sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O INFERNO EXISTE?

NOTA: Transcrevemos na íntegra o mail recebido de F. S. sendo a nossa argumentação apresentada a negrito. Veja o que a doutrina da existência de um inferno de fogo causa aos que observam do lado de fora o cristianismo: - Não é novidade nenhuma que a doutrina da existência de um inferno de fogo tenha, ao longo dos tempos, causado as mais variadas reacções naqueles que a conhecem ou que, simplesmente, a ouvem. Não é também novidade que tanto dentro como fora do cristianismo exista uma certa aversão a tudo o que diga respeito a condenação vindoura. Vivemos cada vez mais numa "sociedade asséptica" onde toda e qualquer noção de sofrimento é vista como reprovável, absurda, mesmo condenável. Neste caso não hesitamos em estabelecer a mesma medida que condenamos, isto é, condenamos os que advogam a doutrina da condenação. Este estado de espírito não somente reina fora do cristianismo como também, infelizmente, dentro dele. Vários sectores da igreja instituída já não hesitam unicamente em negar a existência do inferno, como também vão mais longe ao afirmar que, no fim dos tempos, todos serão igualmente salvos independentemente do que tenham feito em vida. O INFERNO EXISTE? F. S. A Igreja Católica passou 2000 anos descrevendo o inferno como um lugar cheio de fogo e tortura. Os protestantes ainda se apegam a essa ideia e é assim que ele foi mostrado aos pastores de Fátima durante uma das supostas aparições da Virgem. Agora a Igreja diz que o sofrimento é apenas a ausência de Deus, o arrependimento por se ter escolhido a opção errada. Não uma condenação, mas uma escolha individual. Resposta: Em relação ao inferno, a Igreja ao longo dos tempos só tem afirmado o que os documentos que servem de autoridade em matéria de fé (a Bíblia) afirmam acerca dele (Marcos 9.43; Mateus 8.12, 14.42, 50; Isaías 33.14; Apocalipse 20.15; etc...). Se a Igreja não o fizesse, então qual seria o padrão segundo o qual ela apresentaria a sua doutrina? Se ela apenas apresentasse partes da Bíblia como autoridade, então porque pregar a salvação, o amor de Deus, ou mesmo o paraíso. Ou aceitamos tudo ou não aceitamos nada. Não podemos é aceitar só o que nos interessa. Devemos também denunciar que a autoridade da Igreja só é aceitável enquanto Ela está submissa à autoridade da Palavra de Deus. Infelizmente nem sempre isso aconteceu. Pecado é o que a Bíblia diz que é pecado, não a Igreja; inferno é o que a Bíblia diz que é inferno, não a Igreja. Se a Igreja diz que o inferno é apenas a ausência de Deus, então o mundo é o inferno, ou seja, o inferno é aqui e agora, o que contraria o que as Escrituras descrevem como sendo o inferno. O inferno é a condenação resultante de uma escolha individual. Ninguém escolhe directamente o inferno. Simplesmente ao rejeitarem Deus, os indivíduos estão, indirectamente, a escolher o inferno. Ninguém escolhe directamente ter um cancro do pulmão. Mas ao decidir acender um cigarro estou, indirectamente, a escolher ter mais probabilidades de o contrair. Este é o castigo de uma acção tomada livre e espontaneamente, pois poderia ter escolhido o seu contrário. Se só ao chegar lá os pecadores vão realmente entender que estavam errados, como afirmar que a escolha foi consciente e informada? Pelo contrário, em Lucas 16:19-31 conta-se a parábola do rico no inferno que pede que seus irmãos ainda vivos sejam sejam avisados do que lhe aconteceu para que não acabem como ele, o que lhe é negado. A explicação, ridícula, é a de que, se não acreditaram em Abraão e nos profetas, também não vão acreditar se os mortos lhes aparecerem (por que não?!). Conclui-se que seus irmãos não sabiam do risco que corriam (mesmo porque, para os judeus, a noção de céu e inferno era um tanto confusa). E não é permitido ajudá-los. Deixem que se danem. Note-se que o condenado tinha bom coração. Ele poderia perfeitamente desejar que seus irmãos sofressem também. Outro absurdo é que Lázaro, o pobre, foi para o céu após uma vida de sofrimento enquanto que o rico foi para o inferno após uma vida de prazeres. Em outras palavras, por um instante de sofrimento, uma eternidade no céu e, por um instante de prazer, uma eternidade no inferno. Uma punição infinitamente desproporcional por uma falta cometida por quem não tinha total consciência