quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O DEUS DOS CRISTÃOS


O adorável Deus dos cristãos - I


O Deus dos cristãos é diferente de todos os outros; é o Deus revelado por Jesus, revelado precisamente como Pai: “Pai... manifestei o teu nome aos homens” (Jo 17,6); “Quando orardes dizei: Pai!” (Lc 11,2).
Em todas as religiões, quando os homens dizem “Deus”, pensam-no a partir do mundo ou de si mesmosOs cristãos, chamando-o Pai, pensam e dizem Deus em sua relação com o Filho, na qual ele é eternamente Deus-Pai. Assim, ao denominá-lo “Pai”, apontam para o mistério profundo da vida mais íntima do próprio Deus. Ele é o Pai do Filho, eternamente; por isso é chamado “Pai”; não porque é pai nosso, mas porque é o Pai do eterno Filho... somente por isso pode ser também pai nosso!
Quando denominamos Deus de Pai, fazemo-lo a partir do que Jesus nos ensinou. Ora, esta paternidade divina é totalmente diferente da do homem, já queDeus é o Pai essencial e absoluto: ele é somente Pai, simplesmente Pai, totalmente Pai! Só existe porque é Pai e seu ser é total e simplesmente paterno!Para ele, Pai é o primeiro nome, ao qual todos os outros se subordinam, até mesmo o de Senhor do céu e da terra: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra” (Mt 11,25).
Sendo assim, a paternidade em Deus é um mistério que nunca poderemos sondar: somente o Filho e o Santo Espírito a conhecem. Os Santos Padres compreendiam bem a grandeza do mistério. São Cirilo de Alexandria nos advertia: “Crê pela fé que Deus tem um Filho e não te canses querendo saber como. Porque é inútil, não conseguirás saber!” E São Gregório da Nazianzo chegava a demonstrar indignação: “Como o Filho é gerado? Repito-o com a indignação que essa questão merece: a geração de Deus é honrada com o silêncio. Já é muito para ti saber que ele é gerado!”
Assim, tirando as sandálias dos pés, vamos nos aproximar desse Mistério tão santo! Vamos aos poucos, passo a passo, para podermos aprofundar e saborear ao máximo que pudermos tão grande e doce realidade!

 







O adorável Deus dos cristãos - II


Comecemos pensando em Adão: ele foi o primeiro criado, modelado pelas mãos de Deus... quanto ao Filho, diversamente de Adão, ele é o primogênito de toda criatura (cf. Cl 1,15). Ele não é modelado pelo Pai, não foi criado, mas brota da sua própria substância, quer dizer, do próprio ser do Pai: “Farei permanecer após ti o filho saído de tuas entranhas (2Sm 7,12). Jesus se diz saído de Deus, de suas entranhas; ele vem das profundezas do mistério do Pai! Ele saiu de seu Pai naquilo que há de mais íntimo em Deus! Trata-se de uma geração tão real e plena que jamais poderemos imaginar! Na terra, a criança nasce “do sangue e da vontade da carne”, quer dizer,daquilo que o homem tem: de sua natureza humana e terrestre; ele não vem daquilo que o homem é em sua profundidade, no âmago do seu ser, ali onde ele é ao máximo ele mesmo, isto é, de sua pessoa. Pense-se, por exemplo, naquelas gerações traumáticas, fruto de relações pré-matrimoniais, de estupros, etc... Por isso mesmo,na terra, não existe pai essencial nem filho essencialO Filho único, ao invés, não saiu da natureza divina que o Pai tivesse. A pessoa do Pai, enquanto tal, é que gera! Na vida divina, tudo começa no Pai; não existe essência divina da qual jorram as pessoas. Na origem está o Pai, do qual jorra, com o Filho, o Espírito. É neste jorrar amoroso que se concretiza a essência divina! Assim, na vida divina, é o Pai enquanto Pai quem gera: a Primeira Pessoa somente pode existir como Pai-que-gera-o-Filho; em outras palavras: o ser do Pai se constitui gerando o Filho!
Esta geração é um ato de profundo amor: o Pai é manancialidade pura, é gratuito e amante extravasamento de amor, ele é o Gerante, o eterno Amante! Ele é fecundidade infinita, Amante inicial, nunca motivado, sempre motivante: o Deus que sempre amou primeiro! A geração do Filho não somente é eterno amor, mas eterna humildade, eterno êxodo, eterna pobreza: amando o Pai sai de si, se arrisca, se joga... em certo sentido, se aliena de si para existir no outro Amado! Essa alienação eterna, esse despojamento eterno do Amante abre eternamente espaço ao Amado, numa eterna e infinita kénosis do Pai! Ao Filho amado o Pai dá tudo... melhor, dá-se todo, exceto - porque não o pode! -, a sua paternidade: ele é eternamente o Princípio, a Fonte, o Início, a Iniciativa amante!

