sexta-feira, 29 de julho de 2011

Construtora dos banheiros pertence a taxista

No mesmo escândalo em que uma associação cultural foi contratada para construir banheiros, O POVO descobre que um taxista e uma dona de casa são os proprietários da Construtora. No endereço registrado na Junta Comercial, a empreiteira só funcionou até 2004



Sala onde funcionaria a construtora, no Monte Castelo: vizinhos e administrador do prédio dizem que empresa saiu do local em 2004 (FOTO DEMITRI TÚLIO)Sala onde funcionaria a construtora, no Monte Castelo: vizinhos e administrador do prédio dizem que empresa saiu do local em 2004 (FOTO DEMITRI TÚLIO)

A Construtora Dourado Ltda, contratada pela presidente da Associação Cultural de Pindoretama, Renata Pinheiro Guerra, para construção de 200 kits sanitários naquela cidade, tem indícios de ser uma empresa de fachada. A empresa utiliza no contrato um endereço em Fortaleza, no bairro Monte Castelo, onde não há nada em funcionamento. Os dois proprietários são, na verdade, o taxista Joscélio Oliveira Dourado e a dona de casa Fátima Rejane de Queiroz Dourado. Hoje pela manhã, eles irão depor na Procuradoria dos Crimes contra a Administração Pública (Procap), do Ministério Público Estadual.

Ontem pela manhã, O POVO visitou os locais citados em recibos apresentados por Renata relacionados ao convênio da Associação com a Secretaria das Cidades, que deram início ao escândalo dos banheiros. A reportagem confirmou com vizinhos e com o administrador do edifício comercial que, desde 2004, a construtora não funciona mais no endereço registrado na Junta Comercial do Estado. Consta na documentação da Construtora Dourado que ela funcionaria na avenida Sargento Hermínio, nº 2.148, sala 202. Lá, o que se pode ver é uma sala totalmente vazia, de aproximadamente 25 metros quadrados.

“Estou aqui há seis meses e nunca vi nada funcionando aí”, diz uma funcionária de um escritório de representação na sala ao lado. Uma zeladora, que trabalha no prédio há um ano e dois meses também diz nunca ter visto atividade de uma construtora na sala 202. “Eles saíram daqui em agosto de 2004”, afirmou o responsável pela administração do prédio.

Também não há construtora no endereço dado como residencial pelo casal, no bairro Vila União. No imóvel mora uma família, que está lá há quatro anos. Vizinhos da casa apontada, que vivem ali há mais de 10 anos, nunca ouviram falar nos donos da construtora.

O POVO localizou Fátima Rejane em um terceiro endereço, no bairro Carlito Pamplona. Na rua Cruzeiro do Sul, em uma casa modesta, a sócia-proprietária da Construtora Dourado chegou a atender os repórteres, mas repetiu duas vezes que não tinha “nada a declarar” sobre a empresa. Um vizinho, que estava no momento, se admirou ao ouvir as perguntas, sobre a possibilidade de ela ser dona da empresa. “Construtora?!”, surpreendeu-se.

O sócio majoritário, Joscélio Dourado, não foi localizado em nenhum dos endereços. Seu nome consta na lista de condutores auxiliares do serviço de táxi (rendeiro) da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), cadastrado desde 21 de junho de 2006.

O POVO apurou que apenas duas notas fiscais de serviço foram utilizadas pela construtora. Seriam datadas apenas do ano de 2006. Foi a documentação que Renata Pinheiro Guerra apresentou como prova da execução da obra dos banheiros.

Como

ENTENDA A NOTÍCIA

O POVO conferiu três endereços, onde seria possível encontrar os proprietários e a sede da Construtora Dourado Ltda. Em nenhum havia indicação de funcionamento da empresa que teria feito os banheiros em Pindoretama.

SAIBA MAIS

No 14 de junho último, O POVO publica que Associação Cultural de Pindoretama recebeu R$ 400 mil da Secretaria das Cidades para a Construção de 200 kits sanitários. Mas terminado o prazo de construção, não se sabe onde estão as obras.

O jornal revelou, com exclusividade, que Renata Pinheiro Guerra, presidente da Associação, trabalhava no cerimonial do Tribunal de Contas do Estado e, em 2010, fez doações acima do permitido para a campanha do deputado Téo Menezes (PSDB).

Em depoimento ao Ministério Público, Renata Guerra admitiu não ter feito os banheiros. Ela alegou não ter conseguido mobilizar mão de obra e disse que as chuvas atrapalharam os trabalhos.

Fonte: O povo

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