de seus actos. E uma recompensa também desproporcional por uma vida de sofrimentos não necessariamente escolhida pelo sofredor e sim imposta a ele. O castigo eterno é uma punição grande demais para faltas tão pequenas. Como podem leis absolutas ser aplicadas a seres finitos, limitados e nem um pouco absolutos como nós? Se Lúcifer, um ser de luz, um puro espírito, face a face com Deus, pôde errar, por que simples criaturas materiais devem ser tratadas do mesmo modo que ele? Onde está nosso livre arbítrio se nosso espírito está aprisionado nesta carcaça de carne, numa luta constante contra o apodrecimento? Se nossa visão das coisas é limitada pelos nossos sentidos limitados e nossos instintos animais? Se uma decisão inabalável pode ser destruída por uma enxaqueca ou uma diarreia? Resposta: Não creio que os pecadores só vão realizar que estavam errados quando chegarem ao inferno. A Bíblia diz-nos o contrário. Ela diz-nos que a rejeição de Deus é deliberada e consciente e rejeitar Deus é rejeitar o que Ele diz; e o que Ele diz é a sua Lei. Segundo a epístola aos Romanos (capítulo 2, versículos 13 a 15), os que nunca ouviram falar do Evangelho (denominados gentios) são culpados - menos do que os que o conhecem - pelo facto de possuírem a norma da Lei divina inscrita tanto nos seus corações, como nas suas consciências, como nas suas mentes. Tudo o que compõe o ser humano (afectos, mente, consciência) faz prova da Lei de Deus, pois o ser humano foi criado à sua imagem. Daí que, embora imperfeitamente, o Homem tenha uma certa noção do que o bom e o mau, do que está certo e errado. Instintivamente o ser humano - como ser moral - sabe que existem certas acções tomadas que não são as mais correctas. Mesmo as crianças se apercebem disso. Isto não faria sentido nenhum se o Homem não possuísse uma certa noção de certo e errado. Toda a Natureza é regida por leis. O ser humano é também regido por elas. Mas devemos fazer uma distinção entre a lei da natureza e a lei da natureza humana. Da mesma maneira que os corpos são governados pela lei da gravidade e do crescimento, assim a natureza humana é governada por outra lei, a lei da natureza humana - com a diferença de que os corpos não podem nunca contrariar por si mesmos se hão de cair ou crescer, mas a natureza humana pode escolher se obedece ou não. Como um organismo, o ser humano está sujeito a leis biológicas que, como os animais, não pode desobedecer. Isto é, não pode desobedecer a leis que são igualmente compartilhadas por outros seres. Todavia, a lei que é peculiar ao ser humano, a lei que não é compartilhada por outros seres vivos, animais ou vegetais, é precisamente aquela que ele pode desobedecer se quiser (este argumento só é válido se considerarmos o ser humano algo mais que um animal). Também devemos considerar que se o próprio Filho de Deus apresentou a mensagem e foi crucificado por aqueles que uma semana antes o proclamavam como rei, porque é que, se os mortos aparecessem para pregar o Evangelho, seriam eles mais credíveis. Não colocaríamos estas aparições na mesma gaveta de ilusões em que colocamos a noção de milagres? Por outro lado não concordo que o rico protagonista na parábola de Jesus tivesse tão bom coração como isso. Se lermos com atenção a passagem em questão Jesus refere que o pobre Lázaro jazia à porta de um rico que vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Que bom coração é este que não atende às necessidades do seu próximo? Devemos tomar também em atenção o género literário em questão. Jesus contava uma parábola, uma história fictícia para veicular uma lição, uma verdade. Se eu contar uma história começada por "No tempo em que os animais falavam..." afim de transmitir uma lição moral (como o fez Essopo), seria desonesto não a aceitar sob o pretexto de que os animais nunca falaram, logo, a história, ou a sua conclusão, não pode ser verdadeira. Devemos atentar também para o facto de que Jesus contou esta história após a troça dos Judeus que demonstravam ser avarentos (verso 14) e arrogantes (verso 15) advertindo-os para o facto de que não é o dinheiro que é a raiz de todos os males, mas o amor pelo dinheiro. Além do mais, os irmãos do rico sabiam o risco que corriam, não somente pelo que Jesus afirma no verso 16, mas também pelo argumento apresentado no parágrafo anterior. Quanto