Adutora do Orós para o Açude Feiticeiro apresenta erros estruturais que causa desperdício de água ao longo do percurso de 35km
HONÓRIO BARBOSA
HONÓRIO BARBOSA
Riacho Feiticeiro: água escorre em leito natural de terra e pedra até chegar ao Açude Joaquim Távora (Feiticeiro)
O mirante foi construído em três pavimentos e deveria permitir visão privilegiada, mas não funciona
Reunião extraordinária do Comitê da Sub-Bacia do Alto Jaguaribe deve apontar soluções para o problema
Orós. O Sistema de Transposição das Águas do Açude Orós para o Riacho Feiticeiro foi inaugurado há uma semana, mas já é motivo de preocupação para os agropecuaristas e piscicultores da bacia do reservatório. O temor é a redução do nível da água acumulada, que pode afetar unidades produtoras. Integrantes da Sub-Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe apontam erros estruturais do projeto e reclamam contra o desperdício de água em um percurso de 35km por leito natural ao longo do Riacho Feiticeiro.
"Não somos contra a adutora, que deve priorizar o abastecimento humano, mas o desperdício de água, que escorre no leito natural de um riacho, perenizando um vale ainda sem projetos de irrigação", observou o integrante do Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe, Paulo Landim. "O Açude Feiticeiro está com mais de 70% de sua capacidade e há vários anos que não há crise de desabastecimento naquele distrito". Landim lembrou que o reservatório sangrou em 2008 e em 2009.
O presidente do comitê, Alcides Duarte, disse que deverá haver uma reunião extraordinária para debater a liberação de água para o sistema adutor Orós - Feiticeiro. "Precisamos saber se a liberação será reduzida após a cheia de açudes no percurso ou se a vazão inicial será mantida", explicou. "Não há motivo para perenizar o riacho agora se não há projetos de irrigação", defende ele.
A secretária de Agricultura de Quixelô, Marta Rocha, percorreu ao lado de Landim e de Duarte, o trecho adutor e também disse estar preocupada com a liberação de água. "Em várias comunidades na bacia do Açude Orós há projetos de piscicultura e plantio de grãos e o nosso temor é a drástica redução do nível do açude, prejudicando os criatórios e a lavoura", disse. "Esperamos que a Cogerh faça o monitoramento dessa liberação de água e use o bom senso", aponta.
De acordo com Landim, há 500 famílias que exploram a atividade de piscicultura a partir da criação de tilápias em tanques-redes nos Municípios de Orós e Quixelô. Nesses projetos, foram investidos mais de R$ 500 milhões do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), nos últimos sete anos.
A liberação de água do Açude Orós foi debatida em reunião com a participação de técnicos da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) e integrantes do comitê de cinco sub-bacias hidrográficas em junho passado, na cidade de Iguatu. No encontro, ficou definido que a vazão do Açude Orós poderia ir até 7,5 metros cúbicos por segundo, incluindo as liberações para o Açude Feiticeiro, Açude Lima Campos e por meio da válvula dispersora para o Rio Jaguaribe.
Vazão regular
O diretor de Águas Superficiais da Sohidra, Antônio Madeiro de Lucena, foi enfático ao rebater a preocupação dos produtores rurais da bacia do Açude Orós. "Não faz sentido essa preocupação, não há motivo para temor algum", disse. "Poderíamos liberar até 1,4 metro cúbico por segundo para o Feiticeiro e estamos operando apenas com 0,8 metro cúbico por segundo, que é insignificante para o Orós".
Lucena ressaltou a importância da obra que, finalmente, foi concluída e recebida em definitivo pelo Governo do Estado, após conserto de algumas pendências. "A obra foi inaugurada e está tudo funcionando regularmente. Levar água para uma região pobre, escassa é um verdadeiro milagre e vamos perenizar e beneficiar todo o vale do Feiticeiro". Lucena explicou, entretanto, que poderá haver redução da quantidade de água liberada, se comprovada a não necessidade. "Poderemos operar até com 0,4 metro cúbico por segundo para manter a conservação do canal", completa.
