SIMPLESMENTE COMO JESUS

Por Hamilton Perninck Vieira

Amo o cristianismo, mas odeio os cristãos, pois não vivem segundo os ensinamentos de Cristo.
Mahatma Gandhi (1869-1948).

Em meio ao caos político, econômico, social e ético da sociedade em geral, verificamos a quebra total dos paradigmas que norteiam a vida humana na direção do bem- estar individual e coletivo. A regra máxima é a ausência total das máximas e das regras, o paradigma é não ter paradigmas. O ser humano está cada vez mais distante do processo de humanização que se desenvolve na relação com outros homens.
Diante disso, como a Igreja de Jesus está inserida neste contexto social de anomia, muitos apelos tem sido feito com objetivo de cristianizar a sociedade em nome das benesses “supostamente” propostas pelo Cristo. Isso tem gerado o descrédito das pessoas que se deparam com uma caricatura da fé cristã. Sendo assim, será possível conceber a existência de um cristianismo sem Cristo, fé sem obras, doutrina sem prática, razão sem emoção e amor sem atitude? Sendo assim, o viver a vida cristã, dentro e fora da Igreja, reverbera a palavra que destoa da ação e traz como produto um cristianismo que não reflete a Pessoa de Cristo.
Diametralmente, em oposição a essa situação de caos, tornar-se um cristão não é mera acepção intelectual de uma ideia, mas a disposição renunciada em seguir uma Pessoa. A rejeição das pessoas não é meramente ao Cristo, mas ao cristianismo desconfigurado e desassociado da Pessoa e Obra de Cristo. O que Jesus foi, é e sempre será, continua a ser modelo para a Ciência, literatura, administração, política, educação e ética de forma atemporal. A questão então está em afinar nosso Cristianismo ao diapasão do Cristo que o instituiu com sua vida e obra. Não precisamos de grandes templos com super-pastores manifestando sinais e maravilhas que impressionam a muitos que, quase sempre, são “enganados” e “comprados” por falta de discernimento espiritual e conhecimento da verdade que liberta (Jo 8.32).
Nesta direção, nosso questionamento é: qual é o chamado de Cristo para nós? Que modelo de vida ele nos deixou para que impactemos o mundo? O que é ser um cristão que reflete a Pessoa e a Obra de Cristo?  Assim, basta-nos ser simplesmente como Jesus.
Em primeiro lugar, ser simplesmente como Jesus é se submeter ao chamado para PERMANECER nEle e ANDAR como ele andou.  A Bíblia Sagrada afirma: Mas, se alguém obedece à sua palavra, nele verdadeiramente o amor de Deus está aperfeiçoado. Desta forma sabemos que estamos nele: aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou (I Jo 2.5-6 – Grifos nossos). Nesse sentido, não existe a possibilidade da profissão de um cristianismo sem o amor que é demonstrado mediante a obediência e permanência no discipulado cristão. Portanto, a Palavra Escrita que nos chama ao discipulado relacional com a Palavra Eterna que se fez Palavra Encarnada (Jo 1.14,18).
Em segundo lugar, ser simplesmente como Jesus é se submeter ao chamado para SER como ele é. Logo, não podemos permanecer nEle e continuar sendo o que somos. Assim, quando permanecemos nele somos transformados naquilo que Ele é.Nesta direção Paulo afirma: Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conforme à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8.28-29 – Grifos nossos). Sendo assim, Deus nos escolheu antes da fundação do mundo para que fossemos conforme a imagem do seu Filho Jesus. Por isso, nosso cristianismo será autêntico quando nos esvaziarmos do que somos para nos enchermos daquilo que Ele é. Mais de Jesus e menos de nós. Mais da singeleza e do amor de Jesus e menos da nossa vida pautada na egolatria. Mais da mansidão e humildade de Jesus e menos da nossa intemperança, orgulho, insensibilidade e inflexibilidade (Gl 5.22). Desta forma, Cristo nos convida: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-29 – Grifos nossos).
Em terceiro lugar, ser simplesmente como Jesus é se submeter ao chamado para AGIR como ele agiu. O apóstolo Paulo afirma: Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!. Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra,  e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fl 2.5-11). Cristianismo é essencialmente ação e não mero assentimento intelectual-religioso e/ou emocional, vazio e ensimesmado. Ser cristão é ter a mesma atitude de abnegação e renúncia de Cristo. É pensar menos em si e mais  na glória de Deus que se manifesta quando nos esvaziamos para encher a outros. É servir mais que refletir, ponderar e criticar, isso porque quem está todo tempo servindo não tem tempo para tecer críticas infundadas que partem de um coração que vê nos outros aquilo que lhe falta.
Em quarto lugar, ser simplesmente como Jesus é se submeter ao chamado para  INFLUENCIAR como ele INFLUENCIOU. Ser como Jesus é não se amoldar ao contexto social para ser modificado, mas se inserir nele para transformar à medida que se vai sendo por Ele transformado. Assim, a Bíblia diz: E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus (Rm 12:2). Portanto, Paulo continua a nos dizer: “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo” (I Co 11.1). Como sal da terra que preserva as verdades imutáveis do Reino de Deus e luz que alumia a humanidade que vive na escuridão do pecado, o cristão foi chamado para imitar e ser imitado à medida que continuamente busca imitar a Cristo. “Logo, vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5:13-16).
Enfim, quando permanecemos e andamos, somos, agimos e influenciamos em Cristo, por Cristo e para Cristo, o cristianismo real e não caricaturado é manifesto e a glória de Deus alcança e transforma onde a luz do Senhor chega. Para além das estruturas, tradicionalismo e hierarquias religiosas, Deus nos chama para vivermos olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus (Hb 12:2).
Jesus não está mais fisicamente entre nós há mais de dois mil anos. Mas quando buscamos imitá-lo por meio da ação do Espírito de Deus, pensamos o que ele pensou, sentimos o que ele sentiu e fazemos o que Ele fez, somos o reflexo de sua imagem aos homens. Assim, somos sua boca que proclama a Palavra que liberta, seus olhos que contemplam o perdido com compaixão, seus braços que abraçam o desprezado, seus pés que andam a segunda milha e seu coração que ama o mundo e, foi transpassado para resgatá-lo, a fim dar dignidade ao homem que vive o processo de decadência no qual se inseriu a raça humana. Ser cristão, é ser SIMPLESMENTE COMO JESUS.

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