terça-feira, 13 de novembro de 2012

Os Governante nunca é responsável por nada


As condenações de figurões do chamado núcleo político do mensalão levantaram uma onda de indignação nos "companheiros" do PT. A começar pelos condenados, como o ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu.
E também o ex-presidente do PT José Genoíno e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. É um tal de "acato a decisão, mas não concordo", para não significar uma afronta ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Chiadeira pura. A razão é de uma espantosa obviedade: a decisão do STF dá um soco na boca do estômago da impunidade --- aquela gostosa sensação usufruída pela turma que orbita o poder, em todas as esferas, mais seus apaniguados.
O sarcástico Lula, que presidia o país na época do escândalo, respondeu apenas que não viu o julgamento do ex-todo-poderoso ministro José Dirceu. Aliás, um presidente da República que assegura não ter sabido de nada do que acontecia no Palácio do Planalto, segundo ministros do STF, realmente não deve ter visto também o julgamento de seu "companheiro".
A imprensa internacional trata as condenações como fato "histórico" no Brasil, país acostumado com a impunidade dos integrantes de sua elite. E, realmente, é um fato histórico, sem dúvida. Talvez os petistas mais empedernidos vejam também nas reportagens dos jornais e revistas estrangeiros um complô contra o PT.
Nesta terça-feira, o ministro da Justiça, o também petista José Eduardo Cardozo, afirmou que prefere morrer a passar algum tempo preso nos presídios brasileiros.
"Infelizmente, os presídios no Brasil ainda são medievais. E as condições dentro dos presídios brasileiros ainda precisam ser muito melhoradas. Entre passar anos num presídio do Brasil e perder a vida, talvez eu preferisse perder a vida, porque não há nada mais degradante para um ser humano do que ser violado em seus direitos humanos", declarou o ministro da Justiça.
Sobre as condenações de seus "companheiros", José Eduardo Cardozo respondeu que como ministro não daria opinião a respeito do resultado do julgamento do STF.
O que impressiona --- este é apenas um exemplo --- é como as autoridades falam de problemas do país como se nada tivessem a ver com eles. Tudo é resultado de outros governos, nunca dos atuais governantes.
Há uma série infindável de comportamentos semelhantes, em todos os partidos, é bom lembrar. No caso do ministro da Justiça, o partido dele comanda a Presidência da República há quase dez anos. Ele pode, então, apontar algum problema eximindo seus "companheiros" de uma parcela significativa de responsabilidade?
É muito comum, petistas e simpatizantes dos "companheiros" ficarem irritados com situações como a atual, de condenações de figurões do PT pelo STF e da cobertura que a imprensa faz do julgamento.
Gostam de lembrar casos de corrupção nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) como presidente da nação. Ok. Uma corrupção há mais de dez anos deve neutralizar a que foi descoberta durante o governo de Lula?
Muito recorrente petistas lembrarem de um caso semelhante ao do mensalão, que envolve um ex-governador tucano de Minas Gerais, o hoje senador José Eduardo Azeredo, um dos fundadores do PSDB.
Por esse raciocínio, qualquer ladrão comum poderia reivindicar sua liberdade quando fosse preso. Alegaria, então, que se a maioria dos outros ladrões está livre, por que ele iria pagar pelo crime que cometeu?
A quem usa esse tipo de argumento, aconselharia a apoiar a decisão atual do Supremo e pressionar para que a corte continue agindo assim, condenando mais e mais figurões da política envolvidos em crimes. Sejam petistas, tucanos ou de que partidos forem.
Quando um bacana sentir que poderá ir para a cadeira por roubar recursos públicos, provavelmente ele pense duas vezes antes de surrupiar o dinheiro dos contribuintes.
E também não há essa história de "criminalizar a política". Esse ofício não pode servir de proteção para que alguns não sejam iguais perante a lei.
http://www.sidneyrezende.com

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