sexta-feira, 23 de novembro de 2012

TRANSCENDÊNCIA E IMANÊNCIA DE DEUS - TEOLOGIA - FILOSOFIA


TRANSCENDÊNCIA E IMANÊNCIA DE DEUS NA CONTEMPORANEIDADE NUMA PERSPECTIVA RELIGIOSA.
SOUZA, Antônio José de [1]

RESUMO:

Este artigo propõe-se, de forma tímida, refletir sobre a Transcendência e Imanência de Deus numa perspectiva atual. Afinal, o que é religião?
Se nos reportarmos ao passado, descobriremos como a religião com suas expressões estavam ligadas aos costumes, ao estilo de vida e a rotina, marcando o despertar, as refeições e o repousar do povo. Deus era o centro. Era Aquele que gerenciava a existência de todos,  o Senhor Supremo e infinito que no alto do céu anotava no livro da vida os acontecimentos dos seus súditos. Nesta atmosfera de fé e piedade, os descrentes, sem amor a Deus e sem religião, eram raros.
O tempo passou e trouxe consigo os novos ares da modernidade, da secularização onde reconhecer-se religioso equivale a confessar-se habitante do mundo encantado e mágico do passado.
PALAVRAS-CHAVE: Transcendência, imanência, religião, modernidade, contemporaneidade, ceticismo.

INTRODUÇÃO:

Este artigo propõe-se, de forma tímida, refletir sobre a Transcendência e Imanência de Deus numa perspectiva atual. A questão é que não se pode dissociar tal temática as manifestações inerentes à religiosidade que é a base do que costumamos chamar de religião. Afinal, o que é religião?
Se nos reportarmos ao passado, descobriremos como a religião com suas expressões estavam ligadas aos costumes, ao estilo de vida e a rotina, marcando o despertar, as refeições e o repousar do povo. Deus era o centro. Era Aquele que gerenciava a existência de todos, o Senhor Supremo e infinito que no alto do céu anotava no livro da vida os acontecimentos dos seus súditos. Era o Provedor e Condenador. Nesta atmosfera de fé e piedade, os descrentes, sem amor a Deus e sem religião, eram raros.

O tempo passou e trouxe consigo os novos ares da modernidade, da secularização onde reconhecer-se religioso equivale a confessar-se habitante do mundo encantado e mágico do passado. Onde está  Deus? Onde fica Deus em tudo isso? Continua Deus a sobrevoar o mundo com Sua túnica alva de barba comprida com feição de descaso e desdém para com o mundo que criou? Ou, manifesta-se em tudo e em todos, preso a natureza, a simplicidade das coisas e ao homem?

Ora, mas os recursos que emanam da modernidade se extirpam. E o que acontecerá quando a tecnologia não mais aliviar a dor e nem resolver problemas? Prostraremos-nos com a cara ao chão na busca por Deus... Mas, onde estará Deus? Talvez pensando nisso, Rubem Alves tenha escrito:
"E é quando a dor bate à porta e se esgotam os recurso da técnica que nas pessoas acordam os videntes, os exorcistas, os mágicos, os curadores, os benzedores, os sacerdotes, os profetas e poetas, aquele que reza e suplica, sem saber direito a quem... E surgem então as perguntas sobre o sentido da vida e o sentido da morte, perguntas das horas de insônia e diante do espelho..." (Rubem Alves. O que é religião? – 2008 p 12)

Se for a religião uma convivência com Deus, esteja Ele longe ou perto, ausente ou presente, silencioso ou participante, transcendente ou imanente, então, mesmo no apogeu da modernidade estamos mais próximos duma experiência pessoal com o Divino do que desejamos admitir.

A FILOSOFIA

No transcorrer da história duas visões filosóficas vêm travando uma celeuma entre a relação de Deus com o Cosmo. Uma das visões é o deísmo, que aparta Deus do Universo. A outra é o panteísmo, que mescla Deus com o Universo. A primeira reconhece que Deus é o criador de tudo e todos, mas por está farto deste laçou-o no vazio do espaço para se auto-reger-se elaborando suas próprias diretrizes. Constitui-se então, o que nos habituamos a chamar de transcendência. Já o último apregoa um Deus que se confunde com o Universo, que se manifesta nas criaturas, ou seja, postula uma crença num Deus imanente ao mundo. Na obra que leva o nome Monismo Teista, J. Evans escreve:
"Ao invés de existirem dois seres – Deus e o universo – há apenas um sistema de energia que é, ao mesmo tempo, Deus e o universo." (Ob. Cit., p 329.)

COMO ESTÁ DEUS PRESENTE NO UNIVERSO QUE ELE MESMO CRIOU?

