Sergio Torres, Sabrina Valle, André Magnabosco e Luciana Nunes Leal
Rio e São Paulo (AE) - A nova presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, assumiu ontem o cargo declarando "gratidão e fidelidade incondicional" à presidente da República, Dilma Rousseff. Diante de uma plateia formada por 11 ministros de Estado, oito governadores, senadores, deputados e dezenas de executivos do setor, Dilma se permitiu, inclusive, encerrar seu discurso com um gracejo: "Agora, é tudo contigo, Graciosa".
No breve discurso político, Graça destacou que dará continuidade ao trabalho de seu antecessor, José Sergio Gabrielli, que deixa a companhia para seguir carreira política na Bahia. Sem citar o peso da União sobre as ações da estatal, ela prometeu manter um diálogo "de prosperidade junto ao controlador", mas tratou de afagar o capital privado ao afirmar que irá manter o foco nos resultados dos acionistas minoritários
No momento em que agradecia o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chorou e chegou a interromper o pronunciamento para recuperar o fôlego. Fez questão de lembrar que será a primeira mulher no mundo a comandar uma empresa de petróleo do porte da Petrobras e disse que sua vida se confunde com a da estatal.
"Somos quase da mesma idade", disse a engenheira química, de 58 anos. Afirmando que, após 30 anos de empresa, reconhece o crachá da companhia como sua própria identidade, ela lembrou sua passagem por diversas áreas da empresa e recordou o ingresso na companhia ainda jovem, "com calça jeans e camiseta vermelha". Na plateia, a filha, Flávia, citada no discurso - assim como a mãe, a neta e o marido - chorava copiosamente.
Gabrielli despediu-se do cargo com um discurso de 52 páginas, no qual destacou dez pontos de sua gestão, entre eles o marco regulatório do pré-sal e a declarada autossuficiência na produção de petróleo. Mas, fez a ressalva de que "só perdemos para nossas próprias metas", ao referir-se ao fato de a Petrobras vir registrando, nos últimos anos, produção aquém das metas divulgadas pela empresa para cada período.
Encerrou declamando versos de músicas de Gonzaguinha, Paulinho da Viola e de Daniela Mercury, baiana como ele, como um preâmbulo de seu futuro político na Bahia, onde assumirá nos próximos dias uma secretaria no governo do petista Jaques Wagner. O governador foi um dos políticos presentes, no primeiro compromisso fora de seu Estado desde o dia 31 de janeiro, quando a Polícia Militar baiana entrou em greve e deu início a mais de uma semana de insegurança na capital e Região Metropolitana.
O mercado recebeu bem as mudanças na Petrobras. No dia do anúncio da substituição de Gabrielli por Graça, as ações da companhia subiram na Bolsa de São Paulo. Mas, a executiva assume a empresa num momento pouco favorável. Na semana passada, foi divulgado o resultado financeiro da estatal, com queda de 5% no lucro, o que não ocorria há alguns anos. Graça tem um plano de investimentos de US$ 224,7 bilhões para cumprir e metas ambiciosas para alcançar. Mas, declarou que seguirá metas precisas. "Sabemos para onde vamos", afirmou.
Não há previsão para alta dos combustíveis
Rio (AE) - A presidente Petrobras, Maria das Graças Foster, defendeu a manutenção dos porcentuais de conteúdo local para a indústria do petróleo, disse que, para a companhia, a realização da 11ª rodada de licitação de blocos de petróleo não é fundamental e anunciou que a segurança em relação ao meio ambiente é tão importante que todas as operações previstas, até mesmo do pré-sal, poderão ser adiadas caso haja riscos ambientais. Segundo a presidente, seu foco será a gestão.
Graça disse ainda que não há previsão para os preços dos combustíveis subirem. "Em que momento aumentará o combustível?", perguntou ela, para responder em seguida: "Não está programado". De acordo com a presidente, a exigência de conteúdo local para a indústria do petróleo persistirá porque é uma estratégia governamental que visa dotar as empresas nacionais da competitividade exigida pelo mercado internacional. A média de conteúdo local nos contratos da Petrobras e demais petroleiras é 65%, disse ela.
Graça Foster não demonstrou muito entusiasmo pela realização da rodada de licitação de blocos de petróleo, que há dois anos vem sendo adiada. Segundo ela, para a Petrobras "não faz diferença", porque a companhia tem "um cardápio espetacular" de áreas a serem exploradas. Ela não arriscou qual será a produção este ano nem adiantou mudanças no plano de investimentos 2011-2015.
Dilma defende Petrobras estatal
Rio (AE) - No discurso de posse de Maria das Graças Foster na Petrobras, a presidente Dilma Rousseff aproveitou a presença de políticos da situação e da oposição e de alguns dos maiores empresários do País para fazer uma exaltação à condição da petroleira de maior estatal do País. "A Petrobras é poderosa em escala mundial e estratégica dentro do Brasil. Felizmente sobreviveu a todos os ventos privatistas e persistiu como empresa brasileira, sob controle do povo brasileiro e hoje fundamental em nosso modelo de desenvolvimento", afirmou a presidente.
As palavras de Dilma contra a privatização da Petrobras soaram como uma resposta ao intenso embate travado na semana passada entre tucanos e petistas, depois do leilão de concessão de três aeroportos à iniciativa privada. Os correligionários do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diziam que o PT capitulou e aderiu à privatização, enquanto os aliados de Dilma insistiam que nunca foram contra o modelo de concessão e que não se trata de venda do patrimônio da União.
Dizendo-se "emocionada" com o fato de a engenheira química ser "a primeira presidenta de uma empresa de petróleo e gás no mundo", Dilma brincou: "Agora é tudo contigo, Graciosa." A presidente da República foi só elogios à Graça Foster. "Ela assume um cargo importante por absoluto merecimento após 31 anos de trabalho incansável nesta empresa", disse Dilma.
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