O sistema adutor Orós - Feiticeiro foi construído pelo Governo do Estado por meio da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), em parceria com o Governo Federal através do Ministério da Integração Nacional. A obra foi marcada por atraso de mais de quatro anos para a conclusão dos serviços e correção de falhas do projeto. Em alguns pontos o canal não suporta a vazão acima de um metro cúbico por segundo e transborda.
A adutora vai permitir a transferência de águas do Açude Orós para os açudes Croatá, Pedras Brancas, Córrego das Pedras e Feiticeiro. De acordo com o Governo do Estado, a obra beneficiará uma população estimada em 20 mil pessoas na região Centro-Sul. De acordo com os funcionários da subestação da Cogerh, em Orós, o bombeamento de água para a adutora começou em 12 de setembro passado com uma vazão média de 850 litros por segundo. Há ainda a liberação de 4.280 litros por segundo do reservatório para a perenização do Rio Jaguaribe até o Açude Castanhão, por meio da válvula dispersora.
A adutora tem 18km de extensão. São 3.600 metros de adutora em rede dupla de tubos de 700mm e 11 canais de alvenaria numa extensão de cerca de 10km. No trecho final, a partir da localidade de Canto do Juazeiro, a água escorre por gravidade e em leito natural (terra) do Riacho Feiticeiro, por mais de 35km, até chegar ao Açude Feiticeiro.
INFRAESTRUTURA
Válvula dispersora inviabiliza lazer
A localização muito próxima da válvula dispersora do Açude Orós inviabiliza praticamente o uso do mirante e da passarela, que foram construídos pelo Governo do Estado. A obra de urbanização teria o objetivo de amenizar o impacto visual da instalação de uma rede dupla de canos de 700 milímetros e a construção de uma unidade de bombeamento do Sistema de Transposição do Açude Orós para o Riacho Feiticeiro.
"Houve um erro de localização", admite o diretor de Águas Superficiais da Sohidra, Antônio Madeiro de Lucena. "A obra deveria ter ficado um pouco mais distante da válvula, mas dá para conviver". Além do mirante, foi construída uma praça e uma casa de apoio da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), encarregada do monitoramento da vazão de água do açude Orós.
A ideia inicial era criar um novo atrativo turístico para o Açude Orós no entorno da válvula dispersora. O governador Cid Gomes, por ocasião de uma reunião do Governo Itinerante, na cidade de Orós, no início da primeira gestão, visitou a obra e determinou a construção de um mirante e de uma praça para amenizar o impacto visual causado pelos canos do sistema adutor e da instalação da casa de bombas.
O mirante foi construído em três pavimentos e permite uma visão privilegiada do sangradouro e da válvula dispersora. O acesso está proibido para os dois primeiros pisos e para a passarela. Os visitantes devem permanecer apenas na parte superior, cujo acesso é feito por uma estrada de terra que margeia a válvula. Não é permitido também o passeio na praça. Na área, que é cercada, e vigiada por guardas armados, há um portão com uma placa indicativa "proibido o acesso".
O secretário de Turismo de Orós, Arileudo Barbosa, disse que a obra não ficou dentro da expectativa dos moradores. "Entre o que foi feito e nada, é claro que preferimos o que foi construído. Infelizmente, não está satisfatório e há restrição de uso". Barbosa defende que a obra passe por reforma e depois seja transferida para o Município que deve manter para a devida exploração turística.
"É mais um atrativo que pode gerar renda para o Município a partir da divulgação na região", observou. Além de admirar o véu de água, os visitantes querem tomar banho e refrescar o calor. Inicialmente, a obra de urbanização do entorno da válvula dispersora foi danificada há três anos ante a força da água. O material utilizado (corda e madeira) não suportou o impacto e logo apodreceu com a umidade. Depois, a passarela foi refeita com concreto e cabo de aço. Entretanto, a força da água impede a presença de banhistas na passarela. Há risco de acidente.