No livro do Gênese encontramos um Deus em uma explosão criadora. Supostamente cansado de viver sozinho, espalha por suas obras fagulhas de sua divindade, pois viu que tudo o que fizera era muito bom (Gn 1, 31). Neste caso, poderíamos afirmar que as criaturas têm na sua essência um caráter transcendental, visto que, sua origem é transcendente por excelência, pois nada e nem ninguém é mais transcendental que Deus (Seu criador).

"Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança..."(Gn 1, 26). Se temos a condição de criaturas advindas de Deus, poderíamos dizer que estamos Nele assim, como Ele está em nós? Obviamente que sim, uma vez que a expiração para a nossa criação vem de Deus, somente dele. A questão é que nem todas as criaturas (homens e mulheres) reconhecem Deus por seu nascedouro. Os seus atos demonstram uma desarmonia com os propósitos Divinos. Alguns estão confusos com os apelos da modernidade que exige imediatismo, cientificismo e desembocam no ceticismo se distanciando de uma espiritualidade ideal. É chagada a hora de observarmos o que Leonardo Boff referenda:
"É a espiritualidade que une, que liga e re-liga e integra. Ela e não a religião ajuda a compor as alternativas de um novo paradigma civilizatório." (Leonardo Boff. Saber cuidar: Ética do humano – compaixão pela terra. 1999 p 21).

Mas, afinal qual a relação instaurada entre a obra e o seu Mentor? Que relação há entre o compositor e sua canção, os progenitores com sua criança, o poeta com sua escrita, o oleiro com sua cerâmica? Seria uma afinidade, uma consanguinidade, uma irmandade, um amor que cuida? Ou seria uma repulsa, um divórcio? Bem, todos os artistas deixam um pouco de si em todo que faz e se isso for verdade, nutrirá por elas uma carinhosa responsabilidade. Então, terá o Artista Divino se tornado presente em Sua obra de maneira tão imanente? Deixemos com Leonardo Boff a resposta:
"Deus, porém, jamais abandonou esse ser humano encurvado sobre si mesmo. Socorreu-o sempre, abrindo espaços para uma humanização que devolve, embora de forma frágil, a estatura originária do ser humano. (...) Chamam de graça: é a presença graciosa humanizante e divinizante de Deus." (Leonardo Boff. Ética e eco-espiritualidade. 2003 p 86).

CONLUSÃO: A CONTEMPORANEIDADE - UM MUNDO DESSACRALIZADO

Dispensam-se as documentações, afinal é só paramos um instante e perceberemos o caos em que vivemos e escutaremos as queixas nervosas. O homem lançou-se na lua como comprovação de sua superioridade e para revelar que o céu não é o seu limite. Rejeitou sua religiosidade. Calou, apagou, matou Deus. Em que ainda iremos encontrar apoio nos dias de hoje? Na razão como muitos disseram e ainda dizem? Hans Küng no seu livro titulado Por que ainda ser cristão hoje? Comenta:
"(...) Não pode simplesmente ser fundamentada de forma racional, unicamente com a razão, como o desejava Sigmund Freud." (Hans Küng. Por que ainda ser cristão hoje? - 2004. p 13)

A consequência da racionalidade cega é a grave crise de orientação. Pois, já não existe o sagrado, a sociedade moderna experimenta conflitos que ela mesma não consegue superar, avaliar e nem mesurar. É o que Rubem Alves denuncia:
"É altamente duvidoso que qualquer industrial, convencido de que a natureza é criação de Deus, e portanto sagrada, tenha perdido o sono por causa dos males da poluição." (Rubem Alves. O que é religião? - 2008. p 10)

Deus é transcendental a nós. Sua benevolência, Sua realeza é real. Somos frutos que brotam alimentados pela seiva que vem de Deus. Deus está acima de nós e nós dentro Dele. Pensar em um Deus alheio ao mundo é um risco demasiado, de modo que, podemos dizer que Deus também é imanente. Assim sendo, concluímos convencidos de que cabe o bom senso, pois ambas as posições filosóficas apresentam um aspecto da verdade.

REFERÊNCIAS

·ALVES, Rubem. O que é religião? – 9ª ed. São Paulo: Loyola. 2008.
·BOFF, Leonardo. Ética e eco-espiritualidade. Campinas, SP: Verus Editora. 2003.
·BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes. 1999
·KÜNG, Hans. Por que ainda ser cristão hoje? / Tradução Carlos Almeida Pereira. Campinas, SP: Verus Editora. 2004.
·SHEEN, Fulton J. Filosofia da Religião. Rio de Janeiro: Agir. 1960.
Autor: ANTÔNIO SOUZA

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