sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Seca deve reduzir produção de mel em 70% no Interior

A escassez de água impediu a floração no semiárido e comprometeu a safra de mel no Estado

Itatira A seca neste município não destruiu apenas as plantações. Acabou também com a produção de mel de abelha, principal produto de exportação da região. Sem chuva, as abelhas abandonaram as colmeias e migraram para outras regiões.

Sem abelhas nas colmeias, apicultores amargam prejuízo. No monitoramento do cultivo, nem precisam usar tanta proteção, já que não tem abelha fotos: A. C. Alves


Esta é a maior seca dos últimos 40 anos no Ceará. Está gerando impacto negativo na produção de mel, que deve cair em torno de 70% este ano, segundo produtores dos Sertões de Canindé. O Estado é o terceiro maior produtor do Brasil e o primeiro do Nordeste, perdendo apenas para os estados do Rio Grande do Sul e São Paulo.

"A falta de água comprometeu a produção e, em 87% dos enxames, as abelhas sumiram, porque foram para outras regiões. Isto provocou prejuízos para cerca de 120 apicultores do município, neste ano", explica um dos maiores produtores em Itatira, Manoel Juraci Vieira, famoso por ter criado o jumento apicultor. No município, 74% dos agricultores vivem da produção de mel.

Segundo ele, a quebra da safra se dá pela falta de alimentação das abelhas. "Por não ter tido floração, as nossas abelhas não têm como retirar o pólen e o néctar das plantas. A temperatura exigida no cultivo de abelhas é, em média, 33 graus, mas, no momento, nossa temperatura atinge cerca de 40 graus. Sem floração, elas migram para áreas mais frescas", diz Juraci Vieira.

Para ele, a solução seria a alimentação artificial, mas se torna muito cara e nem todos os criadores têm condições de bancar.

Essa alimentação artificial se dá pela soma de dois tipos de alimentos, um energético, que pode ser manga, caju, caldo de cana ou água com açúcar, e um alimento protético, que é a mistura de grãos de soja e milho triturados. "É a maneira que temos para driblar a ação da seca", lamenta ele, por ser uma medida inviável para os pequenos apicultores da região.

Transferência

De acordo com ele, considerado um "mestre" em apicultura e um dos integrantes da Associação dos Apicultores de Itatira, a região produz, em média, 90 toneladas de mel por ano, mas, com a estiagem, "tudo foi por água abaixo". "Perdi 35 colmeias que foram embora por falta de alimentação. As 25 que restaram tive que mandar para um amigo na comunidade de Sabonete, que fica bem próxima do Açude Umari, no município de Madalena", diz Juraci, sem saber o que vai render de positivo nos apiários do município.

O prejuízo chega perto de R$ 8 mil com a migração das abelhas. "É a dura realidade de quem vive dessa atividade. Quando o período é bom, tudo é rentável, mas, com a seca, tudo fica pelo meio do caminho e o prejuízo é incalculável", aponta o produtor Juracy.

Consequências
Segundo o apicultor, os três próximos meses podem ser mais desgastantes, já que a alimentação artificial está 40% mais cara, se comparado ao mesmo período do ano passado. Nenhum produtor quer arriscar em adotar este tipo de procedimento, porque será muito trabalho para pouco dinheiro. "A seca afetou quase todos os setores e a próxima safra também está ameaçada", avisou ele.

"Neste ano, nenhum apicultor se preocupou em fazer a colheita do mel porque, além de fraca, é muito arriscado ao ataque das abelhas que estão famintas e violentas", finalizou.

A realidade observada nos Sertões de Canindé é comum a outras regiões produtoras no Estado do Ceará. A apicultura está presente em 150 municípios. As regiões com o maior número de produção são: Baixo Jaguaribe, Cariri, Sertão Central e Sertão dos Inhamuns.

A apicultura no Estado do Ceará caracteriza-se, quase que exclusivamente, pela produção de mel de abelhas oriundas da África. Em uma colmeia, há mais de 80 mil abelhas, que produzem, por safra, de 25 a 35 quilos de mel. O pequeno produtor possui, em média, 35 colmeias.