MAIS INFORMAÇÕES
Superintendência de Obras Hidráulicas - Sohidra
(85) 3101. 4706 - Fortaleza (CE)
Cogerh: (85) 3218.7020
Honório Barbosa
Repórter
Orós. O Sistema de Transposição das Águas do Açude Orós para o Riacho Feiticeiro foi inaugurado há uma semana, mas já é motivo de preocupação para os agropecuaristas e piscicultores da bacia do reservatório. O temor é a redução do nível da água acumulada, que pode afetar unidades produtoras. Integrantes da Sub-Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe apontam erros estruturais do projeto e reclamam contra o desperdício de água em um percurso de 35km por leito natural ao longo do Riacho Feiticeiro.
"Não somos contra a adutora, que deve priorizar o abastecimento humano, mas o desperdício de água, que escorre no leito natural de um riacho, perenizando um vale ainda sem projetos de irrigação", observou o integrante do Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe, Paulo Landim. "O Açude Feiticeiro está com mais de 70% de sua capacidade e há vários anos que não há crise de desabastecimento naquele distrito". Landim lembrou que o reservatório sangrou em 2008 e em 2009.
O presidente do comitê, Alcides Duarte, disse que deverá haver uma reunião extraordinária para debater a liberação de água para o sistema adutor Orós - Feiticeiro. "Precisamos saber se a liberação será reduzida após a cheia de açudes no percurso ou se a vazão inicial será mantida", explicou. "Não há motivo para perenizar o riacho agora se não há projetos de irrigação", defende ele.
A secretária de Agricultura de Quixelô, Marta Rocha, percorreu ao lado de Landim e de Duarte, o trecho adutor e também disse estar preocupada com a liberação de água. "Em várias comunidades na bacia do Açude Orós há projetos de piscicultura e plantio de grãos e o nosso temor é a drástica redução do nível do açude, prejudicando os criatórios e a lavoura", disse. "Esperamos que a Cogerh faça o monitoramento dessa liberação de água e use o bom senso", aponta.
De acordo com Landim, há 500 famílias que exploram a atividade de piscicultura a partir da criação de tilápias em tanques-redes nos Municípios de Orós e Quixelô. Nesses projetos, foram investidos mais de R$ 500 milhões do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), nos últimos sete anos.
A liberação de água do Açude Orós foi debatida em reunião com a participação de técnicos da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) e integrantes do comitê de cinco sub-bacias hidrográficas em junho passado, na cidade de Iguatu. No encontro, ficou definido que a vazão do Açude Orós poderia ir até 7,5 metros cúbicos por segundo, incluindo as liberações para o Açude Feiticeiro, Açude Lima Campos e por meio da válvula dispersora para o Rio Jaguaribe.
Vazão regular
O diretor de Águas Superficiais da Sohidra, Antônio Madeiro de Lucena, foi enfático ao rebater a preocupação dos produtores rurais da bacia do Açude Orós. "Não faz sentido essa preocupação, não há motivo para temor algum", disse. "Poderíamos liberar até 1,4 metro cúbico por segundo para o Feiticeiro e estamos operando apenas com 0,8 metro cúbico por segundo, que é insignificante para o Orós".
Lucena ressaltou a importância da obra que, finalmente, foi concluída e recebida em definitivo pelo Governo do Estado, após conserto de algumas pendências. "A obra foi inaugurada e está tudo funcionando regularmente. Levar água para uma região pobre, escassa é um verdadeiro milagre e vamos perenizar e beneficiar todo o vale do Feiticeiro". Lucena explicou, entretanto, que poderá haver redução da quantidade de água liberada, se comprovada a não necessidade. "Poderemos operar até com 0,4 metro cúbico por segundo para manter a conservação do canal", completa.
