérios de liquidez mais rigorosos. O documento do G20 também prevê que, no caso de deterioração significativa e risco sistêmico, os bancos poderão ser desmantelados, desde que de forma ordenada, sem expor os correntistas a risco de quebra. Análises desses bancos feitas pelo Conselho de Estabilidade Financeira, que será fortalecido, serão repassadas aos governos.

Regulação do sistema financeiro e monetário - O comunicado do G20 ignorou pontos que, anteriormente, eram considerados essenciais, como o aperto da regulação do sistema financeiro e monetário internacional. O único tema abordado, ainda que de forma evasiva, foi o controle da volatilidade nos preços das commodities - algo que já vinha sendo discutido desde 2010. A proposta é criar um sistema de informações sobre os mercados agrícolas, com dados sobre produção, consumo e estoques. Os países do G20 defendem a regulamentação para colocar fim ao que Sarkozy chama de “uma loteria”, em que o preço da tonelada do trigo pode subir de 180 dólares para 300 dólares em questão de semanas. A proposta é reforçar o nível dos estoques de trigo, soja e aumentar a produção agrícola em 70% até 2050 .

O tema da remuneração dos executivos também foi discutido de forma superficial. Desde o G20 de Pittsburgh, nos Estados Unidos, tenta-se elaborar um acordo entre Wall Street e os órgãos reguladores - sem sucesso. O tema voltou a constar no documento, em Cannes. “Propusemos leis para que bônus e dividendos aos acionistas sejam mais controlados, mas será preciso agir com mais força”, afirmou o presidente francês, Nicolas Sarkozy.

Dilma fica à sombra - A presidente brasileira iniciou o G20 respondendo dúvidas sobre o câncer do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e esteve longe de liderar qualquer discussão - mesmo porque o grande foco era a Europa. Na questão do protecionismo, houve rumores de que a presidente teria sugerido que o tópico fosse deixado de lado. Já o presidente Nicolas Sarkozy reafirmou os planos de não introduzir novas medidas restritivas ao mercado internacional, ainda que a própria França mantenha inúmeras medidas protecionistas, sobretudo no setor agrícola. Dilma tomou a palavra para sugerir que investimentos sejam feitos em redes de proteção social, como o bolsa família. Sobre a ideia, o documento final foi conciso e previsível: “Reconhecemos que é importante investir em redes de proteção nacional adaptadas à cada situação nacional”, informa.


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