 







O adorável Deus dos cristãos - III


Mas, se amando o Pai ama e, amando, gera, também o Filho, deixando-se amar, ama e, amando, é gerado! Se o Pai é manancialidade de amor amante, o Filho é total receptividade do amor amado; se o Pai ama doando total e absolutamente, o Filho ama recebendo total e absolutamente: ele é pura receptividade do Amor, é o “Amado antes da criação do mundo” (Jo 17,24). O Filho é o outro no Amor, aquele sobre o qual repousa o Amor do Pai. Se dar tudo no Amor é ato de eterna e infinita humildade e pobreza, receber tudo no Amor é, do mesmo modo, infinita humildade. Assim, o Filho é, na sua pura receptividade, na divina pobreza do seu acolher, aquele no qual o Pai plenamente se comunica e se exprime, a plena expressão e comunicação do Pai, a sua Palavra eterna, o Verbo, a Imagem transparente e irradiante dele. Se o Pai é o eterno Silêncio, o Mistério insondável, o Filho é a Palavra eterna e fidelíssima que brota do Silêncio e o exprime!“Quem me vê, vê o Pai!” Na sua eterna pobreza, o Filho é reflexo puro e perfeito do Pai (cf. Hb 1,1-3)!

 



 Escrito por Dom Henrique às 15h38
(0) Comente  ] [ envie esta mensagem ] [  ] 



O adorável Deus dos cristãos - IV


O Pai é o eterno Amante que gera o Filho, eterno Amado! Mas, a geração do Filho seria impensável sem o Amor eterno! Este Amor é o Santo Espírito! Deus gera amando, gera no Amor; gera, portanto, no Espírito, que é o Amor do Pai que repousa sobre o Filho! É no Espírito de Amor que o Pai é Pai porque é no Espírito que ele gera! É dando o Espírito que o Pai gera o Filho e é recebendo, acolhendo graciosamente o Espírito que o Filho é Filho, que é o Amado! Assim, o Espírito é o laço de Amor entre o Amante e o Amado: no Pai, ele é Espírito de paternidade; no Filho, é Espírito de filiação; em ambos é Amor: gerante em um, gerado no outro! É no Espírito que o Filho se deixa amar e revela seu amor pelo Pai. Porque o Espírito é Amor que brota do Pai para o Filho, dizemos que ele procede do Pai; porque este mesmo Espírito é Amor recebido pelo Filho que, recebendo-o ama, permitindo que exista o Amor (pois somente pode haver amor se há um amante e um amado), dizemos que o Espírito procede também do Filho: procede do Pai e do Filho! Assim, é Espírito de Amor, Espírito de unidade, ninho amoroso e aconchegante que une Pai e Filho. No Amor, Amante e Amado se diferenciam e se unem, pois é o Espírito que está em um e em outro!
Assim, a Pessoa do Pai se constitui na geração do Filho e na processão do Espírito. Por isso o Pai não é anterior ao Filho, apesar de ser a sua fonte. Os dois são co-eternos e o mistério do Pai se realiza e se esgota por inteiro na geração do Filho: é este o único “querer” e a única ação do Pai – e isto o faz ser o que é: Pai! Quanto à terceira Pessoa, ela não é última e não vem depois das outras, já que é nela que se constituem a Pessoa do Pai e a Pessoa do Filho: os dois, que são chamados primeiros, são pessoas em seu Amor mútuo, isto é, na terceira! Embora a personalidade do Espírito seja menos bem representada (ele é chamado com nomes impessoais: espírito, sopro, água viva, fogo), é ele o princípio de toda personalização. Na enumeração trinitária ele é posto no fim; porém não é nele que termina e repousa a ação do Pai: a paternidade de Deus tem como fim somente o Filho. O movimento trinitário tem como fonte o Pai e como termo o Filho. Quanto ao Espírito, embora não seja fonte nem termo, está na fonte e no termo: um é o Gerante, outro é o Gerado e outro é a Geração; um é o Pai, outro é o Filho e outro é o Espírito. E se é verdade que nenhuma pessoa procede dele, nem por isso é ele atingido pela esterilidade: ele é a própria fecundidade de Deus, o selo da perfeição do Amor divino!
Nossas palavras são pobres, inadequadas, quase que blasfemas, ante o Mistério trinitário! Aqui, não há mais lugar para palavras, mas somente para a silenciosa e amorosa adoração!

 


Artigos de DOM HENRIQUE
http://www.domhenrique.com.br

Nenhum comentário:

Piso salarial do professor: saiba quem tem direito ao reajuste nacional

  Presidente Jair Bolsonaro divulgou na tarde de hoje (27) um reajuste de cerca de 33% no piso salarial do professor de educação básica; con...