quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O reino dos céus é como...




Caro Internauta, partilho com você alguns pensamentos sobre o evangelho de hoje (Mt 20,1-16a):
Naquele tempo, Jesus contou esta parábola a seus discípulos: “O Reino dos Céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha. Às nove horas da manhã, o patrão saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, e lhes disse: ‘Ide também vós para a minha vinha! Eu vos pagarei o que for justo’. E eles foram. O patrão saiu de novo ao meio-dia e às três da tarde, e fez a mesma coisa. Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam na praça, e lhes disse: ‘Por que estais aí o dia inteiro desocupados?’ Eles responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. O patrão lhes disse: ‘Ide vós também para a minha vinha’.
Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros!’ Vieram os que tinham sido contratados às cinco da tarde e cada um recebeu uma moeda de prata. Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. Porém, cada um deles também recebeu uma moeda de prata. Ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão: ‘Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro’. Então o patrão disse a um deles: ‘Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti. Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?’
Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”.

Sempre comove quando Jesus inicia uma parábola dizendo: “O Reino dos céus é...” Com estas palavras o nosso Salvador deseja sempre nos mostrar o coração do Pai, a lógica, o dinamismo, as “leis” que regem o agir de Deus, do Pai de Jesus... Tantas vezes Jesus nos falou desse Reino, Reino dos Céus ou Reino de Deus...
Veja nesta parábola de hoje. Esse patrão é o próprio Deus que, no seu Filho, nos vem chamar para o trabalho na sua vinha. Calma! Trabalhar na vinha não é primeiramente fazer coisas, realizar atividades pastorais. Trabalhar na vinha é simplesmente abrir-se para o convite de Jesus, Palavra do Pai, é acolhê-lo na fé e deixá-lo invadir a própria vida! “Ide, também vós, para a minha vinha” significa isto: acolhei o Reino que eu vos venho anunciar; deixai que o Pai do céu reine na vossa vida e, assim, que a vossa vida transborde o Reinado de Deus onde quer que estejais, por onde quer que passeis!
É impressionante como o dono da vinha é persistente em querer todo mundo na sua vinha. Não se conforma com que se fique de fora, na praça da vida, de braços cruzados, como quem não tem objetivo nem sentido para a existência. Por isso, em Jesus, Deus, o dono da vinha, convida a todos, desde o início da jornada até a última hora. Não importa: seja no início da vida, quando criança, seja já no último raio de sol do entardecer da existência, o Senhor nos chama, nos convida, insiste, nos dá chance: “Ide, também vós, para a minha vinha!” Um Deus persistente em crer em nós – em mim, em você, meu Irmão leitor! Eis o Reino dos Céus: fruto da persistência de Deus em nos salvar, da sua teimosia de crer em nós!
Depois, a hora do acerto de contas, do juízo, da recompensa. Que surpresa, o cálculo do coração de Deus! A todos preenche, a todos plenifica, com a plenitude de graça, de superabundância, de gratuidade, que somente o seu coração pode calcular! E como o cálculo de Deus é diferente do nosso! O patrão paga primeiro os últimos contratados – aqueles que somente trabalharam uma hora e com o sol já frio, sem terem de suportar o peso do dia e do calor... E aqueles outros, olhando de canto de olho, invejosos da bondade do patrão. Caro Irmão, que flagrante diferente entre a lógica de Deus e a nossa! O Reino dos céus não obedece às nossas tabelas, às nossas bases de cálculos... Como temos que nos converter, como temos de aprender do coração do Pai do Céu, como temos que escutar, escutar e escutar novamente ainda mais uma vez o nosso Jesus!
Dói tanto caminhar com um Deus difícil de compreender, um Deus grande demais, livre demais, misterioso demais para os nossos cálculos e nossos gostos. Caminhar com o Senhor Deus, aquele, Santo de Israel, a quem Jesus chama de Pai, é ter de nos converter o tempo todo, ter de nos adaptarmos, nos acomodarmos aos seus modos e seus tempos! Ou nos convertemos a ele ou jamais experimentaremos a doçura, a força, a grandeza do seu Reino1
Sabe, meu Leitor? O Reino dos Céus não é óbvio, não é de fácil compreensão, não é de fácil aceitação, porque exige que saiamos da nossa lógica, da nossa medida, do nosso cálculo, da nossa expectativa, para ir ao encontro do Senhor e acolhê-lo, assim como ele é! Não é a toa que o nome santo do Deus de Jesus – aquele mesmo a quem ele chama Pai em os ensina a chamá-lo também de Pai – é misterioso. Sim, sim: ele é o Pai de Jesus, tão doce, tão íntimo, mas, ao mesmo tempo, continua misterioso, “perigoso”, desconcertante. Não é por acaso que no Horto das Oliveiras, Jesus, em agonia, chama-o “Abbá”, Pai querido, Papai, e, no entanto, o cálice não é afastado! Não é por acaso que o Filho amado, ainda que esteja nos braços do Pai, tem que aprender a obedecer no sofrimento!
Vamos, Irmão, como peregrinos: creiamos no Pai que Jesus nos revelou! Deixemo-nos plasmar por ele, como o vaso nas mãos do oleiro: que ele nos molde, nos remodele, nos transforme e faça de nós como for do seu agrado! A ele a glória, por Cristo, na Igreja. Amém.

 

Ó Senhor, aos que agora chamais
E ireis premiar no futuro
Por salário daí força na luta
E na paz um repouso seguro!




 Escrito por Dom Henrique

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