à condenação infinita por pecados finitos creio que o problema reside na noção que temos de pecado. Pecado não é somente o mal que comentemos em relação a seres finitos, mas, muito mais que isso, é a desobediência a um ser infinito. Assim como uma infinita compaixão concede felicidade infinita, uma justiça infinita demanda um castigo infinito. Como uma conversão confinada no espaço e no tempo - logo finita - é recompensada com uma felicidade infinita, assim um pecado confinado no espaço e no tempo - logo finito - é castigado com uma punição infinita. Isto porque o Ser que as atribui é Ele mesmo infinito. A nossa dúvida provém da capacidade finita de compreender o infinito. O mundo que a Igreja descreve é como uma arena onde somos jogados para lutar contra os leões, mas com armas limitadas e contra a nossa vontade. Obrigados a participar de um jogo mortal, com regras injustas, obscuras e mutáveis e que nos foram impostas. E ainda temos que louvar o promotor do jogo. Kafka não faria melhor. Um livre arbítrio bem entendido deveria começar pela escolha entre nascer ou não, receber este "presente" do "amor" de Deus ou escapar dele, de uma vida de sofrimentos que talvez seja seguida de uma tortura eterna que nós "escolhemos por vontade própria". Em que medida uma criança é responsável pela educação que recebe e pelo meio social e familiar em que é criada, o que vai determinar que tipo de adulto será mais tarde? Que grau de responsabilidade tem ela por estes factores que não estão sob seu controle? Mesmo que lhe falem de céu e inferno, será que ela está em condições de entender, qualquer que tenha sido sua educação? Será que lhe apresentam provas tão convincentes que ela não possa alegar que não viu motivos para crer? O livre arbítrio é, na verdade, a possibilidade que Deus nos deu de irmos para o Inferno. Um pai que realmente ama seus filhos não apenas os alerta sobre o perigo mas também acaba com ele. Um pai amoroso não cria novos perigos propositadamente. Resposta: A conclusão de uma descrição é sempre dependente dos nossos preconceitos e compreensão. Isso aconteceu com Jesus que dividiu o povo. Para uns era um homem bom; para outros era um blasfemo e desordeiro. Segundo o velho adágio "Se o teu filho tem fome, não lhe dês um peixe, mas uma cana de pesca", é muito mais amoroso prepará-lo e dar-lhe a oportunidade de aprender a lutar do que lhe satisfazer uma necessidade imediata. Seria muito ingrato da parte do filho reclamar com o seu pai porque o pôs no jogo da vida, ou que lhe foi imposto o esforço da luta. Quando a criança crescer e compreender o amor do seu pai, ela vai-lhe agradecer o ter-lhe dado a oportunidade de viver e lutar pela sua felicidade. Se moralmente não crescer, vai constantemente culpar o seu progenitor e lamentar o dia do seu nascimento. Assim aconteceu com Jó (Livro de Jó 3.1-3) até que compreendeu que Deus lhe queria ensinar algo (Jó 42.5). Assim é na arena da vida. Enquanto não compreendermos o amor de Deus vê-lo-emos como um ser terrível, cruel e vingativo. O presente de Deus não é um presente envenenado, pois só os vivos poderão poderão compreendê-lo. Quanto ao livre arbítrio convém esclarecer que o homem só é livre dentro dos limites da sua própria natureza. É uma conclusão lógica do argumento que visa escapar ao juízo infinito visto que somos finitos. Se aceita que somos finitos, terá igualmente aceitar que a sua liberdade também o é. De outra maneira seríamos como Deus (é este o pecado original, querer ser como Deus), completamente livres e autónomos. Um leão tem a capacidade física de comer vegetais e, todavia, não o faz. Porquê? Porque não é a sua natureza. Ele é carnívoro. Só quer carne, apesar de poder escolher e ter a capacidade de ingerir vegetais. Assim é o ser humano: livre dentro dos limites da sua própria natureza. Ele gosta da natureza do pecado (cobiça, egoísmo, glutonaria, luxúria, dinheiro, amor-próprio) sem gostar dos seus frutos (condenação, inferno, morte); não gosta da natureza de Deus (santidade, obediência), mas gosta dos seus frutos (amor, paz, felicidade, paraíso). Como seres naturalmente inclinados a satisfazer a nossa sede de pecado (pecado é aquilo que a Bíblia diz ser pecado, independência de Deus, e não propriamente tudo aquilo que a Igreja afirma ser), tentamos ter "uma no papo e outra no