sexta-feira, 2 de março de 2012

Dilma diz que países desenvolvidos fazem 'tsunami monetário'





A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de pacto em prol dos direitos dos trabalhadores nas obras (Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula)
A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de
pacto em prol dos direitos dos trabalhadores nas
obras (Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula)


A presidente Dilma Rousseff criticou nesta quinta-feira (1º) a ação dos países desenvolvidos em relação à crise financeira internacional e classificou como "tsunami monetário" a guerra cambial.
"É por isso que nos preocupamos, sim, com esse tsunami monetário que [fazem] os países desenvolvidos que não usam políticas fiscais de ampliação da capacidade de investimento para retomar e sair da crise que estão metidos e que usam, então, despejam, literalmente, despejam US$ 4,7 trilhões no mundo ao ampliar de forma muito, é importante que a gente perceba isso, muito adversa, perversa para o resto dos países, principalmente aqueles em crescimento", afirmou a presidente no discurso da cerimônia de assinatura do Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Indústria da Construção, que, segundo o Planalto, visa melhorar a vida dos trabalhares nos canteiros de obras do país.
A presidente falou sobre a economia para um público formado principalmente por trabalhadores e afirmou que os países emergentes, como o Brasil, "mostram que eles [desenvolvidos] compensam essa rigidez fiscal com uma política monetária absolutamente inconsequente no ponto de vista do que ela produz sobre os mercados internacionais".
Para Dilma, esses países criam uma "guerra cambial baseada numa política monetária expansionista, que cria situações desiguais".
Em 2011, em uma tentativa de impulsionar o crescimento da economia dos Estados Unidos, o Federal Reserve (BC dos EUA) comprou US$ 2,3 trilhões em títulos de longo prazo no mercado – o que, na prática, significa que esse dinheiro foi "injetado" na economia. Parte desses recursos, no entanto, foi direcionada a outros países, ajudando a reduzir a cotação do dólar frente às moedas locais, como o real – o que prejudica as exportações do país, ao torná-las mais caras no mercado internacional.
IOF
Nesta quinta, o governo decidiu aumentar de dois para até três anos o prazo de incidência da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras de (IOF) nas liquidações de operações de câmbio contratadas a partir de 1º de março de 2012.  O objetivo da medida é reduzir o ingresso de dólares no país e evitar uma valorização excessiva do real.

Canteiros de obras
A cerimônia sobre as condições de trabalho nos canteiros de obra lotou o Salão Nobre do Palácio do Planalto de representantes sindicais. Os ministros Paulo Pinto (Trabalho), Gilberto Carvalho (Secretara-Geral), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Gastão Vieira (Turismo), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), o vice Michel Temer e o presidente da Câmara, Marco Maia, também compareceram.

O acordo estabelece condições específicas de recrutamento e seleção; formação e qualificação profissional; saúde e segurança; representação sindical no local de trabalho; condições de trabalho, e relações com a comunidade. Pelo menos treze entidades sindicais participaram da elaboração do acordo.
Dilma afirmou que o acordo é "fruto de um diálogo de quase um ano[...], que certamente está sendo facilitado pelo período o qual nos vivemos, de estabilidade politica, estabilidade institucional, crescimento econômico, distribuição de renda e inclusão social sem precedentes na historia do Brasil".
"É importantíssimo destacar o papel que as lideranças dos trabalhadores das centrais, dos empresários das organizações empresariais sindicais e o governo tiveram nessa atuação. Na verdade é um encontro de várias vontades com suas divergências."
Aperfeiçoamento das condições
Na mesma cerimônia, foi criada a Mesa Nacional Permanente para o Aperfeiçoamento das Condições de Trabalho na Indústria da Construção, que servirá como um espaço de negociação entre patrões e empregados. A mesa será formada por representantes do governo, dos empresários e das centrais sindicais.

O ministro Gilberto Carvalho, que coordenou a elaboração do compromisso, disse que o documento assegura “a dignidade e a segurança tão almejada” pelos trabalhadores. “Incorpora novos procedimentos que contribuem para organizar as relações e o ambiente e das condições de trabalho, com ganhos para todos”, afirmou durante a cerimônia.
Carvalho disse que o “método do diálogo” facilita a negociação do governo com as entidades representativas dos trabalhadores. Entre os avanços que o acordo poderá proporcionar, o ministro destacou a representação sindical no local de trabalho.
Pelo compromisso, uma representação sindical será implementada em obras de duração igual ou superior a seis meses. Para obras com 200 empregados ou mais haverá um representante; para cada grupo de 500 empregados adicionais será acrescido um representante, até o limite de sete. O mandato do representante será de seis meses.
O ministro disse que problemas poderão ser solucionados “no dia a dia”. “É a garantia da representação no local de trabalho, sonho de muitas categorias de trabalhadores no Brasil”, disse.
Canteiros
O deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, também destacou os benefícios de uma representação sindical nos canteiros de obras, mas cobrou das empresas. “É lógico que é preciso que a empresa se prepare do outro lado, porque as demandas serão muito grandes”, alertou.

“Tocar fogo nos acampamentos ou nas empresas vem às vezes de pequenos problemas que não foram resolvidos. [...] A representação vai ser um caminho para a gente resolver muitos problemas”, disse.
Durante discurso, o deputado direcionou-se à presidente Dilma para dizer que os sindicalistas não são “do mal”. “Nós não somos do mal. Somos aqueles que querem construir. Somos aqueles chatos que chegam na festa e ficam falando mal”, afirmou.
Ele aproveitou para cobrar do Planalto a valorização das aposentadorias, a discussão em torno do salario do servidor público e afirmou que o país passa por uma “desindustrialização”. “As empresas estão quebrando. Não podemos conviver com uma desindustrialização de US$
93 bilhões em um ano. É muito violenta”.


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