A abelha só tem 24 horas de vida se atacar sua vítima. Caso contrário, vive por cerca de 45 dias. A abelha rainha, em época de boa florada, chega a produzir 3 mil ovos diários.

Exportação
O Ceará está entre os cinco maiores exportadores do Brasil. Em 2011, o Estado exportou 4,2 toneladas de mel.

Entre dezembro de 2010 a janeiro de 2011, as vendas do produto para o exterior cresceram 31,4%. O preço do mel está custando, em média, R$ 12 por quilo. Em épocas chuvosas, esse valor cai para R$ 7 por quilo.

O mel cearense é orgânico, pois é retirado da caatinga e não possui contato com florações com agrotóxicos, diferente do mel da região Sul.

Há, no Ceará, em média, 400 associações de apicultores e seis cooperativas.

O consumo per capita do brasileiro é de 150 gramas de mel por ano. Na China, esse volume sobe para 2 kg.

Jumento "apicultor" está sem trabalho

Itatira Os apicultores do município que contavam com uma ajuda especial na hora de transportar o mel, agora estão torcendo por um bom inverno em 2013. O jumento apicultor criado para este fim está praticamente aposentado, pelo menos nesse período. Ele que ganhou até roupa especial com proteção contra as abelhas, vive na comunidade de Monte Alegre sem nenhuma atividade nesta época do ano.

Juraci Vieira e seu jumento vestido para o trabalho de coletar o mel nas colmeias da região. Com a queda na produção, o animal está praticamente parado


O município de Itatira, um dos maiores produtores de mel do Ceará, enfrenta a pior crise de sua história. A diversidade de flores da região é muito forte, mas não existe mais nada, a não ser a caatinga estorricada pelo sol forte e o calor insuportável. Vegetação e animais sofrem em dobro.

Pioneiro
"Temos aproximadamente 70 plantas que produzem bastante néctar para nossas abelhas", mas a seca se encarregou de dizimar tudo", lamenta Mauro Vieira, filho do produtor Juraci Vieira, um dos pioneiros na região dos Sertões de Canindé.

No período bom, são mais de 2 mil colmeias em plena atividade, com excelente produção de mel, cerca de 90 toneladas do produto ao ano. Porém, para chegar até o apiário e recolher os favos dos cultivos, o caminho sempre é de difícil acesso. Carro não consegue trafegar, somente animais, como o jumento.

Antes, o percurso era feito a pé e o mel levado em carrinhos de mão. Mas agora, sem produção, o jumento, velho companheiro do sertanejo, não está fazendo seu trajeto costumeiro em período de colheita, quando os produtores não encontraram tantas dificuldades na realização do trabalho

Quem teve a ideia de vestir o animal foi o apicultor Juraci Vieira. "Uma parte da roupa pega a cabeça, tem uma viseira e é feita com uma lasca de ferro, para que as abelhas não alcancem o jumento com o ferrão. Nas patas, ele não usa botas porque já tem as naturais, dele, que são obra da natureza", disse.

Além de transportar a produção de Juraci, o animal ainda dava uma forcinha a outros apicultores. "Esse animal significa tudo na vida para mim. Ele fazia um trabalho que nós íamos fazer", falou a apicultora Maria do Socorro Alves Vieira, a dona do jumento, que foi "batizado" na região com a denominação de "Boneco".

"Essa ideia, na verdade, se estendeu às nossas 19 comunidades e veio para amenizar e resolver em grande parte a nossa dificuldade de transporte desse produto, mas infelizmente ele está aposentado, por falta do que fazer´´, disse Antônio Lopes, da Associação dos Apicultores.

Oitenta por cento do mel produzido em Itatira era destinado para a merenda escolar, nas unidades da rede pública de ensino.

O produtor recebia R$ 7,00 por quilo vendido para Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isto permitia que a criançada pudesse ter uma merenda regionalizada e de boa qualidade. Com a queda da safra, vai faltar o produto.

Impacto

120 apicultores de Itatira tiveram prejuízos porque as abelhas, diante da ausência de floração provocada pela seca, se transferiram para outras regiões

ANTÔNIO CARLOS ALVESCOLABORADOR

Fonte: Dia´rio do Nordeste

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