saco". Fazermos o que nos apetece, sem querer prestar contas a ninguém. Como nas uniões de facto: ter o prazer de um casamento, sem assumirmos as suas responsabilidades. A "tortura eterna" não é uma escolha directa, mas uma consequência directa de actos deliberados contra Deus. Não somos responsáveis pelas influências que sofremos, mas pelas decisões que tomamos. Num sentido prático, vemos famílias onde os filhos tiveram a mesma educação em que uns seguiram um caminho e outros outro. Uns tomaram uma decisão e outros outra completamente diferente. A tentação moderna é precisamente a "tentação da inocência" (Pascal Bruckner). Nada é mais difícil do que ser livre, mestre e criador do seu próprio destino. Nada é mais esmagador do que a responsabilidade que nos acorrenta às consequências dos nossos actos. Como desfrutar da independência esquivando-nos dos nossos deveres? Através de duas escapatórias: o infantilismo e a vitimização, essas doenças do indivíduo contemporâneo. Por um lado o adulto, estragado pela sociedade de consumo, querendo guardar os privilégios da infância residindo num estado de divertimento permanente. Por outro lado o mártir, mesmo que não sofra de nenhum mal a não ser o de existir. O culto do maldito no conforto. O indivíduo contemporâneo excessivamente preocupado com a sua independência, mas que reclama, simultaneamente cuidados e assistência. Daí a exigência moderna de evacuar das consciências todas as referências a inferno e condenação e, tal como Adão, culpar Deus pela existência dos factores que nos levam à desobediência: " a mulher que me deste fez-me pecar". Suponhamos que o inferno exista. Uma pessoa só pode ir para lá se decidir, de livre e espontânea vontade, cometer actos que ela sabe, de plena consciência, que vão levá-la ao castigo eterno. Quem tomaria tal decisão, sabendo de todas as consequências de seus actos? Mesmo que alguém afirme: "Eu quero ir para o inferno!", não podemos acreditar em que esta pessoa saiba do que está falando. Para que sua escolha fosse válida, ela teria que ser levada ao inferno, ver e sentir o que significa ir para lá e só então decidir. Entretanto, tudo o que temos são lendas para assustar os crédulos. A Igreja afirma que a escolha é nossa, que somos nós que decidimos e não Deus; isto é uma ofensa à nossa (ainda que limitada) inteligência. Admitir a existência do inferno significa admitir que o Deus infinitamente misericordioso é também infinitamente vingativo. Resposta: Quantos vivem na luxúria sabendo qual pode ser a consequência dos seus actos? Não posso igualmente estar de acordo com aqueles que processam as tabaqueiras por estas não advertirem explicitamente que o tabaco pode matar e causar doenças. E mesmo perante esse facto, as pessoas continuam a fumar. Porque seria diferente com o inferno? Também afirmar a existência do inferno significa admitir um Deus infinitamente justo. A vingança de Deus não deve ser compreendida segundo os padrões humanos em que a vingança é má. Geralmente porque se prende com motivos egoístas. Vingança é simplesmente retribuição. Também Deus não perde a cabeça quando se zanga. Daí o admitir a ira de Deus: santa, sem pecado. No entanto, um Deus infinitamente vingativo é também infinitamente amoroso. Ele não precisa da humanidade para nada, pois é perfeito e auto-suficiente. Deus não sofre de falta de afecto. Mas mesmo assim, decidiu dar-nos a hipótese da reconciliação. Se eu pudesse saber o que realmente constitui o inferno, teria que lá ter estado. Mas assim, a história de Jesus do rico e de Lázaro não mais faria sentido. Uma das conclusões é que as barreiras que separam o inferno do paraíso e da esfera terrestres são intransponíveis. Dizer que Deus é injusto por não nos deixar experimentar para ver é o mesmo que dizer que os nossos pais são injustos quando fazem tudo para nos livrar da droga sem que a experimentemos. No entanto, temos bastante informação disponível. Assim é com o inferno: temos toda a documentação disponível. Não seria bom de um Deus amoroso não nos prevenir de tal facto. Algumas citações: "Qual é o propósito de um castigo eterno depois do fim do mundo? Se não serve para recuperar os pecadores ou como advertência para os demais, trata-se de simples vingança e é moralmente incorrecto"(1) "Nosso tempo de vida é limitado e nós somos limitados, o