Com o adiamento do depoimento de Carlinhos Cachoeira, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investiga as relações do contraventor com agentes públicos e privados, realizará reunião administrativa na tarde desta terça-feira para apreciar mais de 170 requerimentos que foram apresentados à comissão. O encontro será às 14h, no Senado, na Sala 2 da Ala Alexandre Costa.
Na segunda-feira, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar permitindo ao contraventor não comparecer hoje à CPI. O ministro acatou a argumentação da defesa de que Cachoeira não teve acesso à totalidade das provas produzidas pela investigação da PF. Os advogados, entre eles o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, haviam pedido o acesso à presidência da CPI, mas ele havia sido negado.
O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), já havia adiantado ontem que, se o STF decidisse suspender o depoimento de Cachoeira, a comissão realizaria reunião administrativa ou tentaria antecipar os depoimentos dos procuradores que acompanham as Operações Vegas e Monte Carlo da Polícia Federal (PF), marcados para a próxima quinta-feira.
O plenário do Supremo irá julgar, em data a ser definida, o mérito do habeas corpus impetrado por Cachoeira na semana passada. Além do adiamento, Cachoeira pede o acesso à íntegra do processo.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o PSOL representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário