domingo, 16 de outubro de 2011

A santa inquietude que abre para Deus




Não é verdade que o homem, como às vezes se diz, não possa organizar o mundo terreno sem Deus. É verdade, porém, que, sem Deus, pode somente, ao fim das contas, organizá-lo contra o homem. O humanismo exclusivo é um humanismo desumano. De resto, a fé em Deus, aquela fé que o cristianismo nos inculca em uma transcendência sempre presente e sempre exigente, não tem como objetivo arrumar-nos comodamente na nossa existência terrena para nos fazer adormecer nela – por quanto febril possa ser o nosso sono. Mas, ao contrário, a fé nos torna inquietos e incessantemente rompe o equilíbrio demasiadamente belo das nossas concepções mentais e das nossas construções sociais.

Irrompendo num mundo que tende a fechar-se, Deus lhe traz, sem dúvida, uma harmonia superior, mas que pode ser alcançada somente ao preço de uma série de rupturas e de lutas, série tão longa quanto o próprio tempo. “Não vim trazer a paz, mas a espada” – Cristo é antes de tudo o grande perturbador.

A terra, que sem Deus, poderia deixar de ser um caos somente para se tornar uma prisão, é, na realidade, o campo magnífico e doloroso no qual se prepara a nossa existência eterna. Assim, a fé em Deus, que nada jamais poderá arrancar do coração do homem, é a única chama na qual se conserva, humana e divina, a nossa esperança (Henri de Lubac, na Introdução ao “O drama do humanismo ateu”).

Dom Henrique

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