sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Dilma no congresso do PT: Justiça não se faz com caça às bruxas



Com José Dirceu ao fundo, Dilma e Lula participam de abertura do congresso do PT. Foto: Reuters

LARYSSA BORGES
Direto de Brasília
A presidente Dilma Rousseff utilizou a abertura do 4º Congresso do Partido dos Trabalhadores (PT) para voltar a afirmar nesta sexta-feira que seu governo tem compromisso com o combate à corrupção e com o "bom uso dos recursos públicos". Em meio à crise que se abateu sobre os ministérios de seu governo, com denúncias de irregularidades e corrupção, a presidente condenou, no entanto, o que classificou como "caça às bruxas" e disse que suspeitos de ilícitos não podem ser alvo de execração pública.
"Sempre soubemos, e acho que essa é uma característica nossa, que o povo brasileiro é um povo trabalhador, sério, direito, e que não gosta de mal feito. Também temos esse compromisso republicano e inarredável que é lutar contra a corrupção, tanto por nossos princípios éticos e morais como porque temos que garantir o bom uso dos recursos públicos", disse, acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-ministro José Dirceu.
"Acredito na justiça e acredito que a justiça não se faz nem com caça às bruxas nem com colocação de pessoas à execração pública, com a retirada de direitos de cidadania não de forma explícita baseada na justiça, que é pública, mas através de uma condenação indevida, porque é uma justiça privada. Principalmente porque essas ações espetaculares geralmente expõem as pessoas e acabam com a presunção de inocência, um governo não tem como meta o combate à corrupção. Porque o combate à corrupção é permanente, nunca acaba, é uma ação implícita da sua investidura no cargo, é sua obrigação zelar pela coisa pública", disse a presidente.
"Ninguém pode julgar que um governo possa ter uma meta dessas. Isso é uma ação contínua e permanente", disse ela, que relembrou ações investigatórias do governo Lula, como o fortalecimento da Polícia Federal e a independência do Ministério Público, e negou que tenha recebido uma "herança maldita".
"Repudio o esquecimento de ações do governo do presidente Lula, que acompanhei e vivi, contra mal feitos", disse. Para a presidente, seu governo não pode, no entanto, ser resumido a uma mera "herança" do governo Lula, e sim do resultado de "erros e acertos" do governo passado, do qual ela participou ativamente.
Ao comentar sobre a suposta "herança maldita", disse que seu governo é resultado do desenvolvimento de uma política elaborada por seu antecessor e comparou a solidez da atual administração pública com a formação de rochas. "Não é bem uma herança, uma herança é pouco. É como se fossem camadas que fundamentam o solo que garantem que as pedras tenham vários graus de solidez. Estou firmada em uma pedra muito sólida, que é a experiência de oito anos de um governo que eu tive a hora de participar. Não é herança porque eu ajudei a construir essa pedra. Eu estava lá. Os erros e acertos dele são meus erros e acertos", afirmou Dilma.
À militância petista, a presidente também criticou o fato de a classificarem em determinado momento como uma "gerente tecnocrata muito despreparada" e resumiu: "esquecem o fato que fiz política em uma época em que fazer política dava cadeia."
O combate à corrupção também foi o principal tema da fala de Dirceu no congresso. Afastado do governo Lula após denúncias de ser o "chefe da quadrilha" do mensalão, ele defendeu a consolidação de uma reforma política para atuar como "antídoto contra a corrupção". "É um congresso que vai reafirmar nossa luta pela reforma política e pela luta contra a corrupção, com reforma política e com reforma administrativa, com a melhora da eficiência da gestão pública e do controle", afirmou, em entrevista à rádio PT.

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