sábado, 15 de setembro de 2012

“Deputados se acham demais”, diz Tiririca


Em sua primeira experiência política, parlamentar afirma que colegas gostam mesmo é do poder e não falam para os colegas em plenário, mas para quem assiste às transmissões pela TV

Na galhofa, o palhaço Tiririca se elegeu deputado dizendo que não sabia o que fazia um deputado. 
Pedia voto para poder contar depois. Desde que assumiu na Câmara, ele já tem a resposta pronta na ponta da língua, e a repete como um mantra: “Trabalha muito e produz pouco”. Mas o deputado aprendeu outra coisa: seus colegas gostam mesmo é do poder.
“Esse negócio aqui é o poder. A galera gosta do poder, muitos se acham demais aqui. Não me sinto assim”, afirma. Ele diz entender por que ninguém presta atenção no discurso do outro. “Os deputados não estão ali no plenário falando para os colegas. Estão falando para a televisão. É igual quando a gente grava na TV. Os deputados também estão falando para a plateia em casa”, observa.
Tiririca diz que, apesar de circular com um broche parlamentar graças à segunda maior votação obtida por um deputado na história do país, não mudou seu comportamento. “Não mudei. Sou a mesma pessoa, não dou carteirada em ninguém. As pessoas na rua me chamam de abestado. Se falam isso para outro deputado, vai ter briga. Acho até estranho me chamarem de senhor.” Nestas eleições, o deputado tem viajado país afora, ajudando o partido a eleger prefeitos.
Leia a íntegra da entrevista de Tiririca:
Congresso em Foco – O senhor foi indicado por 186 jornalistas que cobrem o Congresso como um dos 25 melhores deste ano. A que o senhor atribui essa indicação?

Tiririca – Sou um dos nove mais assíduos na Câmara. Estou publicando boletim divulgando onde coloquei as verbas das minhas emendas. Estou prestando contas para o povo, fazendo a minha parte e obrigação. Isso é bacana. O político é muito mal visto pela população, mas, por onde viajo, tenho recebido muitos elogios das pessoas. Só de ser citado nessa votação, no meio de 513 deputados, é algo fantástico. Eu não sou político, estou político. É uma diferença grande. Estou bem pra caramba. E o mais importante: sendo eu aqui. No começo, imaginava que só poderia ser aquela coisa de terno. Aqui, sou eu mesmo, os caras me respeitam. Estou dentro do regimento, sendo eu mesmo. Isso é maravilhoso.
O senhor não mudou como deputado?
Não mudei. Sou a mesma pessoa, não dou carteirada em ninguém. As pessoas na rua me chamam de abestado. Se falam isso para outro deputado, vai ter briga. Acho até estranho me chamarem de senhor. Digo para as pessoas ficarem à vontade para me chamarem de você. Outro dia um segurança da Câmara me barrou na entrada de um restaurante aqui. Se fosse outro deputado, dava carteirada. Aceitei as desculpas. Esse negócio aqui é o poder. A galera gosta do poder, muitos se acham demais aqui. Não me sinto assim. Além disso, tenho uma assessoria boa pra caramba. Não é porque você foi o mais votado que vai ficar se achando. Isso é bobeira. Eu sou eu, venho aqui de tênis. No começo, a galera falava. Não estou fugindo do regimento. O pessoal, quando me vê, diz que sou simples, igual na TV. Para onde vou, é foto. A gente faz uma bagunça.

O senhor chegou aqui cercado de desconfiança. Acredita que superou isso em menos de dois anos de mandato?
A desconfiança era geral, até mesmo do povo que votou em mim. Votaram em mim por eu ser algo diferente, queriam ver o que eu iria fazer. Mas sempre disse que a coisa aqui na Câmara seria séria.

O que o senhor mais aprendeu aqui desde que chegou?
É muito difícil aprovar algum projeto. Tem parlamentar com vários mandatos que nunca conseguiu nada. Estou no primeiro mandato, e o meu projeto que trata dos circenses foi aprovado na Comissão de Seguridade Social. Agora vai para a CCJ. Estou superfeliz com isso, mostrando para os meus eleitores que eles não deram voto perdido. Não estou fazendo feio. Não quero decepcionar o povo nem me decepcionar. Não basta apresentar projeto, tem de ficar em cima, porque é complicado. A gente está fazendo reuniões, cobrando.

O senhor considera que evoluiu como deputado do ano passado pra cá?
Evoluí em tudo. Agora estou totalmente seguro de como funciona a Casa, de como deve ser. Não quero errar em nada. Estou com esse pensamento. A gente vê como funciona. Aí, você aprende que vai por um caminho legal ou um caminho errado. Você tem essa oportunidade de estar aprendendo. É bacana ver parlamentar com dez, nove mandatos, admitir que estava com medo que eu fizesse palhaçada e que agora vem me dar os parabéns. Estou respeitando eles, e eles me respeitam.

O senhor se sente mais cobrado do que os outros parlamentares?
Eu me sinto vigiado aqui 24 horas. Muitos pensaram que eu não ia ser levado a sério. Quem me dá parabéns talvez nem curtisse meu trabalho como comediante, mas se surpreendeu. Muitos que meteram o pau em mim na imprensa agora me cumprimentam, dizendo que se surpreenderam.

Quem, por exemplo?
Prefiro não falar nomes.

O que mais o incomoda aqui?
Como sou um cara do humor, ficou preso aqui. Sou bicho solto no mundo. Tanto que, se me prendem no humor, não rendo nada. Vou seguir o texto, mas do meu jeito. Na TV, me deixam à vontade, porque acreditam que é assim que funciona. Aqui cheguei preso. Caramba, o que estou fazendo aqui? Sentia que as pessoas me olhavam atravessado: este cara vem fazer palhaçada. Mas a gente está surpreendendo.

