sábado, 7 de janeiro de 2012

UMA ENTREVISTA COM WANDA ENGEL SOBRE O PROGRAMA JOVEM DE FUTURO




ENSINO MÉDIO




Foto:
WANDA ENGEL 



Wanda Engel: "Quando a escola pública ganha um pouco mais de autonomia e dinheiro, pode avançar"
Para a superintendente-executiva do Instituto Unibanco, é possível melhorar o desempenho dos alunos sem fazer grandes mudanças estruturais
Texto Ana Nascimento, de Porto Alegre

Para entender melhor o Jovem de Futuro, que encerrou a primeira fase no fim de 2010 e pode virar modelo em pelo menos seis Estados do país, confira a entrevista com Wanda Engel, superintendente-executiva do Instituto Unibanco:

Como surgiu a ideia do Jovem de Futuro e qual seu principal objetivo?

Wanda Engel: O primeiro foco do Instituto Unibanco foi investir na qualificação profissional. Aí descobrimos que o jovem não consegue emprego porque não tem escolaridade suficiente. A solução era investir no aumento do nível de escolaridade. No Brasil, a média de escolaridade é de 7,2 anos e, entre os jovens, de 9,2 anos, ou seja, pouco maior. Restringe-se praticamente ao Ensino Fundamental.

A partir daí, optou-se por investir no Ensino Médio?

Wanda Engel: Sim. Constatou-se que era urgente fazer alguma coisa em relação ao Ensino Médio, até como pré-condição para que as novas gerações tenham mais condições de entrar no mercado de trabalho.

E como fazer esse investimento?

Wanda Engel: Nós não somos o Estado, não somos o governo, não podemos aumentar salários dos professores, mudar o currículo, mas nos perguntamos como poderíamos melhorar o desempenho sem fazer grandes mudanças estruturais. Existe no país uma mentalidade meio pessimista que diz que enquanto, entre outras coisas, não se aumentar salários, não se promover uma política de valorização dos professores, nada pode ser feito. O Instituto Unibanco enfrentou o desafio de promover a mudança a partir da escola.

Como funciona, na prática, essa mudança a partir da escola?

Wanda Engel: Estudos mostraram que a questão da gestão era fundamental, além de mobilizar todos os atores e dar autonomia à escola. Primeiro, as escolas são demandadas a dizer se querem ou não fazer essa virada. É um projeto para promovê-la em três anos. O projeto oferece condições financeiras e técnicas para essa virada, a escola aprende a realizar melhorias.

Em que rede pública está focado o projeto?

Wanda Engel: O foco é nas redes estaduais, que representam 85% das escolas públicas do país.

Como foi o projeto-piloto, que terminou em 2010?

Wanda Engel: O projeto-piloto foi implantado na área metropolitana de Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG). A ideia era montar um grupo substancioso, que permitisse uma amostra de como fazer o mesmo em um número bem maior. Inicialmente, 22 escolas participaram do projeto em Porto Alegre e 20 em Belo Horizonte.

Como foi o processo de validação do Jovem de Futuro?

Wanda Engel: A validação tinha que ser feita por alguém de fora do Instituto. Buscamos Ricardo Paes de Barros (pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica aplicada, o Ipea), um dos melhores do país, senão do mundo. Buscá-lo era ter a certeza de que o resultado apontado por ele era inquestionável. Ninguém colocaria em dúvida uma avaliação feita pelo Ricardo.

Qual o próximo passo, após a conclusão do projeto-piloto?

Wanda Engel: A ideia é passar o know-how para as secretarias estaduais para que elas possam implantar o projeto com o apoio técnico e financeiro no Unibanco.
Quais as vantagens obtidas com o resultado positivo da primeira etapa do projeto?

Wanda Engel: Duas grandes vantagens foram obtidas com esse resultado. Primeiro, comprovar a premissa de que mesmo antes das grandes mudanças estruturais é possível fazer alguma coisa. Quando a escola pública ganha um pouco mais de autonomia e dinheiro, pode avançar. Segundo, serviu para nos dar argumentos para que o projeto possa agora ser expandido, levado para a política pública.

Como será o processo de transferência do projeto para os Estados?

Wanda Engel: Agora, o projeto está sendo diretamente aplicado em 98 escolas - algumas do grupo de controle da primeira etapa, em Porto Alegre e Belo Horizonte, e outras do Rio de Janeiro e São Paulo. No próximo ano, seis Estados já decidiram implantar o projeto - ao menos Goiás e Ceará pretendem universalizá-lo (aplicá-lo em toda a rede), os outros são Pará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Por meio do Jovem de Futuro, os Estados têm a possibilidade de aumentar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) focando o projeto, por exemplo, nas regiões com pior índice, que puxam o Ideb do Estado para baixo.

O investimento financeiro continua sendo do Instituto Unibanco?

Wanda Engel: O Ministério da Educação já se comprometeu a entrar no projeto e contribuir financeiramente, outra parte do dinheiro virá dos próprios Estados que decidirem aplicar o modelo. O Unibanco continuará financiando a aplicação em dez escolas por Estado, além de investir em toda a infraestrutura necessária para a capacitação dos profissionais e a avaliação.

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