Dia desses, sucumbi ao delicioso cheirinho
que sai daqueles fornos de padaria e saí de casa para comprar um franguinho
assado, pois ninguém é de ferro. Comidinha simples, arroz feijão, saladinha de
rúcula e o franguinho fizeram parte de um maravilhoso dia em família. Mas,
quando chego em casa vejo, estupefata, que não paguei o frango. Não é a
primeira vez que isso acontece. Aliás, ultimamente minha memória está mais
falha do que atendimento de call-center.
Não voltei para pagar o frango, já era tarde e certamente o
estabelecimento já estava fechado. Porém, assim que tive a oportunidade dois
dias depois, voltei e restituí o valor daquela delícia da gastronomia
popular, a quem era de direito. Comigo não seria diferente, aprendi que o crime
não compensa, mesmo que aparentemente inocente, minha consciência não permite
mais deixar passar um episódio como esse sem me apontar.
Um amigo me contou que há um tempo atrás que apareceu um valor
substancial na conta corrente da sua esposa. Ela por sua vez foi à gerência do
banco, alertou sobre o caso e como o dinheiro não era seu, exigiu que a quantia
fosse devolvida ao verdadeiro dono. Assim fez o banco. Quando conto as pessoas
essa história, entre outras minhas de retornar e devolver dinheiro, um troco
que me foi dado a mais, muitas pessoas ficam surpresas e até indignadas! Essa
inversão dos valores é algo tão comum no dia a dia das pessoas que fazer aquilo
que é correto causa espanto. Então, ou você é um bobo ou alguém que quer
consertar o mundo. Fico com a segunda opção, porém a primeira mudança a ser
feita é no meu mundo.
Basta estar numa fila ou numa ante-sala de atendimento médico que
quando se toca no assunto corrupção as pessoas começam a se alvoroçar. Tudo é
culpa do governo, da polícia, do médico que não quer atender , do professor que
faz corpo mole. Mas, na verdade a grande maioria não faz o mea culpa e atenta
para o seu erro. O povo brasileiro tem a cultura da corrupção entranhada nas
veias. Falo de nós mesmo, pois é aqui que esse calo nos aperta.
O primeiro a saquear os cofres públicos é o próprio povo. O
pequeno comerciante que não retira nota fiscal. O trabalhador que troca seus
vales alimentação e transporte por dinheiro. O motorista que paga propina para
o guarda relevar suas dívidas. Quem percebe que recebeu o troco a mais e não
devolve. Algumas dessas práticas nem são constituídas como delito, mas são
condutas que geram a cultura do “jeitinho”, do mais “esperto que leva a
melhor”, que na verdade são as afirmativas ilusórias, pois só ajudam a girar a
roda para o mesmo lado de sempre. Mas quem nunca cometeu uma pequena falta? Não
sou um baluarte da moral e da ética, mas quero somente ressaltar que o problema
maior é que se não mudarmos primeiro o nosso mundo, dificilmente viveremos o
mundo que nós queremos. Por isso, entra ano e sai ano e as notícias de
corrupção em todos os setores da sociedade cada vez são maiores. O político que
recebe da empreiteira um agrado pela força na licitação, já foi um cidadão
comum que provavelmente cometeu uma pequena sonegação nos impostos, entre
outras práticas comuns nesse nossos Brasil varonil. O ser humano já nasce
naturalmente com a tendência ao erro, mas também é condicionado pelo meio em
que vive.
Seria muito bom que, diante de tudo que temos visto
diariamente através dos meios de comunicação, nos tirasse da acomodação e
fizesse crescer um movimento contrário a corrupção. O pessoal faz tantas
marchas em prol de seus ideais, mas nenhum movimento contra a corrupção se
levanta. Será porque, de certa forma nos sentimos coniventes com a com a
“corrupção nossa de cada dia”?
Aline Cleo Rodrigues
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