Já se considera plenamente adaptado à atividade parlamentar?
Venho segunda à noite para cá, porque tenho medo de o voo atrasar na terça e eu ter de faltar. Terça de manhã já tem comissão. Terça e quarta são dias de receber as pessoas no gabinete. É gente demais, do país todo, que vem tirar fotos e dizer que está acompanhando o meu trabalho na Câmara. Estou feliz por isso. Estou totalmente adaptado, já sei como funcionam as coisas.

O senhor considera que tem menos espaço para errar aqui do que seus colegas?
Cabe a você caminhar pelo caminho certo ou errado. Aqui, tem esses dois caminhos. A responsabilidade é maior, qualquer vacilo que eu der, a imprensa e os colegas vão cair de cima: “Oh, o palhaço está fazendo palhaçada”. Quando você faz trabalho legal, os colegas mais experientes não vão querer ficar para trás e passam a fazer a coisa legal também: “Um doidinho vem do circo e está fazendo as coisas, por que a gente vai ficar pra trás?” É bom para o povo chegar sangue novo, um cara que não é da área. Isso é maravilhoso.

O senhor já pensa em buscar a reeleição?
Nisso ainda não penso. Penso em terminar o mandato legal. É isso que estou fazendo. É uma coisa de cada vez. No momento, estou feliz, estou gostando. Estou fazendo coisas que, como artista, jamais poderia fazer para o povo. De onde ia tirar dinheiro do bolso para saúde, educação e esporte? Não tinha como. Mas, com emenda parlamentar, posso. Tenho verba anual para mandar para essas áreas.

Como o senhor define o seu mandato?
Diria que está muito bom. Está sendo positivo. É muito legal as pessoas se aproximarem e dizerem que estão acompanhando. Costumo dizer que sou um cara de muita sorte. Conseguir me transformar em político e ser reconhecido na rua, com as pessoas chegando até mim e me parabenizando… Político é mal visto pra caramba, acham que é mais um que vai roubar. As pessoas me dizem diretamente que estão de saco cheio de político. Estou fazendo um trabalho maravilhoso. Sou o único com essa bandeira do circo. Sou um cara circense. E estou firme nessa bandeira. Pode não dar em nada, mas estou fazendo muito barulho. O circo está sendo lembrado. Pessoas que nunca imaginei que fossem de circo estão dando a cara para bater. As pessoas não têm mais vergonha de falar que são de circo. Deu uma grande abertura.

O senhor teve de se reinventar aqui?
É uma loucura total, era tudo novo pra mim. No começo, eu pensava: “Poxa, o cara fala no plenário e ninguém presta atenção. Isso é um absurdo”. Por isso que o Clodovil ficou chocado. Com o tempo, você entende que a mecânica da coisa aqui é assim. Os deputados não estão ali no plenário falando para os colegas. Estão falando para a televisão. É igual quando a gente grava na TV. Os deputados também estão falando para a plateia em casa. Não estou bagunçando o trabalho de ninguém, sou um cara verdadeiro. Já sei o que deputado faz, trabalha muito e produz pouco. O mínimo que você pode fazer é não faltar às votações, estar nas comissões, isso é uma obrigação do parlamentar. Quero seguir sempre essa linha, se Deus quiser.

O senhor se arrepende de algo neste um ano e meio de mandato?
De nada. Eu me surpreendi porque sou um cara livre. Se você quer levar a coisa a sério, vira uma obrigação. Se você entrou no negócio, tem de dar o máximo de você. Não gosto de ficar preso.

Quais são seus objetivos imediatos aqui na Câmara?
Aprovar o projeto do circo. Se ele for aprovado, meu mandato já terá cumprido sua missão. Será sensacional. No primeiro mandato, e ter uma lei aprovada! Agora é continuar esse trabalho para terminar o mandato legal. O que vem depois eu não sei, ainda não tenho na cabeça. Quero terminar bem o mandato, fazendo algo pelo povo, não decepcionar os eleitores nem os fãs.

O senhor chegou a ter o nome especulado para disputar a prefeitura de São Paulo. Ficou frustrado pelo fato de o partido não ter levado sua candidatura adiante?
Eu vi que não estava preparado. Não é assim, não dá pra fazer isso. Isso requer muita experiência e tempo na política. Fiquei feliz por terem lembrado do meu nome, mas não teria condições.

Como tem sido sua participação nestas eleições?
Estou viajando para o partido. Já fiz uma porrada de viagens. Já fui para a Bahia, o Acre e várias cidades de São Paulo. As perguntam para os parlamentares de estados diferentes como é o Tiririca. E o partido me leva para dar palestra. No inicio do mandato, eu dava meu depoimento, lembrando que era palhaço de circo e que era possível fazer algo na política. Agora tenho viajado para pedir votos. Eu subo no palanque, conto minha história e digo para as pessoas votarem em quem elas quiserem. Eu não peço para votar em fulano. Digo assim: se você se identificou e acha que deve votar nele, vote.

Mas o senhor não teme ser usado politicamente?
Procuro me informar antes sobre os candidatos. A gente recuou algumas vezes, porque mando a assessoria ver quem é o cara. Se ele está enrascado, não vou queimar meu nome. Comecei a trabalhar como artista aos 8 anos e estou com 47 agora. Tenho 39 anos de estrada como artista. Porque assim não vou me queimar só politicamente. É complicado pra caramba, tem de ter noção que não dá pra fazer tudo.


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