O sistema adutor Orós - Feiticeiro foi construído pelo Governo do Estado por meio da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), em parceria com o Governo Federal através do Ministério da Integração Nacional. A obra foi marcada por atraso de mais de quatro anos para a conclusão dos serviços e correção de falhas do projeto. Em alguns pontos o canal não suporta a vazão acima de um metro cúbico por segundo e transborda.
A adutora vai permitir a transferência de águas do Açude Orós para os açudes Croatá, Pedras Brancas, Córrego das Pedras e Feiticeiro. De acordo com o Governo do Estado, a obra beneficiará uma população estimada em 20 mil pessoas na região Centro-Sul. De acordo com os funcionários da subestação da Cogerh, em Orós, o bombeamento de água para a adutora começou em 12 de setembro passado com uma vazão média de 850 litros por segundo. Há ainda a liberação de 4.280 litros por segundo do reservatório para a perenização do Rio Jaguaribe até o Açude Castanhão, por meio da válvula dispersora.
A adutora tem 18km de extensão. São 3.600 metros de adutora em rede dupla de tubos de 700mm e 11 canais de alvenaria numa extensão de cerca de 10km. No trecho final, a partir da localidade de Canto do Juazeiro, a água escorre por gravidade e em leito natural (terra) do Riacho Feiticeiro, por mais de 35km, até chegar ao Açude Feiticeiro.
INFRAESTRUTURA
Válvula dispersora inviabiliza lazer
A localização muito próxima da válvula dispersora do Açude Orós inviabiliza praticamente o uso do mirante e da passarela, que foram construídos pelo Governo do Estado. A obra de urbanização teria o objetivo de amenizar o impacto visual da instalação de uma rede dupla de canos de 700 milímetros e a construção de uma unidade de bombeamento do Sistema de Transposição do Açude Orós para o Riacho Feiticeiro.
"Houve um erro de localização", admite o diretor de Águas Superficiais da Sohidra, Antônio Madeiro de Lucena. "A obra deveria ter ficado um pouco mais distante da válvula, mas dá para conviver". Além do mirante, foi construída uma praça e uma casa de apoio da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), encarregada do monitoramento da vazão de água do açude Orós.
A ideia inicial era criar um novo atrativo turístico para o Açude Orós no entorno da válvula dispersora. O governador Cid Gomes, por ocasião de uma reunião do Governo Itinerante, na cidade de Orós, no início da primeira gestão, visitou a obra e determinou a construção de um mirante e de uma praça para amenizar o impacto visual causado pelos canos do sistema adutor e da instalação da casa de bombas.
O mirante foi construído em três pavimentos e permite uma visão privilegiada do sangradouro e da válvula dispersora. O acesso está proibido para os dois primeiros pisos e para a passarela. Os visitantes devem permanecer apenas na parte superior, cujo acesso é feito por uma estrada de terra que margeia a válvula. Não é permitido também o passeio na praça. Na área, que é cercada, e vigiada por guardas armados, há um portão com uma placa indicativa "proibido o acesso".
O secretário de Turismo de Orós, Arileudo Barbosa, disse que a obra não ficou dentro da expectativa dos moradores. "Entre o que foi feito e nada, é claro que preferimos o que foi construído. Infelizmente, não está satisfatório e há restrição de uso". Barbosa defende que a obra passe por reforma e depois seja transferida para o Município que deve manter para a devida exploração turística.
"É mais um atrativo que pode gerar renda para o Município a partir da divulgação na região", observou. Além de admirar o véu de água, os visitantes querem tomar banho e refrescar o calor. Inicialmente, a obra de urbanização do entorno da válvula dispersora foi danificada há três anos ante a força da água. O material utilizado (corda e madeira) não suportou o impacto e logo apodreceu com a umidade. Depois, a passarela foi refeita com concreto e cabo de aço. Entretanto, a força da água impede a presença de banhistas na passarela. Há risco de acidente.
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Honório Barbosa
Repórter
Diário do Nordeste
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