Uma pesquisa
coordenada pela Igreja Católica com documentos produzidos pelos próprios
militares identificou mais de cem torturas usadas nos "anos de
chumbo" (1964-1985). Esse baú de crueldades, que incluía choques
elétricos, afogamentos e muita pancadaria, foi aberto de vez em 1968, o início
do período mais duro do regime militar. A partir dessa época, a tortura passou
a ser amplamente empregada, especialmente para obter informações de pessoas
envolvidas com a luta armada. Contando com a "assessoria técnica" de
militares americanos que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares
começavam a agredir no momento da prisão, invadindo casas ou locais de
trabalho. A coisa piorava nas delegacias de polícia e em quartéis, onde muitas
vezes havia salas de interrogatório revestidas com material isolante para
evitar que os gritos dos presos fossem ouvidos. "Os relatos indicam que os
suplícios eram duradouros. Prolongavam-se por horas, eram praticados por
diversas pessoas e se repetiam por dias", afirma a juíza Kenarik Boujikain
Felippe, da Associação Juízes para a Democracia, em São Paulo. O pau comeu
solto até 1974, quando o presidente Ernesto Geisel tomou medidas para diminuir
a tortura, afastando vários militares da "linha dura" do Exército.
Durante o governo militar, mais de 280 pessoas foram mortas - muitas sob
tortura. Mais de cem desapareceram, segundo números reconhecidos oficialmente.
Mas ninguém acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar
chegou a ser punido. Em 1979, o Congresso aprovou a Lei da Anistia, que
determinou que todos os envolvidos em crimes políticos - incluindo os
torturadores - fossem perdoados pela Justiça.
Arquitetura da dor
Torturadores
abusavam de choques, porradas e drogas para conseguir informações
Cadeira
do dragão
Nessa espécie de
cadeira elétrica, os presos sentavam pelados numa cadeira revestida de zinco
ligada a terminais elétricos. Quando o aparelho era ligado na eletricidade, o
zinco transmitia choques a todo o corpo. Muitas vezes, os torturadores enfiavam
na cabeça da vítima um balde de metal, onde também eram aplicados choques
Pau-de-arara
É uma das mais
antigas formas de tortura usadas no Brasil - já existia nos tempos da
escravidão. Com uma barra de ferro atravessada entre os punhos e os joelhos, o
preso ficava pelado, amarrado e pendurado a cerca de 20 centímetros do chão.
Nessa posição que causa dores atrozes no corpo, o preso sofria com choques,
pancadas e queimaduras com cigarros
Choques
elétricos
As máquinas usadas
nessa tortura eram chamadas de "pimentinha" ou "maricota".
Elas geravam choques que aumentavam quando a manivela era girada rapidamente
pelo torturador. A descarga elétrica causava queimaduras e convulsões - muitas
vezes, seu efeito fazia o preso morder violentamente a própria língua
Espancamentos
Vários tipos de
agressões físicas eram combinados às outras formas de tortura. Um dos mais
cruéis era o popular "telefone". Com as duas mãos em forma de concha,
o torturador dava tapas ao mesmo tempo contra os dois ouvidos do preso. A
técnica era tão brutal que podia romper os tímpanos do acusado e provocar
surdez permanente
Soro
da verdade
O tal soro é o
pentotal sódico, uma droga injetável que provoca na vítima um estado de
sonolência e reduz as barreiras inibitórias. Sob seu efeito, a pessoa poderia
falar coisas que normalmente não contaria - daí o nome "soro da
verdade" e seu uso na busca de informações dos presos. Mas seu efeito é
pouco confiável e a droga pode até matar
Afogamentos
Os torturadores
fechavam as narinas do preso e colocavam uma mangueira ou um tubo de borracha
dentro da boca do acusado para obrigá-lo a engolir água. Outro método era
mergulhar a cabeça do torturado num balde, tanque ou tambor cheio de água,
forçando sua nuca para baixo até o limite do afogamento
Geladeira
Os presos ficavam
pelados numa cela baixa e pequena, que os impedia de ficar de pé. Depois, os
torturadores alternavam um sistema de refrigeração superfrio e um sistema de
aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam
sons irritantes. Os presos ficavam na "geladeira" por vários dias,
sem água ou comida
sistema de refrigeração superfrio e um sistema de aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. Os presos ficavam na "geladeira" por vários dias, sem água ou comida
sistema de refrigeração superfrio e um sistema de aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. Os presos ficavam na "geladeira" por vários dias, sem água ou comida
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