domingo, 25 de março de 2012

A PAIXÃO DE CRISTO E A REDENÇÃO


 
A Paixão de Cristo exprime uma realidade profunda acerca do amor de Deus pela humanidade. Ao entregar livremente sua vida na Cruz (cf. Jo 10,18), Jesus revela pelo seu testemunho quem é Deus: amor, misericórdia, perdão. 
Como um cordeiro, manso e humilde, Jesus se deixa imolar para com o seu Sangue nos purificar de todo o pecado. Ele se faz sacerdote e Cordeiro, o que oferece o sacrifício e o que é oferecido em sacrifício. Nas suas costas, Jesus carrega o peso dos pecados da humanidade, carrega nossas ingratidões, nossas desobediências, nossas infidelidades, nossos crimes, nossas injustiças. Assim escreveu o profeta Isaías no seu quarto cântico do Servo Sofredor: 
Todavia, eram as nossas doenças que ele carregava, eram as nossas dores que ele levava em suas costas. Mas ele estava sendo transpassado por causa de nossas revoltas, esmagado por nossos crimes. Caiu sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e por suas feridas é que veio a cura para nós (53,4-5). 
Jesus é o Bom Samaritano. Carrega-nos não nos seus ombros, mas no seu coração. Seu coração arde de amor por todos e por cada um de nós. Do seu lado aberto pela lança, foram derramados a Água e o Sangue do amor, que gera vida na nossa vida. Do santuário do seu coração, derramados são rios de misericórdia e de amor. O coração de Cristo transpassado na cruz é fonte de amor perene. Sempre nele podemos mergulhar nossas vidas. Nele os pobres podem mergulhar suas necessidades; os tristes, suas tristezas; os pecadores, seus pecados; os fracos, suas fraquezas; os doentes, suas doenças; os desesperados, a sua esperança. A Paixão de Jesus é a proclamação solene da loucura do amor de Deus pela humanidade. Ele é a própria manifestação do amor de Deus, como diz São João: 
Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu filho único, para que todo o que nele acredite não morra, mas tenha vida eterna. De fato, Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele (Jo 3,16). 
O significado bíblico da Redenção é muito profundo. Não é simplesmente uma expiação de pecado. Mas como bem define Hitz (2007, p. 156), a “redenção é essencialmente e radicalmente aquela maravilhosa e milagrosa intervenção de Deus, que liberta os seres humanos decaídos da escravidão e da condenação para introduzi-lo em seu reino”. 
A Paixão e Morte de Cristo proporcionaram a justificação do homem. Diz o apóstolo Paulo: “visto que todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus – e são justificados gratuitamente, por sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo” (Rm 3,23). 
A Paixão de Cristo trouxe para o homem a libertação dos seus pecados (cf. Cl 1,14). Como bem disse São Cirilo de Jerusalém (In: LITURGIA DAS HORAS, v. III, 1995, p. 136) em uma de suas catequeses, “a glória da cruz encheu de luz os que estavam cegos pela ignorância, libertou os cativos do pecado, remiu o universo inteiro”. 
Segundo Santo Tomás de Aquino (1995) tudo o que Jesus assumiu da natureza humana foi para a nossa salvação, reconciliação e purificação dos nossos pecados. Ao pagar o preço pelos nossos pecados pelo derramamento do seu sangue (cf. At 20,28), Jesus oferece todas as possibilidades para que possamos viver santamente, pois como disse o papa São Leão Magno (In: LITURGIA DAS HORAS, v. II, 1995, p. 322), a cruz de Jesus “é fonte de todas as bênçãos e origem de todas as graças. Por ela, os que crêem recebem na sua fraqueza a força, na humilhação, a glória, na morte, a vida”. 
Jesus foi o grande dom do Pai (entregou=edoken) para que nós reencontrássemos uma vida repleta de felicidade. Neste sentido, a Cruz de Cristo não pode ser compreendida somente a partir de uma visão pessimista da dor e do sofrimento. A partir de uma visão positiva descobrimos que há uma beleza na Cruz de Cristo. Nela, a vida e a alegria se manifestam abundantemente. 
Para quem sente com o espírito de Jesus Cristo, a cruz é alegre porque é redentora e porque para ele é caminho não de morte mas de vida. Não apenas de uma vida ultra-terrena, no mais além, mas desta vida presente, na qual o homem tem as suas ocupações diárias e a sua tarefa, onde se forja a futura. E é precisamente no sereno optimismo com que o cristão encara a dor quando ela se apresenta – ou quando a procura, mas sem retorcer a sua alma – que se encontra o ponto de apoio que dá segurança à sua vida terrena e sabor sobrenatural às coisas deste mundo (AYALA, In: RÉGAMEY, 1959, p. 19). 
Jesus, como diz o autor da Carta aos Hebreus, “levado à perfeição, se tornou para todos os que lhe obedecem princípio de salvação eterna” (5,9). Não há outro meio de encontrar a salvação e a santidade a não ser em Jesus. “Assim, todas as graças de santidade, de redenção, de salvação das quais tiramos proveito agora e doravante, inclusive na vida eterna, tudo isso nos é dado em nossa união com o Corpo glorificado de Cristo” (HITZ, 2007, p. 185).
Pela árvore da Cruz, Jesus nos abre novamente as portas do céu fechadas por Adão e Eva e nos introduz na vida divina. Magistralmente disse Forte: 
A cruz é a expressão finita, no sinal do contrário, do acontecimento da vida infinita que se desenvolve no seio de Deus: por isso ela é a humilde porta que abre aos homens o mundo de Deus, é a Porta dos Humildes, que desvela, ao que se faz pobre, os mistérios das fontes ternas (FORTE, 1985, p. 289-290). 
Ao oferecer sua vida na cruz, Jesus nos devolve a esperança e nos reconcilia com Deus. Recorda-nos o apóstolo dos gentios: 
Lembrai-vos de que naquele tempo estáveis sem Cristo, excluídos da cidadania de Israel e estranhos às alianças da Promessa, sem esperança e sem Deus no mundo! Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que outrora estáveis longe, fostes trazidos para perto, pelo sangue de Cristo (Ef 1,12-13). 
A Paixão de Cristo aproxima o homem de Deus e o interpela a se afastar do pecado. Uma vez que o homem foi justificado, abrem-se todas as possibilidades para que ele possa viver segundo a prática das virtudes. Deus já lhe deu gratuitamente a salvação. No entanto, ela precisa ser assumida pelo homem. Deus não pode salvar se o homem não se abre para acolher a sua graça.
Para que a ação salvífica de Cristo na cruz seja eficaz na nossa vida exige que estejamos dispostos a fazer o processo de “interiorização da Redenção”. Fazer esse processo de interiorização da Redenção significa realizar a redenção em nós mesmos, procurando imitar os exemplos do Redentor. Esse processo de interiorização chegará ao término quando cada um puder dizer como o apóstolo Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20).


Nenhum comentário:

Piso salarial do professor: saiba quem tem direito ao reajuste nacional

  Presidente Jair Bolsonaro divulgou na tarde de hoje (27) um reajuste de cerca de 33% no piso salarial do professor de educação básica; con...