por: Iana Chan
Relatório da UNICEF mostra que maioria dos alunos fora da escola deveria estar no Ensino Médio
Dos
3,7 milhões de crianças e adolescentes fora da escola no Brasil, 42% são jovens
com idade entre 15 e 17 anos. “Estamos perdendo potenciais talentos aos
milhões”, lamenta Gustavo Ioschpe, economista e especialista em Educação.
O
relatório da UNICEF publicado hoje confirma a influência das profundas
desigualdades regionais, etnorraciais e socioeconômicas no acesso à escola.
Foram analisados os perfis de crianças e jovens brasileiros em risco de evasão
ou fora da escola para apontar as principais dificuldades e possíveis
alternativas.
A
questão socioeconômica é muito relevante. 20,4% dos adolescentes de famílias
com renda familiar per capita de até ¼ do salário mínimo não frequentam a
escola. Quando consideramos renda familiar per capita maior que dois salários
mínimos, essa taxa cai para 5,5%.
Gustavo
Ioschpe avalia que a Educação precisa ser vista como um investimento que gera
um ótimo retorno financeiro. Outro relatório da UNESCO mostrou que um ano extra
de escolaridade aumenta a renda individual em até 10%. Mas não se trata apenas
de uma opção pessoal, é preciso tornar o ensino mais atraente aos jovens. “O
modelo de Ensino Médio brasileiro está defasado”, atesta. Além de investir no
ensino técnico profissionalizante, Ioschpe defende a diminuição do número de
matérias, hoje “desumano e enfadonho”.
Outro
dado alarmante é o da quantidade de crianças e adolescentes que trabalham ou
cuidam do serviço doméstico para ajudar na renda familiar. O PNAD 2009 mostrou
que cerca de 4,3 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estão nessa
situação, é quase equivalente à população da Costa Rica. E quando não tira as
crianças da escola, o trabalho atrapalha o rendimento das crianças, o que
aumenta os níveis de abandono e repetência.
De
fato, o fracasso escolar é o principal fator de risco para a permanência das
crianças na escola. O abandono e as repetências provocam elevadas taxas de
distorção idade-série. 24,2% dos alunos matriculados no Ensino Médio têm dois
ou mais anos acima da idade recomendada para a série em que estudam.
Frente
ao complexo problema da qualidade de Educação brasileira, Ioschpe avalia que
não há mudanças porque não há demanda. “São poucos aqueles mobilizados pela
Educação”, constata, “há um enorme incentivo para a inércia”. Para ele, o problema da Educação é que a
maioria das pessoas não consegue reconhecer a má qualidade da Educação. “Elas
não sabem que têm o direito de receber uma coisa melhor”.
O
relatório publicado hoje faz parte da iniciativa global Pelas Crianças Fora da
Escola, do UNICEF e Instituto de Estatística da UNESCO (UIS). A iniciativa
analisa os dados de 25 países. No Brasil, os dados analisados foram
proporcionados pelo PNAD 2009 e a realização ocorre em parceria com a Campanha
Nacional pelo Direito à Educação, organização da sociedade civil que luta pela
efetivação e ampliação dos direitos educacionais.
Confira
alguns dados do relatório, que pode ser visto na íntegra neste link.
Ensino
Médio
-
14,8% dos adolescentes com idade entre 15 e 17 anos estão fora da escola. São
1,5 milhões de jovens.
-
20,4% dos adolescentes de famílias com renda familiar per capita de até ¼ do
salário mínimo não frequentam a escola. Quando consideramos renda familiar per
capita maior que dois salários mínimos, essa taxa cai para 5,5%.
-
24,2% dos alunos matriculados no Ensino Médio têm dois ou mais anos acima da
idade recomendada para a série em que estudam.
Ensino
Fundamental
-
Enquanto 30,67% das crianças brancas (1,6 milhão) têm idade superior à
recomendada nos anos finais do ensino fundamental, entre as crianças negras, a
taxa é de 50,43% (3,5 milhões).
-
62,02% das crianças de famílias com renda familiar per capita de até ¼ do
salário mínimo estão idade superior à recomendada para a série em que
estudam. Já nas famílias com renda
familiar per capita superior a dois salários mínimos, essa taxa é de 11,52%.
Desigualdades
-
18 em 100 alunos do Norte e Nordeste estão em risco de abandono ou repetência.
-
A desigualdade econômica também se confirma como fator de risco. Considerando
os anos finais do Ensino Fundamental, em famílias com renda per capita de até
1/4 do salário mínimo, 62% das crianças não estão na série adequada a sua
idade. Quando a renda familiar per capita é superior a dois salários, essa taxa
cai para 11,52%.
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