que limita a quantidade de pecados que podemos cometer. Mas o castigo do inferno é infinito, o que o torna infinitamente injusto" (2) "Deus diz: "Faça o que você quiser mas, se escolher errado, você será torturado no inferno por toda a eternidade". Isto não é liberdade de escolha. Equivale a um homem que diz a sua namorada: "Faça o que você quiser mas, se escolher me deixar, eu vou atrás de você e estouro seus miolos". Quando um homem diz isto, nós o chamamos de psicopata e exigimos sua prisão. Quando Deus diz isto, nós dizemos que ele nos ama e construímos igrejas em seu louvor" (3) "Acredite em Jesus sem provas e evidências ou seja torturado eternamente. Ameaças em lugar de argumentos. Os homens inteligentes são os pecadores e os crédulos, os santos. O inferno é o lugar para onde os covardes enviam os heróis" (4) Diz a Bíblia: Marcos 16:15-16: "Então Jesus disse-lhes: "Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade. Quem acreditar e for baptizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado". João 15:06: "Quem não fica unido a mim será jogado fora como um ramo, e secará. Esses ramos são ajuntados, jogados no fogo e queimados." Mensagem: acredite sem questionar ou queime no inferno para sempre. Isto são Boas Novas ou o decreto de um tirano? Se Jesus manda perdoar os inimigos e oferecer a outra face, como ele poderia condenar ao castigo eterno alguém que honestamente não viu motivos para acreditar nele? O que ele responderia se isto lhe fosse perguntado pelo penitente na hora do Juízo Final? Ou ele não é obrigado a seguir seus próprios mandamentos? Muitos crentes se dizem "salvos" porque "aceitaram Jesus como seu salvador" e acham que não precisam fazer mais nada, já que eles se agarram ao Evangelho segundo João, que diz que o importante é a fé e não as boas obras, que os ateus irão para o inferno por mais virtuosos que sejam. Boa parte dos crentes parece considerar o Juízo Final como o momento da vingança, o momento em que serão glorificados diante de todos e irão para o céu enquanto a escumalha, os descrentes, os infiéis, serão jogados no inferno. Os católicos também já foram assim, como se vê por estas duas citações: "Para que os santos possam desfrutar de sua beatitude e da graça de Deus mais abundantemente, lhes é permitido ver o sofrimento dos condenados no inferno" (5) "Ah, que cena magnífica! Como eu vou rir e ser feliz e exultar quando eu vir esses filósofos tão sábios, que ensinam que os deuses são indiferentes e que os homens não tem alma, assando e torrando diante de seus discípulos no inferno" (6) Outros crentes dizem que não há desculpa para quem não quer "aceitar Jesus", já que a Bíblia está ao alcance de todos e as igrejas estão por toda a parte, de portas abertas. Dizem que têm pena dos que serão condenados mas que é a escolha deles. E que os milhões de descrentes terão uma surpresa muito desagradável no final dos tempos. Por mais que digam o contrário, a impressão que se tem ao ouví-los é de que estão esfregando as mãos de felicidade, na expectativa do dia da vingança. Como disse Mark Twain, "as pessoas que me dizem que eu vou para o inferno e que elas vão para o céu de certa forma me deixam feliz por não estarmos indo para o mesmo lugar". F. S. ________________________________ Fontes: (1) Lord Byron, "Detached Thoughts", no.96 (1821- 22) em "Byron's Letters and Journals", vol. 9, 1979. (2) Dennis McKinsey, "Biblical Errancy - My two pamphlets". (3) William C. Easttom II (4) Lemuel K. Washburn, "Is The Bible Worth Reading And Other Essays" (5) Tomás de Aquino, 1225-1274, "Summa Theologica" (6) Tertuliano, "De Spectaculis" Conclusão: O nosso tempo conta-nos uma estranha fábula: a de uma sociedade dedicada ao hedonismo em que qualquer contrariedade é chocante, para a qual tudo se torna a causa de irritação e suplício. Para ela, a infelicidade não é só a infelicidade, mas o fracasso da felicidade. Com o pensamento moderno, o prazer e o bem-estar são reabilitados e o sofrimento posto de lado como um arcaísmo. Inferno é sofrer; castigo é sofrer; sofrer é sofrer. Assim, a felicidade não só constitui a maior indústria dos dias de hoje, como é também a nova ordem moral: daí que a depressão prolifere. J. P. http://semperreformanda.no.sapo.pt/Resposta_a_um_leitor.htm

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