O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, apresentou neste sábado sua renúncia ao presidente Giorgio Napolitano, abrindo oficialmente uma crise no governo que levará amanhã o chefe de Estado a realizar uma rodada de consultas com alguns dos principais políticos do país.
Napolitano começará amanhã uma rodada de consultas para determinar se será formado um governo de tecnocratas, à frente do qual estaria o economista Mario Monti, ou se convocará eleições antecipadas. Monti, 68 anos, foi designado senador vitalício na última quarta-feira pelo chefe do Estado, o que foi interpretado como um respaldo à sua candidatura, que também reúne apoios internacionais, como o do presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o da chanceler alemã, Angela Merkel.
Napolitano se reunirá no começo da manhã com os presidentes do Parlamento - Renato Schifani, do Senado, e Gianfranco Fini, da Câmara dos Deputados. Depois, ouvirá a opinião de seus antecessores no cargo, Oscar Luigi Scalfaro (1992-1999) e Carlo Azeglio Ciampi (1999-2006), e se encontrará com representantes dos partidos políticos.
Até o momento e após muitas idas e vindas, todas as forças políticas estão a favor de um governo técnico, algumas com condições, como é o caso do partido Itália dos Valores (IDV), de oposição. Na última reunião de Berlusconi com sua legenda, o Povo da Liberdade (PDL), antes de apresentar sua renúncia, o partido informou que daria voto de confiança a um governo liderado por Monti, mas pôs como condição: que "seu programa de governo esteja circunscrito apenas à aprovação dos 29 pontos" contidos no documento com as reformas prometidas à UE para reduzir a dívida.
Membros do PDL acrescentaram que esperam que se trate de um governo com mandato breve, formado por tecnocratas, e que Monti e os novos ministros não sejam candidatos nas próximas eleições. A Liga Norte rejeitou plenamente a possibilidade de um governo técnico com Monti à frente, e o líder do partido, Umberto Bossi, anunciou que a legenda, nesse caso, passará à oposição.
Caso aposte pela opção tecnocrata, segundo todos os indícios, Napolitano encarregaria Mario Monti para formar um Executivo cuja lista pode ser apresentada neste domingo para acalmar os mercados na segunda-feira. O novo governo precisaria ainda receber o consentimento na Câmara dos Deputados e no Senado nos próximos dias.
A saída de Berlusconi, que será julgado por corrupção, abuso de poder e incitação à prostituição de menores, foi comemorada em Roma por milhares de pessoas, que se reuniram nos arredores do palácio do governo e depois no palácio Quirinale, sede da Presidência.
Manifestantes levaram cartazes com expressões como "Obrigado, Giorgio", dedicada a Napolitano, e "Finalmente!", e gritaram palavras de ordem como "demissões" e "vergonha", dirigidas à classe política em geral. Até mesmo uma orquestra se reuniu na praça onde fica o palácio Quirinale para entoar o "Aleluia", de Händel.
Berlusconi, que está em seu quarto mandato como primeiro-ministro, cumpriu sua promessa de renunciar após a aprovação, de forma definitiva na Câmara dos Deputados, da Lei de Orçamentos de 2012, que inclui as reformas econômicas exigidas pela União Europeia à Itália.
O premiê italiano comunicou primeiro sua renúncia aos ministros que integram seu governo, e ao sair da sede do Executivo, por uma porta secundária, foi hostilizado por uma multidão que estava do lado de fora.
"Isto é algo que me entristece profundamente", afirmou. A rapidez com a qual aconteceu a aprovação das reformas e a transição política foram acompanhadas de perto por França e, sobretudo, a Alemanha, que esperam que a saída de Berlusconi acalme os mercados, atualmente em uma situação catastrófica.
A saída de Berlusconi
Berlusconi prometeu renunciar após uma série de escândalos de corrupção e envolvendo sua vida pessoal. No dia 8, Berlusconi sofreu um duro golpe no Congresso. Na ocasião, somente 308 - dos 630 deputados - continuaram a apoiar o premiê, durante uma votação sobre as contas do governo. Além disso, a economia italiana se vê ameaçada devido à crise na zona do euro. A dívida pública do país já atinge 120% do Produto Interno Bruto (PIB). Em troca da renúncia, o político pediu que a Lei de Austeridade, proposta pelo governo, fosse aprovada.
O texto passou pelo Congresso no dia 12 de novembro e contém medidas para economizar 59,8 bilhões de euros e equilibrar o orçamento do país até 2014, entre elas: o aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), de 20% para 21%; o congelamento dos salários de servidores até 2014; a alta da idade mínima de aposentadoria para as trabalhadoras do setor privado, de 60 anos em 2014 para 65 em 2026; aperto nas medidas contra a evasão fiscal; e um imposto especial para o setor de energia.
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